Novo "Tolerância Zero" expõe fragilidade da política de relacionamento do Governo estadual com as classes de servidores
Na sexta-feira passada, os policiais militares reunidos em assembleia votaram pelo retorno do movimento “Tolerância Zero”, iniciativa pela qual a categoria conseguiu um grande reajuste financeiro no primeiro mandato do Governo Déda.
Agora, os militares retomam os protestos como forma de pressionar a administração estadual para a definição da Lei Orgânica Básica da corporação e da carga horária de trabalho, da exigência de nível superior para ingresso nas corporações e fornecimento de vale-alimentação ao invés de quentinhas, como é atualmente.
O “Tolerância Zero” é um movimento que mostrou muita força em 2009. Os militares ganharam às ruas em grandes caminhadas e lotaram por diversas vezes a Assembleia Legislativa do Estado. Não é a toa que eles elegeram um dos deputados estaduais mais votados em 2010, o capitão Samuel Alves. No tensionamento com o Governo Déda, a categoria conseguiu o objetivo principal, o reajuste salarial, que fez da PM sergipana uma das mais bem pagas do país.
No entanto, isto não repercutiu de forma positiva para o atual governador, que não teve o apoio eleitoral da categoria no ano passado e se vê hoje novamente pressionado pelos policiais militares, que reclamam de perseguição e de falta de um projeto específico para eles na Segurança Pública.
A nova empreitada dos PMs também volta a ganhar força num momento em que o Governo enfrenta uma grande crise de relacionamento com diversas categorias (professores, servidores da Saúde, funcionários da administração básica) e convive com a insatisfação quase generalizada dos servidores públicos. É algo extremamente negativo para um grupo que enfrentará uma eleição muito disputada em 2012.
De acordo com informações do blog do capitão Mano (www.capitaomano.blogspot.com), os policiais tomarão as seguintes medidas a partir de hoje:
1) Em dia determinado, todos os PMs doarão suas quentinhas a instituições e caridade;
2) Será marcada uma data simbólica onde parentes, amigos e a sociedade civil serão convidados a participar das comemorações de aniversário dos 17 anos sem promoção dos soldados da turma de 1994. Tal evento ocorrerá em frente à Assembleia Legislativa e um bolo de aniversário será servido à população;
3) Caminhadas pontuais serão realizadas com a presença dos militares de folga, utilizando os coletes vermelhos do "Tolerância Zero". Para tais caminhadas serão convocadas lideranças comunitárias, religiosas, membros da comunidade sergipana, de ONGs, familiares e amigos de militares estaduais.
4) Foi firmado o compromisso de que nenhum policial ou bombeiro militar será voluntário para trabalhar em eventos onde os militares sejam pagos com a gratificação específica desta atividade (Grae);
5) A partir de hoje, todos os cabos e soldados solicitando a concessão de três fardamentos novos, conforme o artigo 49 da lei 5.699/05.
Esta nova crise na relação entre Governo e policiais militares prejudica a sociedade e aumenta a insatisfação da população com a Segurança Pública. Num momento em que os índices de violência no Estado ganham voz diariamente na imprensa, o “Tolerância Zero” será um prato cheio para a oposição.
Caberá ao Governo repensar sua forma de se relacionar com as categorias e evitar atitudes como aquelas tomadas diante dos professores no início do ano, quando a discussão sobre o pagamento do piso virou peça publicitária contra a categoria.
Diferentemente do que pensam alguns auxiliares do governador, os comerciais de esclarecimento sobre o pagamento do piso não colocou a sociedade contra a greve dos professores. Ao contrário, expôs a falta de trato do Governo diante de reivindicações legítimas dos servidores. Este, agora, é um bom momento para mudar esta imagem.
Fonte: Infonet (Valter Lima)
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