quinta-feira, 18 de outubro de 2012

ENTREVISTA DE PRISCO, VEREADOR ELEITO, VÊ POSSIBILIDADE DE NOVA GREVE NA PM BAIANA.


Soldado Prisco fala sobre sua eleição e possibilidade de nova greve

Eleito vereador para a próxima legislatura da Câmara Municipal de Salvador, o soldado Marco Prisco, líder do último movimento grevista da PM, deu entrevista ao Bocão News e conversou sobre temas polêmicos. Falou sobre sua relação conturbada com o governador Jaques Wagner, sobre os processos que move conta a Rede Globo e contra um apresentador baiano e falou sobre a possibilidade de uma nova greve da Polícia Militar.

Bocão News: Como você avalia o tratamento que o governo da Bahia vem dando aos policiais militares?
Prisco: infelizmente não é o tratamento que a categoria esperava. A categoria apostou nesse governo e votou nele. Eles prometeram reintegrar os policiais demitidos na greve de 2001, no governo passado, mas foi uma verdadeira frustração. Está sendo dado um tratamento desumano para nós.  Não é aquela forma que o PT sempre dizia que tratava os trabalhadores. Para nós, está sendo muito triste.

BC: Você credita sua votação expressiva para vereador de Salvador é decorrente do tratamento que o governo tem dado à categoria?

Prisco: não tenho dúvida de que isso ocasionou por causa da revolta. Tivemos 14.820 votos, uma votação significativa para uma campanha de pé no chão, sem recursos e que ninguém acreditava. Mas a categoria mostrou que ela unida é superior a muita coisa. A resposta foi dada nas urnas.

BN: Muito se falou de que a greve que você comandou no início do ano, um pouco antes do carnaval, teve motivação política e eleitoreira. Como você lida com isso?
Prisco: em hipótese nenhuma. A greve não foi política até porque nenhum político participou dela. A gente afastou todo e qualquer político. A gente queria que eles fossem lá para ajudar na negociação, mas não teve nada de greve política. A greve estava marcada para março, mas antecipamos ela porque em somente uma semana morreram sete policiais. O índice de mortalidade policial na Bahia estava superando São Paulo e Rio de Janeiro e a categoria não estava mais suportando isso. Foi um clamor da própria categoria para ir ao embate.

BN: Mas como surgiu a ideia da candidatura?
Prisco: eu estava preso e vários policiais me visitaram e pediram isso. Eu já seria candidato a deputado estadual . Não tinha intenção de ser candidato a vereador, pois sei que é uma campanha muito desgastante. Eu já tinha até acordos para fazer dobradinha com um candidato a deputado federal. Mas surgiu essa possibilidade, a categoria aprovou e saímos candidato.

BN: Conta um pouco de como foi o período em que você ficou preso por conta da greve.
Prisco: foi muito triste. Eu me preparei psicologicamente para tudo o que poderia acontecer. Mas ficar sem notícias daqui de fora e não ter contato com a família foi muito triste. Eu fiquei preso nem uma cadeia pública comum com outros presos estupradores e assaltantes. Graças a Deus eu sou evangélico e fiz um trabalho legal de evangelização lá dentro. Instituímos cultos diários lá e conseguimos converter quatro pressos. A ideia inicial do governo em me colocar lá era pra me massacrar, mas eu consegui superar isso tudo. Um dos momentos mais difíceis que tive lá dentro foi quando policiais da Rondesp morreram em um acidente com a viatura. Eram pessoas que eu tinha como da família.

BC: Isso tudo culminou em sua eleição. Mas como vereador, como você pretende ajudar a Polícia Militar, que é uma estrutura ligada diretamente ao governo?
Prisco:realmente há essa diferença. Mas os policiais militares de Salvador residem aqui, usam os serviços da cidade. Os bairros onde moramos não oferecem nenhnuma estrutura, nenhuma segurança para nós. Vamos investir na questão da moradia, da mobilidade urbana. Também temos a bancada parlamentar na Assembleia Legislativa. Como vereador vou poder sugerir projetos. Agora teremos voz na Câmara. Temos que conscientizar a categoria politicamente do poder que ela tem perante a sociedade.

BN: você teme alguma retaliação por parte de vereadores ligados ao PT, partido do governador Jaques Wagner, com quem você bateu tanto de frente?
Prisco: não temo, até porque nos embates que eu tive com ele eu saí vitorioso. Então irei lá para fazer um trabalho de parlamentar. Se o candidato dele ganhar – que eu sei que não vai acontecer, eu serei oposição responsável. Aquele que atender aos moradores de Salvador terá meu apoio. Até porque eu não fui eleito só pelos policiais, e sim por vários segmentos da população.

BN: O que se pode fazer para que os problemas estruturais da Polícia Militar da Bahia sejam amenizados?
Prisco: Tem que haver o diálogo com o governo do estado, já que ele assumiu e não dialogou. O comando assumiu como um cargo político, tomava decisões e não passava para a base. Falando de estrutura, todo o materia bélico que o governo do Estado disse que investiu não mudou em nada.

