Coronel explica que estão morrendo 'pessoas de reputação duvidosa', enquanto moradores não creem na polícia e temem falar sobre a violência
Itabaiana: tráfico e pistolagem dominam, segundo a SSP (Fotos: Cássia Santana/Portal Infonet)
Em Itabaiana, a 57 km de Aracaju, já foram registrados 52 homicídios neste ano, segundo levantamento do 3º Batalhão da Polícia Militar. Dados que preocupam, geram tensão, mas também deixam a população silenciosa. “Aqui não se para de matar. Aposto como já tem outro amarrado”, reage um mototaxista, que, a exemplo da grande maioria, prefere o anonimato.
As reações são as mais variadas quando o assunto é violência na cidade. O motorista Antonio Silva, por exemplo, não se preocupa em esconder a identidade. Conhecido na cidade como Odorico Paraguaçu, numa alusão ao personagem de Paulo Gracindo na novela O Bem Amado, o motorista credita à impunidade o fato de criminosos agirem de forma ousada para a prática de assassinatos. “Quem quer ser testemunha?”, interroga. “Aqui o dinheiro supera a verdade de qualquer pessoa pobre”, desabafa.
No entanto, a maioria disfarça o medo e a intranquilidade. “Para mim, a cidade é tranquila. A vida está banalizada para algumas pessoas que procuram locais onde se encontra a morte”, analisa uma dona de casa, que reside numa área considerada de grande influência do tráfico de drogas. Com medo, ela prefere o anonimato. Por questão de segurança, o bairro onde a dona de casa reside também não será revelado.
Nem os policiais que atuam na linha de frente querem ser identificados. Há quem garanta que há, no município, guerra movida pelo tráfico de drogas, pela pistolagem e até mesmo pelo comércio ilegal de armas, que estariam chegando à cidade traficadas do Paraguai.
Os comerciantes da cidade já se mobilizaram e procuraram explicações da Secretaria de Estado da Segurança Pública e receberam como resposta do secretário João Eloy a explicação de que a política de segurança no município estaria comprometida devido ao reduzido efetivo das polícias militar e civil, segundo revelou o empresário Edivaldo Cunha, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) do município.
O presidente da CDL vê que a falta de segurança está em todo o país. “A violência está generalizada em nível nacional, mas aqui nós procuramos o secretário [João Eloy, da segurança pública] e ele alega falta de contingente e diz que está faltando concurso público”, comenta o empresário. “Acho que se tiver polícia na rua se inibe o crime. Sentimos falta de uma polícia ostensiva”, observa.
Causas
No passado, a violência em Itabaiana era consequência da rivalidade entre grupos políticos, mas, na atualidade, a política partidária tornou-se fator secundário para se justificar as mortes violentas que têm ocorrido na região. “Há 20 anos, em determinados crimes encontramos conotação política, mas hoje o crime está muito mais relacionado com as drogas”, considera o presidente da CDL. “A droga está dizimando nossa juventude, está faltando Deus no coração das pessoas e acho que está faltando mobilização da sociedade e formação religiosa para estes jovens”, comenta.
De acordo com informações de agentes da polícia civil, que preferem não ser identificados, os crimes, especialmente os assassinatos, ocorridos em Itabaiana estão associados ao tráfico de drogas e também contra o patrimônio. “Aqui ninguém quer perder um palito de fósforo. Mata-se também por honra”, observa um agente. “Eles [os criminosos] confiam em apadrinhamentos políticos, na impunidade. A gente prende e, depois, logo estão soltos”, opina um outro agente, que também pede sigilo quanto à identificação por temer represálias.
As famílias de jovens vítimas vivem em eterno tormento. No dia 10 de outubro, por exemplo, um jovem de 19 anos, cuja identidade será preservada, foi queimado vivo em praça pública e, por pouco, não morreu. O jovem sofreu queimadura de segundo grau e permanece internado na Unidade de Tratamento de Queimados (UTQ) do Hospital de Urgência de Sergipe (Huse). “Ele chegou aqui em casa correndo, pedindo socorro com o couro [a pele] todo caindo”, conta a irmã, cuja identidade também será preserva.
Ele sobrevive, está falando, se alimentando regularmente, mas nada diz a respeito do atentado que sofreu. Há informações que ele estava na rua, no bairro São Cristovão [em local conhecido como Inferninho] quando alguém o amarrou, jogou álcool no corpo dele e ateou fogo. “Ele não fala nada. Diz apenas que ‘nem vocês me implorando, eu digo quem fez isso comigo’. E minha mãe já fez de tudo. Ela está muito abalada, mas ele não diz nada”, comenta.
O atentado está sob investigação na Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Município, que ainda não tem pistas de suspeitos. Cogita-se a possibilidade do crime estar associado a dívidas por consumo de drogas, segundo uma fonte policial da cidade.
O coronel Genival dos Santos, comandante do 3º Batalhão da Polícia Militar, que atua em Itabaiana, diz que os assassinatos têm alvo certo. “Quem está morrendo são pessoas com reputação duvidosa, com passagem pela polícia, com índole complicada”, explica o coronel. “São crimes encomendados que ocorrem independentemente da polícia estar ou não nas ruas. São coisas impossíveis de se detectar”, observa.
Segundo revela, na cidade há ações efetivas relacionadas à política de prevenção no município a partir do policiamento ostensivo e das constantes abordagens. Só neste início de mês, as abordagens realizadas pela polícia nas ruas, segundo o coronel, resultaram na apreensão de quatro armas de fogo.
Neste ano, a Polícia Militar realizou 203 prisões em flagrante por variados crimes, apreensão de 28 armas de fogo, 99 veículos roubados foram recuperados, 72 adolescentes foram apreendidos por envolvimento com o crime e 382 veículos foram apreendidos por estarem circulando de forma irregular na cidade e que estão custodiados no pátio do BPM à disposição da justiça.
De acordo com dados da Divisão de Homicídios do Município, a grande maioria dos homicídios já tem autoria definida. Neste ano, os agentes daquela divisão conseguiram prender 39 suspeitos envolvidos com os assassinatos ocorridos no município.
Nota
A Secretaria de Estado da Segurança Pública se manifestou por meio de nota encaminhada ao Portal Infonet sobre a violência naquele município, informando que o “3º BPM tem recebido apoio de outras unidades, a exemplo do Batalhão de Trânsito (BPTran) e do Grupamento de Ações Táticas do Interior (Gati), assim como da Polícia Civil”. Na nota, a SSP garante que, por meio da Delegacia Regional, sediada na cidade, “vem cumprindo mandados de prisão e de busca e apreensão, frutos de investigações”.
Segundo a nota emitida pela assessoria de comunicação da SSP, “a atuação da Delegacia Regional vem sendo fortalecida pela equipe operacional da Copci [Coordenadoria da Polícia Civil do Interior], que tem prestado apoio no cumprimento de mandados e nas investigações, especialmente as que envolvem os homicídios, esclarecendo no menor tempo possível os casos e prendendo os autores”.
Na nota, a SSP admite que grande parte dos crimes ocorridos no município “está relacionada ao tráfico de drogas e à pistolagem".
Fonte: Infonet (Cássia Santana)
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