quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

MASCULINIDADE - REPRESENTAÇÃO SOCIAL, VIOLÊNCIA E PODER.

Masculinidade diz respeito a um conceito que se refere ao conjunto de práticas e ações que são legitimamente reconhecidas e aceitas no universo social como um padrão de comportamento que afirma e realiza um ideal de “masculino”, que representa o “homem” no imaginário cultural coletivo.

Pensar essa masculinidade se tornou um interesse muito grande de diversos estudiosos e curiosos de gênero, na medida em que o sexo masculino seria, no contexto de nossa sociedade ocidental-moderna-sexista, uma síntese histórica dessa construção.

É através da força masculina, traduzida pelo pensamento de virilidade, que se admite o monopólio do uso da força evocado pelo papel social do homem como mantenedor desse status quo, desse modo, o perfil masculino almejado traduz-se com a consolidação do ethos guerreiro que se reflete nessa aptidão “natural” dos meninos para o combate, a luta e as diversas formas de violência – simbólica, psicológica ou física.


R. W. Connel sugere a existência de uma masculinidade hegemônica que se refere a uma espécie de “organização social da masculinidade”. Nesse sentido, o autor celebra uma construção de um padrão que se impõe como dominante num contexto onde o mesmo exerce relações de poder intrínsecas ao seu status, que está calcado no aspecto de gênero. Connel admite que essa construção de gênero é dinâmica e plural, sendo, desse modo, portadora de relações históricas e de contradições internas que abrangem o feminino e o masculino. Entretanto, quando o autor concebe a existência de um padrão hegemônico há que pontuar como essas condutas são estabelecidas e transmitidas através da sociedade.

É importante salientar, contudo, um tipo de fenômeno epidemiológico que atinge o público masculino: as mortes por causas violentas. A violência, nesse caso, é uma realidade que mata mais homens do qualquer doença que conheçamos e suas razões têm motivações sociais, históricas e econômicas. Entender o porquê de essas vítimas serem homens é revelar uma constante em nossa história.

O processo de formação identitária revela uma ansiedade pela necessidade de adequar-se, o que compele os indivíduos a compor rituais, a escolher seus símbolos. Alba Zaluar destaca que dois dos grandes ícones do contexto simbólico masculino infantil são: armas de fogo e automóveis, sendo que assassinatos e acidentes estão entre as principais causa mortis desse público. A autora não pretende com isto estabelecer relações determinísticas, são tentativas de interpretar a realidade em função de alguns valores, destacando que esses são influenciados por classe social, etnia, sexo e gênero.

A concepção acerca da masculinidade não é uma condição natural, nem fixa, nem universal – existem várias percepções que convivem na mesma unidade cultural, resultado de complexas elaborações ideológicas e políticas.

O problema da violência ser “admitida” e “naturalizada” como inerente ao processo de sociabilidade masculina é que essa perspectiva é permissiva com representações de violência como forma de imposição de poder/força. Aceitar a conduta violenta como prática cotidiana, típica, desejável e coerente é como incorporar um traço psicológico de controle e dominação que desenvolve valores torpes de se conceber o social de forma hierarquizada e segregacionista.

*Luciana Prazeres é antropóloga pela Universidade Federal da Bahia e aluna-a-oficial da Polícia Militar da Bahia.

Fonte: Abordagem Policial (Luciana Prazeres)

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