terça-feira, 27 de maio de 2014

ÍNDIOS E MANIFESTANTES ENTRAM EM CONFRONTO COM POLICIAIS EM BRASÍLIA. PM FOI FLECHADO NA PERNA E PASSA BEM.

Manifestantes entram em confronto com a polícia próximo ao estádio Mané Garrincha, , em Brasília
André Dusek/Estadão

Indígenas e manifestantes do Comitê Popular da Copa entraram em confronto com policiais em Brasília, durante manifestação nesta terça-feira. Depois de participarem de ato no Congresso, os índios se deslocaram pela Esplanada dos Ministérios e seguiram em direção ao Estádio Nacional Mané Garrincha. Outros manifestantes se juntaram ao grupo na Rodoviária do Plano Piloto. O embate começou quando eles foram impedidos pela Polícia Militar de seguir para mais perto do estádio. Os PMs usaram bombas de gás lacrimogêneo. A taça da Copa do Mundo, que está exposta em um galpão montado ao lado do estádio, teve sua exibição suspensa. A PM informou que um policial foi atingido por uma flechada na perna, mas recebeu tratamento e passa bem. A polícia também informou que um índio foi preso durante a manifestação.
Segundo o Cimi, quatro indígenas se machucaram no confronto com os PMs. A entidade acusa a polícia de ter começado a confusão. Participantes do ato afirmaram que um integrante do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) foi preso.

Os manifestantes relataram que atiraram pedras contra a polícia, que revidou com bombas de gás lacrimogênio. Eles também tentaram impedir a passagem de um carro do Corpo de Bombeiros, o que levou a PM a jogar mais bombas contra os manifestantes. O trânsito no Eixo Monumental, via onde estão o estádio e os ministérios, foi bloqueado nos dois sentidos, mas por volta das 17h50 o grupo liberou a via e começou a voltar para a rodoviária. Às 18h, um grupo de indígenas ocupava o canteiro de uma das vias e fazia danças, sem atrapalhar o trânsito.

Em nota, o governo do Distrito Federal (GDF) informou que a Secretaria de Segurança Pública "agiu estritamente dentro do protocolo previsto em casos de manifestações". Segundo o GDF, a operação foi eficiente, preservou a integridade física dos manifestantes e protegeu o grande público, "especialmente crianças, estudantes e idosos que estavam no evento de visitação à Taça da Copa do Mundo". Informou ainda que a manifestação "teve de ser contida no limite estabelecido para segurança dos visitantes". De acordo com o GDF, os policiais não usaram armas letais.

Segundo o MTST, que participa do Comitê Popular da Copa, o ato era para protestar contra “violações e crimes da Copa, cometidos pela Fifa, pelos governos federal e do Distrito Federal e pelos patrocinadores e empreiteiros contra a população brasileira”.

Mais cedo, por cerca de meia hora, a marquise do Congresso foi ocupada por cerca de 300 indígenas. Durante o protesto, eles manifestaram contra a atuação do governo na questão fundiária. Deixaram o local de forma pacífica e seguiram em direção do Ministério da Justiça.

Os indígenas também protestaram em frente ao Palácio do Planalto. De acordo com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), um índio ficou levemente ferido após entrar em atrito com um segurança do local.

Antes de seguirem rumo ao estádio, os manifestantes promoveram um julgamento da Fifa na rodoviária. O ato durou pouco mais de uma hora e terminou com a entidade condenada a deixar o país e a devolver vários bilhões ao Brasil e à África do Sul, país-sede da Copa de 2010. Segundo os organizadores do "julgamento", eles iriam entregar a sentença à Fifa no Mané Garrincha. Na sexta-feira, está prevista nova manifestação em Brasília, que deve partir do Museu Nacional, no começo da Esplanada dos Ministérios, até o estádio.

