Há um largo rio que separa Sergipe do seu povo
Não há a menor sombra de dúvida sobre a importância e a beleza da ponte Gilberto Amado, inaugurada na semana passada pela presidenta Dilma. É uma obra monumental. As pontes, no mínimo, significam caminhos abertos para algum tipo de desenvolvimento. É só observar o quanto foram e são importantes às pontes Joel Silveira e a que liga Aracaju a Barra dos Coqueiros. Nenhum retoque a ser feito, apesar de consumir bilhões de reais de recursos públicos e fazer a festa de grandes empreiteiras, que mais cedo ou mais tarde, “colaboram” com algumas campanhas eleitorais.
No entanto, governar não é somente fazer pontes de concreto. Gerir um Estado não se resume em apenas tocar obras físicas, visíveis. Sergipe, por exemplo, necessita, com urgência, de outras pontes vitais para o desenvolvimento do Estado e das pessoas que mais precisam, de muitos, da maioria, e não apenas de poucos grupos privados. Há um largo rio que separa o Estado de Sergipe da educação pública. Há um gigantesco mar que isola o governo da saúde pública. Há um abismo impressionante que deixa de um lado o Estado e, de outro, o meio ambiente, o saneamento básico, os servidores públicos, a segurança. São muitas as pontes que ainda faltam ser construídas em Sergipe.
Os alunos e professores das escolas públicas sentem-se isolados, jogados à desesperança, distante dos recursos do Estado. Profissionais da saúde ficaram lá, mergulhados no caos da falta de condições para prestar assistência mínima às pessoas que clamam por socorro. Rios, mangues, dunas agonizam vendo chegar livremente à destruição por meio de grandes obras privadas sem controle. Servidores públicos gritam pelo mínimo reconhecimento e lá, do outro lado e de muito longe, o Estado finge que não ouve e nem vê, nem os funcionários, nem a educação, nem a saúde, nem o meio ambiente, nem a segurança pública. O clamor de muitos é para que pontes sejam construídas entre Sergipe e seu povo.
Mas há um problema central para a construção dessas pontes entre o Governo e a educação, saúde, meio ambiente, segurança, funcionalismo, etc. Não é dinheiro. É visibilidade eleitoral. Obras físicas, de concreto, além de bilhões de reais e acordos com poderosas empreiteiras, sempre rendem excelentes motivos de publicidade eleitoral. A cultura política leva os eleitores, no geral, a entender que o “bom político” é aquele que constrói. Não há outro o problema, por exemplo, que envolve a discussão dos empréstimos do Proinvest entre Governo e oposição. As necessárias pontes das políticas públicas entre Sergipe e a educação, saúde, servidores públicos têm, na lógica perversa eleitoral, pouca visibilidade e baixos rendimentos financeiros eleitorais. Essa é a questão.
Fonte: Blog do jornalista José Cristian Góes.
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