Se existe uma coisa que não combina com ganho de capital político-eleitoral imediato é a educação. Os frutos enxergados pelos governantes que se interessam em se (re)eleger dificilmente amadurecerão em tempo hábil se o investimento público for aplicado nesta área. A cada dois anos as políticas públicas no Brasil precisam ser direcionadas aos pleitos eleitorais, e ganha aquela que gerar visibilidade, embuste, marketing, votos. Investir em educação, então, não é uma boa política eleitoral, embora seja a principal política social de uma Nação.
Na segurança pública não é diferente: as academias de polícia (civis e militares, de todas as graduações e postos) dificilmente estão aptas à formação que se propõem: com recursos logísticos mínimos, estrutura física defasada e carências diversas, a maioria das escolas de formação trabalham improvisadamente. Geralmente, a ideia é fingir que se educa o futuro profissional de segurança pública, para, pelo menos, evitar o escândalo que é a inércia frente à necessidade de ter homens e mulheres aptos a lidar com direitos fundamentais nas ruas.
Em recente matéria, por exemplo, o R7 denunciou as deficiências do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (CFAP) da PMERJ, onde estão sendo treinados os policiais que atuarão em Unidades de Polícia Pacificadora (UPP’s), grande vitrine do governo carioca:
Os futuros policiais militares que devem integrar a UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) do Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, em março de 2012, reclamam que têm poucas aulas de tiros e de abordagem policial durante o curso de formação de soldados.
Os alunos do CFAP (Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças), a principal porta de entrada da Polícia Militar, relatam ainda atrasos no recebimento dos uniformes e problemas na alimentação e acomodação oferecidas na unidade.
De acordo com o regulamento da PM, os alunos do CFAP devem fazer 330 disparos com diversas armas, como fuzil, pistola calibre 40 e revólver 38, durante os seis meses de curso. No entanto, um recruta, que não quis se identificar por medo de represálias, conta que só deu 70 tiros, apenas 21% do que o treinamento exige, em cinco meses de aula.
O estado das escolas de formação são um eficiente diagnóstico da situação geral em que se encontra a corporação policial, assim como a educação de um país espelha sua competência em outras áreas. Muitas polícias ainda estão no patamar de tentar tornar suas academias ambientes dignos, estruturados, confortáveis, para só então se pensar em reestruturação doutrinária e cultural. Impossível convencer em ambientes insalubres, indignos, profissionais de segurança pública dos conceitos complexos que envolvem o trato com o direito do cidadão.
O pior é que, no fim das contas, o maior prejudicado com esta omissão governamental é o próprio policial, que muitas vezes é posto na condição de amadorismo e inaptidão técnica. Lhe restam duas opções: se manter no semiprofissionalismo, correndo o risco de morrer ou matar injustamente por isso, ou lançar mão de meios próprios para complementar a rasura de sua formação, comprometendo seu já comprometido salário.
Fonte: Abordagem Policial (Danillo Ferreira)
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