Pouca gente falou sobre o caso do coronel PM que, embriagado, colidiu o seu carro a uma camioneta, em avenida movimentada de Aracaju (Pedro Calazans) e ficou por minutos fazendo exibições de tudo que, como policial, tinha obrigação de impedir. Armado, alcoolizado e em claro desrespeito à sociedade, o militar patenteado usou e abusou das preorrogativas que imaginava obter, mesmo em estado de embriaguês.
O fato atinge a corporação, lógico que sim, mas toda e qualquer instituição sempre registra fatos que podem sofrer com atitudes irresponsáveis de algum dos seus integrantes. Dá até para aliviar, ao se imaginar que, neste momento, o coronel está tremendamente arrependido. Colegas seus confidenciaram que se trata de um cidadão de bem, “mas que quando toma alguma bebida alcoólica perde o controle do direito e da razão”.
Percebe-se um hábito que se pratica no regime democrático, embora pareça autoritário e incoerente: cada um faz a sua democracia. A tese de que em um regime aberto e democrático todos têm o mesmo direito, resguardadas as responsabilidades constitucionais, pode vir abaixo no momento que a hierarquia chega à cabeça daqueles que não sabem exercê-la. Ou no formato em que prejudique a sociedade civil, sempre vítima de casos como os que ocorreram na quarta-feira.
Nos últimos anos a Polícia Militar é uma instituição que foi à busca de direitos e se organizou através de associações. Politizou-se. O que de um lado é bom e de outro pode ferir princípios que, de alguma forma, em tempos já perdidos, não eram bem aceitos dentro da própria corporação. O caso do coronel não deve manchar toda essa luta por mudanças de pensamento e estilo que praticamente exigiu qualificação de seus quadros.
Mesmo com a luta constante para que Polícia não deixe de ser repressiva, mas o faça dentro da consciência do direito e dever em defesa da sociedade – embora saiba que a recíproca do bandido não é verdadeira – ainda há necessidade de uma reestruturação em certos conceitos que dão sizudez ao policial, sempre visto como o homem disposto a prender – e até matar –, quando na realidade ele é um cidadão que tem mulher e filhos, frequenta bares, restaurantes, boates e tomam uma cervejinha que ninguém é de ferro.
A sindrome da autoridade é que o distancia da maioria dos civis que não pode “arrotar” tal arrogância. Assim como a tal hierarquia institucional pode ser um bem entre policiais, mas pode se transformar em abuso – ou um perigo – quando se trata de fatos não tão exemplares como o presenciado por dezenas de pessoas, durante a colisão de um veículo dirigido por um coronel alcoolizado, contra o de um civil absolutamente dentro dos seus direitos como cidadão.
O quê aconteceu no campo hierarquico? os soldados que vieram se surpreenderam com um seu superior, em excesso de embriaguês, que sequer podia ser abordado por eles por se tratar de um coronel. Não fez o bafômetro – e nem precisava – e ficou minutos dando um espetáculo triste, deprimente [em roupas civis], diante de uma sociedade perplexa e de militares impotentes para qualquer reação. Lembrando que estava armado e urinou em via pública.
Apenas para deixar no ar uma pergunta: se não fosse um militar?
Com a chegada de um colega com a mesma patente não houve determinação de prisão, mas a tentativa de convencê-lo a entrar no carro para ser cuidadosamente levado a um local que não lhe fosse constrangedor. Nesses período de conversa, o coronel fora de sí desancou comandante, destilou impropérios e expôs desejo alucinado de fazer sexo, utilizando termos do mais baixo escalão que, no fundo, não faziam sentido para o momento.
E digamos que na batida houvesse vítima ou se alguém recebesse um tiro, a patente impediria a prisão?
É nisso que é bom chegar. A hierarquia é para impor respeito e não desrespeito. Seria prudente que o militar de alto escalão pudesse ser detido por inferiores hierarquicos em casos como o do coronel, até para evitar uma tragédia. Quando se perde o sentido, a sensatez e o próprio respeito, naturalmente se desclassifica a patente.
MUDANÇA
Instituições militares devem rever a questão de que, por hierarquia, um coronel só pode ser detido por outro militar da mesma patente. Administrativamente esse pode valer.
Mas, quando se trata transtorno à ordem pública, a patente deveria cair.
ACIDENTE
O caso do coronel embriagado, que cometeu um acidente e não pode ser preso por causa da patente, é uma agressão à siciedade. É a exibição de que patente dá impunidade.
Até para a imagem da Polícia, espetáculos deprimentes anulam patentes.
Fonte: Plenário/Faxaju (Diógenes Brayner)
Nenhum comentário:
Postar um comentário