Eu ingressei na Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ) no ano de 1976, um ano após a fusão da Guanabara com o Estado do Rio de Janeiro, integrando a primeira turma de Oficiais da antiga Escola de Formação de Oficiais (EsFO) do novo estado.
Na época a PMERJ era comandada por um Coronel do Exército Brasileiro. Lembro que na época a maioria atribuía a essa subordinação a origem de todos os nossos problemas institucionais e apostavam que quando a corporação tivesse o seu comando próprio tudo se resolveria. Era um raciocínio lógico, um Coronel PM certamente reunia melhores condições para gerir a PMERJ do que um Coronel EB.
O tempo passou e o tão sonhado comando próprio foi alcançado, fato festejado por todos, fazendo nascer a esperança de dias melhores. Ficava para trás o controle do Exército Brasileiro sobre muitas das questões que envolviam a Polícia Militar e parecia estar surgindo a autonomia institucional, que passaria a ser senhora dos seus passos, finalmente.
Não era o ideal, pois o Comandante Geral foi escolhido politicamente pelo Governador, sem o aval dos seus companheiros, mas era um começo.
Tudo parecia lógico. Simples de concretizar. O que se mostrou um ledo engano.
Na verdade com o fim da gestão do Exército Brasileiro, não nasceu a gestão da Polícia Militar, pois entrou no meio do caminho um novo componente, um gestor que não vestia farda, vestia ternos finamente recortados: o político.
O tempo demonstrou que a autonomia de gestão nunca chegou à PMERJ, na verdade trocamos de gestores, saindo o Coronel do Exército e entrando o político, que se infiltrou nos quartéis sorrateiramente, fazendo nascer uma nova realidade: Se a doutrina do inimigo interno saia pelo portão da guarda, entrava a doutrina do politicamente correto, afastando a PMERJ do seu parâmetro básico: o cumprimento das leis e regulamentos.
Antes os quartéis eram blindados contra os políticos, essa era a postura das Forças Armadas e que refletia na Polícia Militar, mas eles foram ardilosos. A política entrou nos quartéis como se fosse a nossa salvadora, pois com a saída do comando verde-oliva, precisávamos de políticos eleitos que nos representassem e a política viu as portas abertas propondo a eleição dos nossos para lutar por nós. Mais uma vez, tudo lógico.
Elegemos alguns, mas nunca conseguimos nada através dos eleitos, isso é fato.
Na verdade fomos tolos e não percebemos que estávamos saindo de uma forma de dominação e indo para outra que se mostraria muito pior. O Exército interferia em vários pontos da gestão, os políticos nos dominaram por completo, fazendo com a Polícia Militar perdesse sua identidade e seus valores, entre eles, o servir e proteger o cidadão.
A dominação já era absoluta em 2007 quando surgiram dois grupos dispostos a lutar contra tal descalabro: Os 40 da Evaristo, um grupo formado por Oficiais e Praças idealistas e os Coronéis Barbonos, grupo composto apenas por Coronéis PM da ativa (isso na origem) que ocupavam as principais funções no comando da corporação. Eu sou um dos Barbonos.
A lógica novamente imperou, ameaçado o poder político fez o que se podia esperar dele, reprimiu de todas as formas os integrantes dos dois grupos. Os Coronéis foram exonerados e aposentados antes do tempo para que não representassem mais perigo e para servirem de exemplo, deixando claro quem mandava: o político.
Nenhuma voz nova se levantou, após os 40 da Evaristo e os Barbonos, contra a dominação política da PMERJ, a subserviência se concretizou.
Hoje, além de não escolher seu Comandante Geral, um sonho antigo, pois ele continua sendo escolhido pelo político, a corporação assiste a função ser completamente desprestigiada no atual governo, o qual em pouco mais de seis anos já nomeou cinco comandantes gerais. Os exonerados e os que assumiram não tiveram nem a honra de participar da solenidade de passagem de comando, ato solene e regulamentar que historicamente se realizava no pátio do Quartel General e que foi sumariamente abolido. Os últimos a terem tal honraria foram os Coronéis PM Hudson (exonerado) e o Coronel PM Ubiratan (nomeado), isso no início de 2007. A festa foi linda, o Quartel General estava cheio de vida. Nos nossos tristes dias, ocorreram passagens em gabinetes, como se fossem feitas às escondidas e houve ocasiões que nem a passagem ocorreu, quando o nomeado entrou e assumiu o gabinete do Comando Geral, sem a presença do exonerado.
Eu defendi e defendo o comando próprio, isso é lógico que é o melhor para a PMERJ, mas apenas quando esse Comandante Geral for escolhido pelos seus pares, pois só assim terá força para dizer não a toda e qualquer iniciativa dos políticos que seja contrária aos interesses da população e da corporação.
É com tristeza que pergunto: Será que prestar continência a um Oficial Superior do Exército era pior do que ter que ficar de joelhos diante de um político?
Cada Coronel PM ativo e inativo que dê a sua resposta.
Juntos Somos Fortes!
Fonte: Blog do Coronel Paúl
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