BN: E as bases comunitárias?
Prisco: é uma bravata política, até porque as duas que foram instaladas agora no período eleitoral não possuem estrutura física. É um conteiner de material fino. Um tiro atravessa de um lado para o outro. Eles deveriam melhorar as Companhias Independentes. Falta muito investimento na segurança pública.

BN: Como é o tratamento dado pelo governo ao policial na Bahia?
Prisco: falta investir no homem. O policial militar entra na corporação, faz um curso de nove meses e depois não há uma reciclagem. Ele vai pra rua a Deus dará. Para você ter ideia, a PM só tem um psicólogo para toda a Bahia. É muita bravata política e não tratam a segurança pública com seriedade. Eles tinham que chamar a população, o Ministério Público e a Uneb, por exemplo, pra discutir esses assuntos.

BN: O que tem a dizer sobre os Corpo de Bombeiros, que era a área onde você atuava?
Prisco: hoje o único problema que o Corpo de Bombeiros não tem é de qualificação do pessoal. Eles são qualificados porque eles amam a corporação e investiram neles mesmos. Mas o efetivo é muito pequeno. Hoje não chegamos a três mil, e para cobrir a Bahia teria que ser no mínimo 19 mil. Não temos viatura, não tem equipamento de resgate e muito menos de proteção individual. É tudo uma falácia. Se ocorrer um incêndio em centro empresarial grande ou em uma residência, será uma tragédia. Os dois incêndios, no SAC e na Insinuante, esperaram tudo acabar para o bombeiro só resfriar. Eu não sei como vai ser durante a Copa de 2014.

BN: Há tempo hábil para estarmos preparados para a Copa das Confederações e Copa do Mundo?
Prisco: com certeza, mas tem que haver vontade política e humildade do governo em dialogar com a corporação e nos respeitar. Wagner tem que tratar a questão da segurança pública com responsabilidade.

BN: Qual sua relação com o governador Jaques Wagner? Você toparia sentar com ele hoje pra conversar?
Prisco: não só toparia como durante o movimento enviamos ofícios para negociar, mas ele que dizia que negociaria com qualquer um, menos comigo. Mas meu primeiro ato de posse, assim que for escolhido o presidente da Casa, será solicitar, em nome dos vereadores, uma audiência para debater a segurança pública na Bahia. Eu não tenho problema com o governador. Só quero que ele sente com a categoria para conversar.

BN: De todos os itens reivindicados durante a greve, o que foi cumprido pelo governo do Estado?
Prisco: até o presente momento o acordo da GAP foi votado pela Assembleia Legislativa da Bahia. A primeira parcela virá em novembro e o pagamento será parcelado até 2015. Com relação aos outros itens da pauta, o governo falou que criaria uma comissão para sentar e negociar. Essa comissão não foi criada, estão várias coisas pendentes, não temos plano de carreira, o policial passa 27 anos para ser promovido a cabo, não temos um código de ética, não temos pagamento de periculosidade e insalubridade. Nada disso foi acertado pelo governo.

BN: Mas vocês já tentaram conversar com o governo para que criem logo essa comissão?
Prisco: assim que passar esse período eleitoral nós vamos procurar o governador mais uma vez. O que queremos é continuar o diálogo. Nós queremos ajudar o governo a melhorar a segurança pública. Tudo só depende de o governador Wagner sentar e conversar.

BN: E se não houver receptividade por parte do governo, há a possiblidade de uma paralização ou até mesmo outra greve?
Prisco: o direito de se manifestar é livre no Brasil. Se o governo não quiser negociar, vamos buscar mecanismos para que isso aconteça. A forma que usaremos é a categoria quem vai decidir, pois ela é soberana. Mas eu espero que o governador abra esse diálogo.

BN: Em que estágio estão os processos movidos por você contra algumas emissoras de TV por conta da veiculação de um suposto vídeo editado onde você ordenava ataques durante a greve?
Prisco: movemos processo contra a Globo, que entrou com embargo de declaração tentando travar o processo, mas não conseguiu. Vamos ganhar esse processo porque a prova da falsidade daquela gravação já está nos autos. Está claro que foi montado e muito mal montado. Também estou processando a Bandeirantes através de Uziel Bueno porque ele usou o meio de comunicação pra me chamar de bandido e marginal, e ele vai ter que provar isso.

BN: Prisco, deixa uma mensagem para a população de Salvador que agora terá você como um dos representantes na Câmara Municipal.
Prisco: eu quero agradecer aos policiais militares da bahia e toda a sociedade pela vitória esmagadora. A Casa lá estará aberta. Toda população de Salvador terá nosso apoio na Câmara. Queremos chegar lá e mudar, querendo mostrar que o vereador trabalha pra o povo. Não tenha dúvida de que a população terá uma verdadeira representação na Câmara.

Fonte: Blog do Igor

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