Qual é o tom da democracia?
Temos assistido a diversas manifestações de origem popular mundo afora. Podemos citá-las no Oriente Médio, na Europa, nos Estados Unidos e, mais recentemente, no Brasil.
Ora, o direito à manifestação é sagrado num Estado livre e uma aspiração inescapável onde o tentam calar. Seria, portanto, insano opor-se à sua prática na essência.
Se sonhássemos uma comunidade ideal, governada pela harmonia plena entre os homens e um respeito mútuo integral, manifesto pela liberdade natural, talvez a encontrássemos na ilha "Utopia", de Morus.
Entretanto, a História nos mostra que, para as pessoas viverem em sociedade, é necessário o exercício da liberdade civil, sendo esta limitada pela liberdade geral, como nos ensinaria Rousseau em seu Contrato Social.
Algumas pessoas parecem esquecer que, num Estado democrático de direito, os indivíduos estão sujeitos a leis que devem regular o convívio harmônico.
A Constituição Federal nos assegura o direito à manifestação do pensamento, mas assegura também outros direitos, como o de ir e vir, o direito à propriedade, entre outros, tão sagrados quanto o primeiro.
O Brasil é uma democracia jovem e deve caminhar para a maturidade. Contudo, devemos estar atentos aos caminhos escolhidos. As manifestações de inconformismo nos permitiram chegar até aqui, e, ao longo dos séculos, muitos tombaram por defenderem opiniões, lutarem por direitos. Não é nosso caso hoje. Ninguém necessita tombar por isso.
Causa-nos profundo lamento que jovens estejam lutando por questões tão desconexas dos verdadeiros anseios da população no todo. Aspectos como legislação penal, lei de execuções penais, entre muitos outros, passam ao largo das reivindicações.
OPINIÃO
Nos idos em que lares são desfeitos em virtude das drogas, crianças e idosos são vilipendiados, pessoas são mortas gratuitamente, queimadas por não terem dinheiro e outras bestialidades, devemos pensar em punições que assustem os criminosos, não apenas os cidadãos de bem.
Essas, como muitas outras, seriam causas afetas a todos nós. Infelizmente, porém, o tom dos protestos restringe-se a passagem gratuita ou inexistência de aumento de preço.
O palco das ações não é o que acolha maior número de manifestantes, mas o que promova o maior número de infortúnios aos demais cidadãos. Que ativismo é esse?
Quando ouvimos ou lemos opiniões de determinadas personalidades direcionando suas críticas essencialmente à ação da Polícia Militar, recomendando taxativamente nossa extinção, chamando-nos de entulho autoritário, resquício da ditadura, de truculentos e outras monstruosidades, devemos nos perguntar: em que mundo vive essa gente? Em que século?
A longevidade normalmente assegura sabedoria. Entretanto, quando as pessoas se nutrem exclusivamente de estereótipos ao longo de toda a vida, o resultado, por vezes, é outro. Profissionais com o poder da comunicação, e o espaço para exercê-la, deveriam ser mais diligentes quanto ao quilate de brasileiro que se empenham em construir.
Enxergar qualquer cidadão de coturno como sinônimo de ditadura e munir-se de todas as forças para demonizá-lo é, antes de tudo, preconceito, algo que deveria ser, por completo, banido.
Num Estado verdadeiramente democrático, existem leis, e existem mecanismos para serem elas cumpridas, além de órgãos que operem esses mecanismos; entre eles, a Polícia Militar.
A Instituição jamais se esquivou de suas missões precípuas, por mais árduas que sejam, tampouco de eventuais erros cometidos, que sempre são apurados e, constatados, reprimidos de forma legal, e rígida.
Falhas individuais decorrem de juízo individual, e os indivíduos que compõem nossas fileiras nascem senão da mesma sociedade que com tanta acidez os critica. Se somos defeituosos sendo parte do todo, não seria também o todo defeituoso por igual, como parte sua?
Benedito Roberto Meira é Coronel PM e Comandante-Geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo
Fonte: UOL
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