"Quem o impede de tomar as decisões? É o governador?", indaga, lamentando a criminalidade
Samuel: preocupação com a insegurança
Técnico na área de Segurança Pública, deputado estadual com 43.370 mil votos e aliado do governador Marcelo Déda (PT). Com este perfil, e ainda o fato de pagar impostos, como todo cidadão de bem, o Capitão da Polícia Militar Samuel Alves Barreto sente na pele a responsabilidade e a obrigação de cobrar uma melhor segurança para os sergipanos. O parlamentar analisa, nesta entrevista que concedeu ao portal Universo Político.com, os dados que fizeram a segurança desandar, sobretudo, nos últimos meses, e chega à conclusão de algo preocupante, em se tratando de uma área que constitucionalmente tem a finalidade de resguardar, entre outras coisas, a vida: falta planejamento à Secretaria de Estado da Segurança Pública de Sergipe (SSP). E o pior: "Todas as vezes que eu converso com o doutor João Eloy (secretário), ele concorda com a maioria dos meus pensamentos, mas, se não está colocando-os em prática, quem é o culpado? Quem tem que dizer é ele. Quem o impede de tomar as decisões? É o governador? É a falta de recursos? Ele tem que falar que se preocupa, mas não pode fazer o planejamento porque não tem dinheiro, porque fulano não deixa, beltrano não deixa", cobra o parlamentar. A entrevista:
Universo Político.com - O senhor tem dito que o crescimento da violência em Sergipe, sobretudo nos últimos meses, é explicado pela falta de planejamento. Há também policiais fazendo boicote?
Capitão Samuel- Nós temos que dá um exemplo: o Pelotão Ambiental da Polícia Militar. Um dos grandes problemas da capital é poluição sonora. O Pelotão Ambiental recebeu uma notificação, agora, e tem 20 dias para sair do local onde estão trabalhando, onde guardam sons apreendidos, onde fazem o termo circunstanciado para mandar à Justiça, e não se tem um local para colocar o pelotão. Quando eu digo que falta planejamento, um dos motivos é esse. Nós temos um planejamento de dois anos atrás que o Pelotão Ambiental iria funcionar no antigo to-tó-tó, na balsa, e onde está o planejamento para botar o Pelotão ambiental ali? Realmente, falta planejamento. Se você me perguntar se nós estamos com o efetivo da polícia, realmente, trabalhando, estão sim. Mas estamos com o efetivo de 1990. Se for pegar a população de 1990, passávamos de 1,5 milhão de habitantes. Hoje, estamos com uma população de 2,5 mil pessoas com o mesmo efetivo de 1990, sem contar com o aumento do poder aquisitivo das pessoas, que o País perdeu muito em pobreza, e quando se melhora a condição econômica das pessoas, mais gente passa a ser fragilizada na questão de assaltos. Também houve o aumento absurdo, de 1990 para cá, do uso de entorpecentes, drogas novas que surgiram e geram muitos assaltos e roubos. Percebe-se claramente o que está acontecendo. Não é questão de boicote. Em 1990 se falava em maconha, quando muito em cocaína. Hoje, estamos no ano de 2011. Temos 700 mil habitantes a mais no estado. Além disso, entraram o crack e o óxi que estão destruindo a nossa sociedade. Temos a mudança cultural da sociedade que aconteceu com o desenvolvimento da Internet. É um avanço muito grande. Só que a instituição Segurança Pública do nosso Estado não se preparou para isso. Pelo contrário: já tivemos policiamento comunitário que ficava tomando conta do bairro e dos moradores e, hoje, não existe mais. Então, o que se tem é uma reduzida quantidade do efetivo e, quando se tem algo como teve em Itabaiana (uma operação policial), vamos tapar o buraco: manda todo mundo para lá. Mas quando todo mundo foi para lá desfalcou a Grande Aracaju. Aí os assaltos aumentaram no Jardim, no Santa Maria, no Parque dos Faróis... Isso é bater cabeça. Eu não vou culpar João Eloy porque essa falta de planejamento na segurança já vem de muitos anos, e ele já pegou pelo meio. Infelizmente, ele está tentando, mas não está conseguindo este planejamento. A razão, todavia, só ele tem que responder por que não consegue avanço. Eu já dei várias ideias de aumentar a quantidade de policiais nas ruas. Mesmo sem ter dinheiro para fazer concurso público, tem-se como aumentar o efetivo. Só para você ter ideia, tem uma licitação feita pelo Estado para vigilante de sistema prisional nos quartéis da Polícia Civil. Só com isso se aumentaria nas ruas 120 homens. Se pegar o pessoal da reserva e trazer, já se aumenta em 300 ou 400 homens. Se contratar soldados temporários e distribuí-los na polícia e no setor administrativo, você joga 200 homens para as ruas. Agora, eu falo o que o parlamentar tem que falar. Minha caneta é vazia, mas vou continuar falando a verdade. O correto é concurso público, mas é possível melhorar a segurança sem fazer concurso público. Agora é preciso sentar e botar no papel o que a gente quer. Qual a segurança que nós queremos agora em dezembro, para o São João, daqui a cinco anos... Tem que ter no papel quantos homens da Polícia Civil e da Polícia Militar vão se aposentar até o final do ano que vem. Quando teremos concurso? Quem vai se aposentar? Isso é planejamento. É isso que eu queria muito que a Secretaria de Segurança sentasse e conversasse. Não precisa chamar o Capitão Samuel que é político. Mas sentem e conversem. Parece que ninguém está sabendo para onde correr na Segurança Pública. E o pior: ninguém está sabendo sentar para dizer à população que vai começar a rever. O secretário esteve na primeira audiência da Assembleia Legislativa, em Japaratuba. Eu espero que ele também vá à Itabaiana e ao sertão. Já é um passo porque a cúpula da segurança vai ver a população dizendo o que ela passa. Em General Maynard não tem uma viatura. Tem uma Belina para fazer policiamento. Então, querer que os policiais que estão em uma Belina façam alguma coisa e ainda tomar conta dos prédios? A delegada disse que eles têm que tomar conta dos prédios e da Polícia Civil. É por isso que não tem segurança.
