A imprensa divulgou que a munição utilizada para executar a Juíza Patrícia Acioli é oriunda de um lote adquirido pela Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ). Por si, a notícia já caracteriza um absurdo, ter uma agente do Estado que cumpria seu dever sendo morta com instrumentos do próprio Estado, que deveriam servir justamente para garantir sua ação legal e legítima. Está exposta, assim, mais uma das contradições cotidianas na cambaleante segurança pública brasileira – que possui variações locais, mas sempre com gêneses e efeitos semelhantes.
Os motivos pelos quais os estojos de munição da PMERJ foram encontrados na cena do crime, só (talvez) a investigação dirá, porém, vamos aproveitar este caso para criticar uma possibilidade, que é a astuciosa (e criminosa) prática de permuta de munição por policiais em serviço. Explico.
É sabido por todos os policiais minimamente instruídos sobre armamento e tiro que as munições “originais”, aquelas compradas diretamente na fábrica, no caso em tela, na Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC), possuem qualidade superior a, por exemplo, munições recarregadas – geralmente utilizadas para treinamento em stands de tiro – e até mesmo a munições originais, mas já há muito tempo estocadas.
Nas polícias, ou em unidades militares, dificilmente se conseguirá “perder” involuntariamente material bélico, salvo em roubos ou furtos facilmente detectados (mesmo que não se descubra a autoria). O controle, através de livros de parte e cautelas assinadas pelos policiais que fazem a carga momentânea do armamento, é relativamente rigoroso. Mas para detectar se cada cartucho devolvido é ou não o que foi entregue ao policial no início do serviço, aí são outros quinhentos.
É possível que a origem da munição que vitimou a Juíza Patrícia Acioli tenha sido esta permuta ilegal de cartuchos, e o policial, ou um seu comparsa, tenha ignorado que estava utilizando material bélico oriundo do Estado. Ou não. Outras tantas possibilidades existem, ficando a cargo das investigações o detalhamento. O certo é que esta “troca” de munições, às vezes feita com o objetivo de usar os cartuchos até mesmo de forma legal, em armamento devidamente registrado, pode ter consequências devastadoras à carreira do policial “esperto”. Evitar esta prática é um desafio, e uma necessidade, para as polícias.
Fonte: Abordagem Policial (Danillo Ferreira)
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