Índios acusam deputados de racismo

Mais de 500 indígenas, segundo cálculo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), protocolaram nesta terça-feira no Supremo Tribunal Federal (STF) denúncia contra os deputados Luís Carlos Heinze (PP-RS) e Alceu Moreira (PMDB-RS) por racismo e incitação ao ódio e à violência. Em vídeo gravado, Heinze disse que quilombolas, índios, gays e lésbicas “não prestam”. Os indígenas dizem ainda que Moreira, ao estimular a resistência dos produtores rurais, promoveu o ódio contra os povos indígenas. Depois de entregarem a denúncia no Supremo, os indígenas seguiram para a Praça dos Três Poderes e em seguida para o Congresso, onde fizeram uma manifestação sobre a laje que comporta as cúpulas do Senado e da Câmara.

Os índios — que, segundo o Cimi, fazem parte de 100 povos diferentes de todo o país — estão em Brasília até quinta-feira para protestar em defesa dos direitos territoriais dos povos indígenas. Na quarta, vão participar de audiência pública na Câmara dos Deputados. Os índios se opõem a algumas propostas em tramitação na Câmara, que na prática vão dificultar a demarcação de novas terras indígenas e facilitar a exploração econômica dessas áreas, inclusive para a mineração.

A coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Sônia Guajajara, afirmou que um dos pontos principais da manifestação é a não aprovação da PEC 215 que transfere do Poder Executivo para o Legislativo a responsabilidade das demarcações de terra:

— A gente não concorda com a atuação do Congresso Nacional. O Congresso nos ataca a todo momento, entregou as terras a grandes fazendeiros e latifundiários. A Constituição nos garante o direito à terra. Queremos mostrar que nós indígenas não estamos de acordo com essa atuação — afirmou.

Em novembro do ano passado, os dois deputados participaram de encontro com produtores rurais no município de Vicente Dutra, no Rio Grande do Sul, quando criticaram a atuação do governo na questão fundiária. No vídeo, disponível no Youtube desde 12 de fevereiro deste ano, Heinze chegou a dizer que quilombolas, índios, gays, lésbicas, "tudo o que não presta", está "aninhado" no gabinete do ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, na antessala da presidente Dilma Rousseff.
Na ocasião, depois de lembrar que o governo forneceu R$ 150 bilhões em financiamento ao agricultores, Heinze ressaltou:

— Agora eu quero dizer para vocês: o mesmo governo, seu Gilberto Carvalho também é ministro da presidenta Dilma, e é ali que estão aninhados quilombolas, índios, gays, lésbicas, tudo o que não presta, ali está aninhado e eles têm a direção e têm o comando do governo.

Alceu Moreira também criticou Carvalho na época e o próprio Cimi, que é ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Nesta terça, a assessoria do parlamentar criticou a denúncia por racismo feita pelos índios, uma vez que ele atacou a política indigenista do governo, mas não proferiu declarações de cunho racista como fez o deputado Heinze.

— Por que será que, de uma hora para outra, tem que marcar terra de índios e quilombolas? O chefe desta vigarice orquestrada está na ante-sala da presidência da República e o nome dele é Gilberto Carvalho, é ministro. Ele e seu Paulo Maldos (Secretário nacional de Articulação Social). Por trás desta baderna, desta vigarice, está o Cimi (Conselho Nacional Indigenista), que é uma organização cristã, que de cristã não tem nada: está a serviço da inteligência norte-americana e europeia para não permitir a expansão das fronteiras agrícolas do Brasil — disse Moreira em novembro, acrescentando:

— Nós os parlamentares não vamos incitar guerra, mas lhes digo: se fazem de guerreiros e não deixem um vigarista deste dar um passo na sua propriedade. Nenhum! Nenhum! Usem todo tipo de rede, todo mundo tem telefone, liguem um para o outro imediatamente, reúnam verdadeiras multidões e expulsem do jeito que for necessário!

Fonte:  O Globo (André de Souza/Wellington Luiz)

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