terça-feira, 14 de agosto de 2012

OFERTA E DEMANDA DE CURSOS POLICIAIS: UM PARADOXO.

Sabe-se que uma instituição em que praticamente todo recurso disponível está destinado à folha de pagamento indica sinais de que não investe devidamente, por carência ou má gestão, em fatores essenciais para sua eficiência e produtividade, como cursos ou aquisição de tecnologias. Parece ser o caso do Exército Brasileiro, e também pode ser detectado em polícias militares do país.

Há instituições que amargam longos períodos de estiagem instrutiva, onde cursos úteis e essenciais para o bom desempenho das atividades dos policias chegam a passar 10 anos ou mais sem uma nova edição, tornando raridade certos distintivos de curso, vistos como insígnias de alta preciosidade, quando deveriam ser mais comuns, atendendo à demanda de conhecimento, e não ao culto como símbolo de poder.

Eis que de repente, por conta de uma demanda a médio prazo, surgem verbas para que diversos cursos há muito não vistos, sem contar os inéditos, sejam realizados. Diante do quadro relatado, supõe-se que a busca seja alta e competitiva, afinal a ilitimada necessidade foi amenizada pelo escasso recurso. Por que a realidade não é exatamente essa?

De um lado, posiciona-se o grupo do policial compulsivamente pessimista, difundindo sua ideologia no serviço dos policiais mortos. Ambientado à sociedade altamente capitalista, o militar esquece-se de que, enquanto a maioria dos civis investe do próprio bolso em sua capacitação, a ele é dado o privilégio de participar de cursos sem ter que pagar. O efeito parece ser reverso, grande parte se orgulha de dizer que só estuda ou treina se for pago adicionalmente para isso, vide o grande exemplo dos cursos à distância da Senasp, sucesso aboluto enquanto havia bolsa, e alvo de pouca procura com a perda do benefício.


Há de se considerar relativa pertinência nos casos de desestímulo por questões econômicas, afinal impactos negativos no orçamento, como a perda de horas extras e adicionais, dificultam a participação de quem não comporta reduções, ainda que temporárias, em seus proventos. Por outro lado, o não cumprimento das obrigações do Estado, como o pagamento de passagens de transporte e diárias de alimentação e pousada, no caso dos que fazem jus, acaba por motivar desistências fundamentadas.

Há ainda a triste descrença na capacidade de instrutores e coordenadores, quando se constata a falta de planejamento e meios, o não cumprimento de cronograma, entre outros comtratempos. Muito pior é o temor de que práticas perversas e sem amparo científico acabem por resultar na debilidade ou morte do aluno, o que esporadicamente acontece com policiais e militares em treinamentos.

Eis algumas das razões que distanciam instituições de serem reconheidas como centros de excelência técnico-profissional, perpetuando uma imagem desagradável de amadorismo, que transmitem pouca confiança e, volta-e-meia, se veem envolvidas em situações embaraçosas para explicar a morte de inocentes, sejam cidadãos atendidos ou profissionais em treinamento, e ouvir da sociedade e da imprensa as recorrentes acusações de despreparo. Vai melhorar…

Fonte: Abordagem Policial (Victor Fonseca)

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