quinta-feira, 25 de agosto de 2011

FÓRUM ESTÁ SEM SEGURANÇA.

Detectores de metais e câmaras de segurança do Gumersindo Bessa estão sem funcionar, deixando juízes e promotores vulneráveis

Homem entra e sai com dois capacetes: detector de metais silencia (Fotos: Cássia Santana / Portal Infonet)

Os detectores de metais e as câmaras de segurança instalados no Fórum Gumersindo Bessa, em Aracaju, pararam de funcionar. O Portal Infonet visitou as instalações do Gumersindo no final da manhã desta quarta-feira, 24, e constatou que as pessoas passam com tranquilidade pelas barreiras que deveriam funcionar como alerta contra aqueles que ingressam no Fórum portando algum equipamento metálico.

A reportagem do Portal Infonet entrou nas instalações do Fórum com dois equipamentos fotográficos, sombrinha, suporte de mesa para bolsa, aparelho de telefonia móvel, HD externo, chaves em chaveiro metálico, além de várias moedas de valores diversificados, objetos que estavam guardados na bolsa da repórter. A reportagem passou vezes seguidas entre os detectores e, em nenhum momento, o alarme foi acionado, apesar dos objetos de metal que poderiam ser facilmente percebidos na bolsa da repórter.

A equipe de reportagem do Portal Infonet apenas se identificou, apresentado documento de identidade comum, na recepção do Gumersindo e, ao receber o crachá de visitante, percorreu todos os corredores e vários compartimentos onde estão instaladas as salas de audiências de diferentes varas criminais daquele Fórum e ainda entrou no auditório da 6ª Vara Militar, sem ser interceptada.

Surpresa e preocupação

Nas instalações do Fórum, a reportagem conversou com serventuários, juízes e promotores. Poucos sabiam que os detectores e câmaras de segurança estavam sem funcionar. Na primeira abordagem, o promotor de justiça Elias Pinho, por exemplo, não hesitou em responder: “claro que me sinto seguro aqui dentro”.

Porém, mudou de ideia ao surpreender-se com a informação de que os detectores de metais não alarmaram no momento em que a repórter entrou com todos aqueles objetos guardados na bolsa. “Diante desta sua observação, já não me sinto mais seguro aqui”, confessou. “Há uma necessidade de uma guarda específica do Poder Judiciário e do Ministério Público, principalmente para proteger aqueles que atuam na área criminal”, opina Elias Pinho.

A juíza Soraya Gonçalves de Melo, da 8ª Vara Criminal, também tomou susto quando ouviu o relato da reportagem do Portal Infonet. “Não tinha conhecimento disso. Fiquei surpresa”, observou. Ela, particularmente, diz que é dotada de coragem exemplar, uma particularidade de sua personalidade enquanto pessoa humana. “Mas o medo é algo que varia de pessoa para pessoa e sinto que há pessoas que trabalham amedrontadas”, comentou.

Outros funcionários do Poder Judiciário e também do Ministério Público fizeram observações semelhantes, mas preferiram não se identificar para a reportagem do Portal Infonet. Servidores do Poder Judiciário garantem que os detectores de metais e as câmaras de segurança já estão sem funcionamento há algum tempo. “São meros elefantes brancos”, informou o serventuário, que prefere o anonimato.

Para um outro promotor de justiça, que também preferiu o anonimato, a estrutura do sistema de segurança do Poder Judiciário é completamente deficiente e não apenas no Fórum Gumersindo Bessa. “É em todo o Estado, na capital e no interior”, observa o promotor, lembrando o assassinato do promotor Valdir Freitas ocorrido em março de 1998 na cidade de Cedro de São João quando fazia um cooper rotineiro. “O sistema de câmara e os detectores de metais não funcionam? Nossa. É bom lembrar que já teve preso que conseguiu fugir daqui em um carro de uma juíza”, lembrou, novamente.

O promotor em questão fez referência à espetacular fuga dos detentos Cléverton da Silva Lima, vulgo Clebinho, Roberto Moura e José Márci dos Santos, ocorrida no dia 24 de outubro de 2005. Naquele dia, estes detentos conseguiram escapar da sala de audiência e tiveram acesso ao estacionamento privativo do Fórum e conseguiram fugir no veículo da magistrada Bethzamara Rocha Macedo, que atuava à época na 15ª Vara Cível: um Ford Ranger de cor prata e placa policial HZZ-9055.

No dia de hoje (24 de agosto de 2011), os seguranças do Tribunal de Justiça só perceberam a presença do Portal Infonet quando a repórter começou a fazer fotografias da parte externa do Fórum Gumersindo Bessa, flagrando pessoas com bolsas e até com capacete que entraram e saíram do Fórum com estes equipamentos sem serem importunadas. Os detectores ficaram silenciosos nas oportunidades em que dois homens, um deles até o capacete ainda na cabeça, tiveram acesso ao Fórum com os respectivos equipamentos de segurança utilizados obrigatoriamente por motoqueiros.

Um dos policiais veio ao encontro da reportagem e, educadamente, perguntou do que se tratava e, quando a equipe se identificou, o policial compreendeu que se tratava de jornalista exercendo a atividade profissional, sem saber, no entanto, qual seria a temática da reportagem que estava sendo produzida naquele momento.

Interligando complexos

A reportagem do Portal Infonet conversou ao telefone com o diretor de segurança do Tribunal de Justiça, delegado de Polícia Júlio Flávio Leite Prado. Ele preferiu não comentar nada sobre a questão das câmaras de segurança e dos detectores de metais do Gumersindo Bessa, informando que estaria em viagem e que só estaria à disposição da reportagem na manhã da quinta-feira, 25, para apresentar todo o projeto de segurança eletrônica por ele idealizado que interligará todo o complexo do Poder Judiciário sergipano, que aglutina 89 prédios. “Estou em viagem e este assunto deve ser tratado amanhã (quinta-feira, 25) quando retornar. É um assunto que temos interesse em divulgar”, enalteceu o delegado.

Segurança do Fórum é questionada

Este programa ao qual o delegado Júlio Flávio se refere foi apresentado em outubro do ano passado, cerca de dois meses depois que o desembargador Luiz Mendonça sofreu um atentado em uma das mais movimentadas ruas de Aracaju, numa rótula da avenida Beira Mar, localizada nas proximidades do Shopping Riomar. O episódio aconteceu no dia 18 de agosto. Neste atentado, o Cabo Jailton Batista Pereira, o motorista do veículo que transportava o desembargador, foi baleado e permanece em estado vegetativo.

Na época em que lançou o plano de segurança, o próprio Tribunal de Justiça o classificou como “uma ferramenta essencial para a plena realização da Justiça”, conforme matéria jornalística postada no próprio site do TJ de Sergipe no dia 6 de outubro do ano passado, destacando que a implantação de um eficiente sistema de segurança eletrônica em todos os prédios que compõem o Poder Judiciário em Sergipe seria “uma das principais prioridades do projeto articulado para resguardar as atividades administrativas do Poder Judiciário Sergipano”.

O delegado Júlio Flávio não precisou data para colocar em operação, mas garante que a implantação está em fase de licitação. “Estamos em pleno processo de licitação”, resumiu.

Fonte: Infonet (Cássia Santana)

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