Houve confronto com grevistas quando Exército mudou posição da cerca. Foto: Luciano da Matta | AG. A TARDE
Sem acordo entre o governo e os policiais militares grevistas, o clima é de animosidade nesta quarta-feira (8), nono dia do movimento. Depois de uma terça-feira de esperança de acordo e madrugada de quarta tranquila, o cenário muda na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA) e suas imediações.
O presidente da Associação dos Policiais, Bombeiros e de seus Familiares do Estado da Bahia (Aspra), Marco Prisco, disse que os grevistas se preparam para um embate. "A movimentação está diferente e também estamos nos preparando".
A liberação da entrada de mantimentos e medicamentos para os amotinados, que tinha sido concedida nesta terça, voltou a ser suspensa hjoje. Idaci Vasconcelos, mulher de um PM acampado, tentou levar os remédios para o marido, que é hipertenso e já sofreu dois infartos, mas foi barrada.
No início da manhã desta quarta-feira, 8, o exército voltou a cortar a luz e a água da Assembleia, porém, de acordo com o Tenente Márcio Cunha, chefe da comunicação do exército, qualquer pessoa que está dentro do prédio pode realizar refeições e beber ãgua, basta que saia da assembleia. " O exército não impede ninguém de comer e beber, mas para isso, eles precisam sair da assembleia, e se sairem, não poderão retornar.
A todo momento, chegam mais reforços para as tropas federais. O efetivo do Exército aumentou hoje para 1.308 homens, ontem era de 1.038 e 600 no primeiro dia da ação, sem contar o efetivo da Força Nacional, Polícia Federal e PMs da Caatinga e Semi-Árido.
Nesta manhã, toda a Assembleia está cercada, ao contrário dos primeiros dias, quando o foco das tropas federais estava em frente ao Parlamento. Os acessos ao Centro Administrativo da Bahia (CAB) voltaram a ser fechados nesta manhã.
A chegada de viaturas com PMs em serviço ao CAB para ajudar na força tarefa de desocupação do Parlamento desagradou os manifestantes. Dois helicópteros do Exército, do modelo Pantera, também sobrevoam a região.
O juiz da Auditoria Militar Federal, José Barroso Filho, chegou nesta manhã no CAB a pedido dos grevistas. Ele foi levado por policiais do Rio de Janeiro.
O tenente-coronel Márcio Cunha, chefe de comunicação da 6ª Região do Exército, alertou aos jornalistas que eles devem permanecer dentro do QG montado para a imprensa. De acordo com ele, quem estiver fora desse perímetro não será assegurado pelo Exército, reforçando os rumores de um possível confronto entre grevistas e a tropa federal.
Não há informações de novas mesas de negociação entre o governo e os grevistas.
Houve um princípio de confronto nesta manhã, quando homens do Exército mudaram a posição das cercas que estão posicionadas ao redor do Parlamento.
Nesta madrugada, foi cortada a energia do Parlamento até 0h30. No mesmo horário, aconteceu um buzinaço na Avenida Paralela. Não há confirmação da participação de PMs no protesto na Avenida.
Proposta - O governador Jaques Wagner voltou a reforçar a proposta apresentada aos grevistas em entrevista a uma emissora de televisão nesta manhã. A oferta é de reajuste de 6,5% retroativo a janeiro e o pagamento partilhado das GAPs IV e V entre 2012 e 2015 com a primeira parcela em novembro deste ano.
"Fizemos um esforço muito grande para garantir a GAP IV a partir de novembro. Essa despesa (GAP IV e V) representa mais de R$ 170 milhões, é parte significativa do orçamento. Agora eu só posso esperar que cada policial entenda que o Estado tem um limite e não frustre a população da maior festa popular do mundo (o Carnaval)", argumenta Wagner.
Aspra - Prisco disse que o fim da greve dos Policiais Militares (PMs) caberia somente ao governador Jaques Wagner. "A greve pode acabar em até 1 hora, só depende do governador. Basta ele assinar nossas reivindicações".
Prisco explica que a prioridade da categoria é a revogação dos mandados de prisão expedidos pela Justiça em nome de alguns PMs grevistas e anistia administrativa para todos os policiais que participaram do movimento. "Se for provado (a participação de PMs em atos ilícitos), cabe à Justiça dar a resposta à sociedade (punindo os policiais)".
A categoria também quer a reintegração dos policiais que foram exonerados após a greve em 2001. "Queremos que o governo dê o direito de reintegração aos policiais que conseguiram isso pela lei. Já ganhei isso em todas as instâncias, inclusive no pleno do Tribunal de Justiça. Também fui anistiado pela lei federal 12.191, sancionada por Lula (ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva) e até hoje o governo não cumpriu a lei federal", argumenta Prisco. Além dele, outros cinco PMs aguardam a reintegração.
Baixa - Mais um PM deixou o acampamento nesta madrugada, totalizando oito desistências entre os manifestantes. Esse número não inclui as crianças que saíram do acampamento após determinação do Ministério Público.
Na saída, por volta de 2h50, o policial militar baiano, que tinha uma pistola na cintura, foi identificado pelos militares do Exército e teve a mochila revistada. Tudo sob a supervisão de agentes da Polícia Federal. Ele não quis falar com imprensa e foi correndo até o próprio carro.
Dois novos barracões (grandes tendas) foram montados pelo pessoal do Exército nos canteiros (central e lateral), em frente à AL-BA, ainda de madrugada. Uma espécie de “gabinete”, com cadeiras, mesa e quadro com mapa, e outro para abrigar todo o lixo produzido no entorno, incluindo o do pessoal da imprensa.
Fonte: A Tarde (Maíra Azevedo e Fábio Bittencourt)
Nenhum comentário:
Postar um comentário