quarta-feira, 10 de julho de 2013

POLICIAIS DA MESMA TURMA DE FORMAÇÃO SÃO SEMELHANTES?

A formação policial tem uma peculiaridade não presente em outras carreiras: enquanto nas universidades e outros cursos é possível que o estudante manipule sua grade curricular, dispensando ou adiantando disciplinas, nos cursos de formação policial só é possível iniciar e terminar a trajetória acadêmica em momentos pré-determinados, em conjunto com os colegas que fazem parte de sua turma. Até porque um dos elementos explorados na formação policial, principalmente a militar, é a convivência em grupo, mesmo que nem sempre este aspecto seja adequadamente canalizado pelas academias.

Por isso não é difícil se ouvir que determinado policial, por pertencer a determinada turma (colegas aprovados no mesmo concurso), possui certas características: é mais “caxias” – rigoroso com os regulamentos – ou mais flexível. É mais organizado e dedicado ou mais relapso e disperso. É como se as turmas policiais possuíssem uma personalidade própria, a qual seria herança profissional de cada policial que dela faz parte.

Existe um termo alemão chamado “Zeitgeist”, que quer dizer basicamente “espírito de uma época”. Nele está embutida a ideia de que pessoas que compartilharam de certo momento histórico, por sofrerem influências semelhantes, provavelmente adquirem semelhantes formas de interpretação das coisas, logo, semelhantes formas de agir. Embora geralmente o termo seja aplicado a períodos de tempo mais amplos, e sob elementos bem menos específicos, não é demais praticar o exercício da adaptação, e admitir que, possivelmente, policiais que viveram a formação policial juntos adquirem um mínimo de entendimentos semelhantes sobre caracteres profissionais.

Ainda mais se estamos falando de um tipo de formação que imprime nos indivíduos uma readaptação em seu estilo de convivência, com ataques diretos à sua individualidade, e canalização da personalidade a objetivos institucionais. Sim, deve haver um fio de ligação entre colegas de turma que os faz possuírem alguma semelhança profissional.

Isto, porém, não elimina a capacidade de cada um se inventar, contradizer e ignorar esses elementos comuns. É objetivo da formação militar a criação de uma massa sem rosto, voltada para a consecução dos interesses corporativos, algo cada vez mais difícil num mundo múltiplo, individualista, variado. Se é impossível fugir da construção que o mundo faz sobre nós, somos também sujeitos de transformação do mundo. O resultado desta complexidade é o que apresentamos enquanto profissionais.

Fonte:  Abordagem Policial (Danillo Ferreira)

Nenhum comentário:

Postar um comentário