O vídeo acima mostra arrepiantes momentos do enterro de um policial do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (BOPE-PMERJ). Foi postado acompanhado de um texto lúcido, coerente com quem entende radicalmente entende o que vem a ser Direitos Humanos. O autor é Antônio Carlos Costa, líder do Rio de Paz, movimento que luta pela redução de homicídios no Estado do Rio e também no país:
Acabamos de chegar do enterro do sargento do Bope Alexandre Francisco, morto terça-feira passada com um tiro no pescoço em operação policial. Fomos levados ao enterro por um princípio que rege nossas ações: a verdadeira luta pela defesa dos direitos humanos jamais pode ser seletiva. Hoje ficou claro para nós que não se luta pelos direitos humanos daqueles cuja humanidade ignoramos. Se não queremos ignorar humanos precisamos ir onde eles gemem, choram e jazem.Alexandre tinha apenas 35 anos de idade. Recentemente havia passado por uma experiência de conversão ao cristianismo. Foram fundamentais para sua mudança de forma de ver a vida, o amor de sua mulher e duas experiências de proximidade com a morte que vivenciara no exercício da sua profissão. Na primeira, um traficante que poderia matá-lo sem que ele o soubesse e que se rendeu com as mãos na cabeça e a pistola no chão. Na segunda, tiros de longa distância desferidos por bandidos que levaram a óbito dois companheiros de trabalho que estavam seu lado, o que o levou a atribuir à providência divina a preservação da sua vida. Seu pastor, com quem Alexandre abria o coração e buscava conselho, contou-nos da firmeza de caráter deste policial do Bope, que demonstrava grande alegria por não ter necessitado disparar mais um tiro sequer depois da sua experiência espiritual.Sua mulher, Mariane, com o rosto banhado de lágrimas, beijava-lhe o rosto no caixão, revelando seu profundo amor pelo marido. Em meio a dor da saudade, podia-se ouvir a expressão de revolta e indignação pelo forma como o policial militar é tratado pelo poder público.Seguiu-se o cortejo fúnebre até o local do sepultamento. A mãe, surda e muda, só podia ser entendida por aqueles que compreendem a linguagem da alma. Falava no coração o que a língua não conseguia pronunciar. A avó lamentava pelo fato de a terra ter recebido o corpo do neto que crescera ao seu lado. Dizia: “Nunca mais vou vê-lo”.O filho de apenas cinco anos, Enzo, ainda não sabe que seu pai morreu. Sua mãe contou-me após o enterro que o filho era muito apegado ao pai. Ela guarda uma foto em que pode registrar um diálogo por telefone do pai com o filho, em que mostra este com a lágrima escorrendo pelo rosto perguntando ao pai sobre quando ele iria voltar para casa.Por que o Alexandre morreu? Porque teve a infelicidade de nascer e trabalhar numa cidade doente, marcada por uma terrível desigualdade social, tratada com indiferença, descaso e incompetência por parte da classe governante, e cujo mais grave sintoma — a violência que devora vidas humanas –, pensa-se que é apenas tarefa para a polícia resolver.Trabalhamos em favela. Sabemos que não é fácil fazer o que fizemos hoje. Mas, se não fizermos pontes entre os homens na chamada “cidade partida” — elevando o conceito de direitos humanos a ponto de incluirmos àqueles que julgamos não ter alma e nem família que os ame –, se para amar o pobre temos que ter o policial como necessariamente inimigo, se para valorizarmos a polícia temos que nos calar quando os direitos do pobre são violados pelo Estado, quando a nossa terra deixará de sorver o sangue dos que morrem e as lágrimas dos que ficam?
Fonte: Blog do Ancelmo e Abordagem Policial
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