quarta-feira, 17 de outubro de 2012

PRODUTIVIDADE POLICIAL MILITAR.

Algumas questões vêm sendo colocadas, diariamente, em várias instâncias, no sentido de se tentar mensurar a eficiência do serviço desenvolvido pelas unidades policiais militares, com o objetivo de premiar aquelas mais produtivas e, num “saudável ambiente competitivo”, reduzir índices de criminalidade.

Em meu entendimento, o problema reside na dificuldade em se criar variáveis confiáveis, quantificadoras e qualificadoras, para um serviço que produz algo tão subjetivo. O ato de avaliar, por si só, é tema controverso e extremamente complexo, principalmente quando o resultado do trabalho desenvolvido não é um produto palpável e quantificável. Como criar metas de produtividade que não deixem de considerar atitudes proativas e colaborativas abstratas?

Imaginemos o absurdo de se criar premiações, pecuniárias ou não, para as escolas que reduzissem o número da repetência escolar. Será que o produto final do trabalho de um professor se traduz no cumprimento desta meta? Será que as variáveis subjetivas importantíssimas no conjunto educacional estão sendo contempladas? Será que premiar com base em critérios objetivos não acaba criando incentivo para se negligenciar um conjunto outro de ações e atitudes difíceis de serem quantificadas, mas importantíssimas para a educação?

Acho um erro querer tratar os servidores públicos como meros operários, aliás, fica claro que somente para o baixo clero do serviço público é que estas ideias ganham eco. Nunca ouvi dizer que seria pago prêmio para o juiz que conseguisse atingir uma cota de julgamentos ou para promotor de justiça que oferecesse maior número de denúncias ou coisa que se assimile. O produto resultado do relacionamento com a população e a atividade policial é complexo, simplificar para mensurar, além de deixar várias lacunas, a depender de como isto seja colocado, desqualifica a profissão.

Como quantificar os crimes que não ocorreram porque o policial tomou uma ação proativa? Como recompensá-lo por aquilo que ele evitou? Servidor público tem que ganhar bem pela sua profissão, ainda mais nós, policiais militares, obrigados a exercer exclusivamente a profissão. Esta estória de médico que fizer mais consultas, professores que aprovarem mais alunos e policiais que mais reduzirem número de homicídios é simplesmente a transferência para o servidor de uma responsabilidade gerada pela falta de estrutura, planejamento, suporte técnico, formação profissional e qualificação pessoal do próprio Estado. Um servidor que se respeite não aceita estas condições.

Acredito em formação e qualificação profissional, em planejamento, em valorização, na supremacia da técnica sobre o interesse político-partidário eleitoral, em corregedoria, em concurso público e em plano de carreira como fator motivador do desenvolvimento policial militar. A tropa da PM reage ao que lhe é ofertado. Quando ingressei na PM, há quase dez anos atrás, ouvia repetidas vezes o jargão: “A tropa é o espelho do comandante” – e o que é oferecido, neste sentido, são anos a fio de serviço sem ascensão profissional alguma, e, sinceramente, acho que ainda encontramos muita motivação em vista ao que é ofertado. Neste contexto em que nos encontramos, falar em prêmio por produção, que me desculpem os fervorosos defensores disto, me soa muito mais como estelionato profissional do que outra coisa.

Fonte:  Abordagem Policial (Danillo Ferreira)

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