O silêncio de todos, ao ser franqueada a palavra, geralmente indica uma das seguintes situações: ou intolerância extrema, ao ponto da antipatia desestimular qualquer tentativa de diálogo, ou então incredulidade plena, fazendo com que seja julgada vã a possibilidade de argumentar. Isso é um problema recorrente da gestão de grupos e deve ser remediado.
Nos meios militares, infelizmente há por tradição o mau hábito de ouvir pouco os subordinados, lhes sendo negada por vezes a possibilidade de ponderar disciplinadamente sobre determinado assunto. A doutrina de combate realmente requer obediência imediata, no campo de batalha o proceder é um, mas na rotina administrativa ou nas atividades corriqueiras o modo de agir deve necessariamente ser outro, baseado em um modelo participativo.
Talvez por essa falha, perpetuada por extenso período, é que hoje alguns não saibam aproveitar bem a oportunidade de se expressar, o fazendo de modo indevido. Tanto tempo sob a lei da mordaça leva os oprimidos a bradar desesperadamente, quando poderiam simplesmente praticar uma conversação polida.
Aquele que sempre foi subjugado pelos superiores acaba passando a enxergar todos os demais como uma ameaça em potencial, pela semelhança aparente, sem, contudo, considerar as diferenças de conteúdo. Dessa forma, acaba agindo com agressividade como autodefesa, sem perceber que talvez não haja ameaça de ouvir um súbito “Cessa!” ou “Negado!” inoportuno e desnecessário.
Ao superior, cabe encarar o desafio de tornar-se líder sendo assessorado pela equipe, escutando os demais enquanto integrantes de um todo, e ao subordinado compete palpitar sempre que conveniente e questionar de modo disciplinado, tendo direito a explicações claras e francas. Parece difícil, não é um costume comum em muitos quartéis, mas faria muito bem à humanização do tratamento das pessoas e fomento à moralidade da administração pública.
Fonte: Abordagem Policial (Victor Fonseca)
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