Limitar a liberdade de expressão da categoria policial (notadamente a militar) possui efeitos interessantes, dificilmente vividos em outros contextos. Para além de evitar reivindicações e manifestações incisivas, a falta de voz acaba por consolidar de maneira bastante simples alguns consensos, muitos deles irrefletidos e acríticos, chancelados pela ausência de diálogo e questionamento. Parece ser deste modo que na cultura organizacional das polícias torna-se difícil realizar certas reformas, mudanças e reorganizações – por mais límpidas e óbvias que pareçam certas propostas.
Não é preciso ser policial antigo para que se admita, desde o início da formação, seu punhado de verdades: “bandido bom é bandido morto”, “praças são preguiçosos”, “oficiais são perseguidores”, “não vale a pena se dedicar à polícia” e outros teoremas perfeitamente admissíveis, sem qualquer alternativa reflexiva.
A dúvida, insumo tão necessário à manutenção da vida policial durante seus procedimentos operacionais – afinal, o policial que muito confia pode ser surpreendido – é praticamente abandonada quando se trata emitir juízos sobre o seu trabalho e sua instituição. Por isso, um comandante, quando assume sua função, já possui sua trajetória definida: perseguidor, arbitrário, impositor. Um subordinado é logo determinado: preguiçoso, indolente, macetoso.
Engraçado é que, quanto mais previsíveis somos, quanto mais seguimos a manada do (des)entendimento inconsciente, mais as respostas serão semelhantes àquelas que conhecemos. Para a filosofia do bom bandido morto, por exemplo, a filosofia do bom policial morto tende a ser adotada (que digam os doutos que proponho aqui tratar criminosos com buquê de flores!). Não há algo mais adequado aos governos, e a manipuladores de ocasião, do que tropas e policiais dados ao consenso.
O filósofo francês René Descartes posicionou a dúvida como a modalidade de pensamento que garante a essência da homem, a sua existência. Considerando esta hipótese, não é demais afirmar que aquele que duvida exerce mais sua humanidade do que os que abrem mão desta faculdade. O problema é que esta humanidade não depende muito dos governos, do comando ou da aprovação de qualquer lei. Assumir a dianteira de sua consciência e deixar de se embriagar com os consensos é incomodar-se consigo mesmo: eis uma reforma difícil de se implementar nas polícias.
Fonte: Abordagem Policial (Danillo Ferreira)
Formatura (só existe no militarismo) x Descaso com a população.
ResponderExcluirRealizada na manhã de hoje, 05 de julho de 2012, a tal formatura veio mais uma vez confirmar o que já todo policial militar já sabe: ouvir o mais do mesmo, ou seja, além de uma desnecessária prestação de contas (policial militar não é membro do TCE) promessas, boas intenções, coisas que o diabo anda cheio.
Não se admite mais, nos dias de hoje, policiais serem convocados para uma formatura onde o resultado é inócuo, sem nenhuma novidade palpável, a não ser satisfazer as vontades, o ego do comandante de plantão e, de quebra, entediar os policiais que ficam debaixo de sol a ouvir coisas pouco prováveis que aconteçam: foi dito pelo comandante que fora enviado para a seplag um orçamento visando à aquisição de vários itens pela PM, dentre eles, viaturas, coletes balísticos e etc. num valor total de cerca de 4,5 milhões de reais. Todos e quaisquer equipamentos que venham a melhorar a atividade policial é salutar, é imprescindível, isso é uma verdade. Entretanto, querer acreditar que o senhor Oliveira Junior, senhor todo poderoso deste governo, irá liberar esse montante de recursos é o mesmo que jurar de pés juntos que 2+2 são cinco. Não será liberado nenhum quarto desse montante. Pago pra ver!
Escala de serviço:
Foi dito pelo comandante que se faz necessário adequar a escala, tendo em vista que a policia é uma só. Realmente, a policia é uma só, porém, não se pode, em nome desse argumento e da pressão do governante de plantão, querer se fazer multiplicar o efetivo nas ruas implantando uma escala massacrante, incompatível com a atividade policial que é naturalmente estressante. Talvez, a escala 12/36 sirva para o vigilante que trabalha interno e sem confrontar-se diretamente com os problemas, os mais diversos, advindos da população. Temos que pensar para frente. Alegou-se que não seria possível exigir hora extra com a escala 12/48. Por que não é possível, qual o argumento? Será que imaginam que o policial coloca a farda e sai pra rua pra brincar. Amigos, no instante em que o policial coloca a farda ele já está automaticamente investido de uma responsabilidade tamanha, passível de receber solicitações da população, as mais variadas, até mesmo do seu vizinho ao sair na rua. Esse argumento, por si só, já serve para justificar o policial trabalhar 36 horas semanais, o que só é possível com a escala 12/48.
Hora-extra:
Tem policia quem pode. Se não tem efetivo para suprir a demanda de festas e mais festas, problema dos festeiros e, sobretudo, dos que as patrocinam visando invariavelmente o lucro.
Senhor comandante, reflita, pense com carinho, o senhor é um homem inteligente.
Policia é policia!!!