quarta-feira, 25 de maio de 2011

FIM DE JOGO.

O sistema de segurança pública assemelha-se a um campeonato de futebol. Ambos envolvem bastante dinheiro, geram muita repercussão na mídia, constituem motivos de fervorosas discussões cotidianas e são examinados por meio de demasiadas estatísticas. Por isso, faço uma análise metafórica sobre esses temas.

Os nossos estádios (comunidades) são bastante precários, mas palco de grandes espetáculos(crimes e prisões). Nosso campeonato tem vários times(Polícia Federal, Polícia Militar, Polícia Civil, Agentes Penitenciários, Guardas-Municipais, baderneiros, trombadinhas, bandidos pé-de-chinelo, traficantes, assaltantes, corja do colarinho branco etc) os quais disputam ferrenhamente jogos memoráveis.

A torcida(sociedade) se divide nessa contenda, ora exaltando um time, ora esculachando outro e vice–versa. Já os ambulantes(imprensa) não querem nem saber qual time está ganhando, a única intenção deles é vender os seus produtos. E os comentaristas?(sociólogos, criminólogos e psicólogos). Esses adoram dar pitaco durante as partidas, mas via de regra nunca entraram em campo.

Não poderia me esquecer do trio de arbitragem(Juiz, Promotor e Corregedor), sempre cuidadosos em fazer cumprir as regras do jogo(leis), todavia, amiúde erram em lances decisivos da partida.

Eu jogo no time da Polícia Militar. Nossa escalação é mais ou menos assim:

- No gol está a sentinela ou o rádio-operador: guardiões de nossas redes(quartéis), fazem de tudo um pouco e quando o time perde é um dos mais questionados pela torcida.

- Na zaga aparecem as equipes preventivas (GEPAR, PROERD, PATRULHA ESCOLAR): cuja missão é neutralizar o ataque dos adversários.

- O meio-campo é o COPOM: ligam todos os setores do time, cuidando do entrosamento dos jogadores durante as partidas.

- Nas laterais temos as Viaturas de Área: correm o campo todo feito loucos para suprir a demanda do goleiro, da defesa, do meio-de-campo e do ataque.

- No ataque estão ROTAM, GATE, GER, TÁTICO MÓVEL: bola na área (perigo iminente) é com eles. Com habilidade inigualável fazem o gol (prendem bandido). O time adversário treme diante de nossos goleadores.

Nossa comissão técnica (administração) costuma ter mais gente do que o plantel que entra em campo. De fato ali tem excelentes profissionais, cujo trabalho é o suporte para aqueles que disputam as partidas.

Por outro lado, na nossa equipe também tem profissionais que nós só sabemos que é do nosso time por causa do uniforme que vestem. Do contrário, passariam despercebidos como meros torcedores.

O nosso treinador (comandante) trabalha sob pressão. Se o time perder muito ele é o primeiro a cair. A presidência do nosso time (governo) disse que vai investir na equipe (comprar mais equipamentos, melhorar salários), o que aguardamos ansiosamente.

Que me desculpem os demais times, mas a minha equipe possui a maior torcida. Talvez seja porque somos nós que mais entramos em campo, porque nós temos mais raça, ou porque nós ganhamos mais jogos. De vez em quando até substituímos alguma equipe que se nega a disputar uma partida. Deve ser por isso que a nossa torcida é mais exigente, mais apaixonada e mais crítica, pois ela sabe que não consegue viver sem o time da Polícia Militar.

Historicamente, temos ganhado muitas partidas contra os times de trombadinhas, baderneiros, traficantes e assaltantes. Entretanto, dificilmente ganhamos um clássico (contra o time do colarinho branco). Ouso desconfiar que esse poderoso clube possua alguma influência junto ao trio de arbitragem. Alguns times desse campeonato (Polícia Civil, Polícia Federal etc) nem deveriam jogar contra nós, mas campeonato é assim mesmo: toda equipe quer estar em destaque, mesmo não havendo muita rivalidade entre os contendores.

Escrevo este texto ao final de mais um jogo. Hoje perdemos de goleada(dois assaltos, um estupro, um homicídio e ninguém foi preso). Agora, temos que levantar a cabeça, agradecer a Deus por ainda estarmos vivos na competição, trabalhar forte nos treinamentos e buscar o resultado positivo na próxima partida.

É desse jeito! A segurança pública é um campeonato infinito e de pontos corridos. Basta uma vitória simples na rodada seguinte e voltaremos para a ponta da tabela.

Texto escrito por Nivaldo de Carvalho Júnior, 2º Sgt, zagueiro do time da PMMG e bacharelando em Direito pelo Centro Universitário de Sete Lagoas

Fonte: Universo Policial

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