U.P.- Deputado, quando o senhor fala que João Eloy não tem culpa, a culpa, então, seria de quem? Acima de João Eloy só mesmo o governador...
C.S.- Todas as vezes que eu converso com o doutor João Eloy ele concorda com a maioria dos meus pensamentos, mas se não está colocando-os em prática, quem é o culpado? Quem tem que dizer é ele. Quem o impede de tomar as decisões? É o governador, o secretário de Administração, o secretário da Fazenda? É a falta de recursos? Então, ele tem que falar que se preocupa, mas não pode fazer o planejamento porque não tem dinheiro, porque fulano não deixa, beltrano não deixa. Agora, o que não dá são pessoas serem mortas, assaltadas... Para essas vidas que estão sendo ceifadas não existe remédio mais não, acabou. Para o sofrimento das famílias não tem mais remédio. Não adianta tentar descobrir que matou. ‘Ah, vamos descobrir quem matou'... Você quer que prendam alguém que matou uma pessoa de sua família ou prefere que evite que ele mate? Essa é a pergunta que se faz. Segurança se faz com planejamento.
U.P.- O governador, que deu um aumento histórico à polícia, falou recentemente, que não usará uma pistola 45 para, pessoalmente, ir atrás de bandido. Neste caso, a culpa pela insegurança não cabe apenas à polícia?
C.S.- Ele, realmente, deu um reajuste e, hoje, a polícia sergipana é a segunda do País mais bem paga. É importante que a gente se empenhe cada dia mais. Agora, os policiais estão trabalhando cada vez mais, inclusive em seus dias de folga. O que vamos querer mais desse pessoal? Se há alguém falhando na estrutura, o capitão, o coronel tem que ir lá ver o que está errado e punir. Falta gestão não só do governo, do secretário, mas do delegado que vê que o policial civil não foi trabalhar no dia e não pune, porque quem não pune quem erra está punindo quem acerta. O serviço público tem que ser repensado. A palavra compromisso não é só para a Segurança Pública, mas deve existir em todo lugar que tem serviço público. Essa palavra (compromisso) está faltando no serviço público como um todo. Temos que fazer uma repactuação em relação ao compromisso que temos com a sociedade. Temos várias estruturas que realmente não funcionam e precisamos rever o que fazer. Mostrar a população a dificuldade e pedir a participação da população porque, segundo a Constituição, é dever do Estado a Segurança Pública, mas é responsabilidade de todos. Todos nós podemos dar uma contribuição. Um pai e uma mãe não tomam conta do seu filho, mas botam a culpa do problema na condição financeira que não existe. Existem outros pais que dão carro a seus filhos de 16 anos para rodar na cidade e outros permitem seus filhos maiores de idade dirigir embriagados, matando gente. Será que o pai ou a mãe não tem responsabilidade para ver a mudança de hábito de seu filho e notar a questão da droga? A Secretaria está fazendo um grande trabalho na prisão de traficantes, mas não adiante. Então, tem que se analisar a segurança como um todo. Dá para fazer? Dá. Não dá apenas para se falar que não vai botar uma 45 na cintura porque não sabe. Eu acho que o governador, com essa frase, foi infeliz. Devia estar em um momento de raiva, e, para desabafar, falou isso. Temos que planejar. Temos mais três anos de mandato do governador Marcelo Déda. Temos mais três anos na Assembleia (Legislativa de Sergipe), e temos que pensar e tentar fazer alguma coisa, porque se a gente lavar as mãos, quem é que vai fazer? Não podemos lavar as mãos porque a população precisa de segurança.
U.P.- Pelo que o senhor coloca, o atual projeto faliu. Tem que ser repensado?
C.S.- Tem que ser repensado. Tem um projeto muito bom do doutor Kércio Pinto (o ex-secretário de Segurança Pública) que é o Centro Integrado de Segurança Pública, que dava vários tamanhos aos prédios. Um lugar pequeno, um prédio pequenininho. Onde está este projeto? Não se fez tantas clínicas de saúde? Se tivéssemos prédios pequenininhos, talvez uma parte da estrutura já estivesse resolvida. Por que não repensar, se não tem delegados em todos os municípios?
U.P.- O senhor disse que pontuou essas ideias para o secretário João Eloy. Já externou também este sentimento para o governador Marcelo Déda?
C.S.- Olha, infelizmente, não fomos recebidos pelo governador. Não tivemos essa oportunidade ainda, mas, com certeza, no dia que eu tiver essa oportunidade, nós vamos passar. Já tentamos por escrito, por e-mails, mas ele é muito ocupado e não teve condições de nos receber ainda.
Fonte: Universo Político (Joedson Telles)
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