No mínimo temerária foi a afirmação da presidente Dilma de que a violência não se repetirá na copa. Além de faltar-lhe uma bola de cristal, sua promessa vai de encontro aos fatos. Em matéria de violência, está acontecendo tudo. Até índios alvejando policiais com arco e flecha em pleno Eixo Monumental de Brasília. Não é necessário alinhar as demonstrações de estar a paz pública em eclipse total, seja através de greves sucessivas, paralisações do tráfego em cidades grandes e pequenas, depredações, vandalismo e invasões. Acima de tudo, porém, a justa indignação da maioria. Basta ler um jornal por dia.
Esse horror seria interrompido no dia da inauguração do certame, por um passe de mágica? Ou as manifestações desta semana exprimem o ensaio geral de uma explosão anunciada?
Ignora-se onde a presidente se baseou para conclusão tão precipitada quanto a feita esta semana junto a empresários. Só se ela pretende renunciar à realização da copa do mundo, hipótese agora impossível. Ou, como alternativa, se mandará as forças armadas cercarem o território nacional dando a ordem de “teje todo mundo preso”.
A dúvida é saber se vivemos um espasmo de revolta social das camadas menos favorecidas ou se, em breve, a indignação atingirá a classe média. Adianta muito pouco sustentar que isso acontece porque os governos Lula e Dilma elevaram o padrão de vida das massas com tal intensidade que despertaram anseios por muito mais, da parte delas. É mentira. Por trás dos protestos pela melhoria nos serviços públicos e das condenações por gastos abusivos na construção de estádios de futebol, estão os protestos diante dos baixos salários, do desemprego, da falta de oportunidades para os jovens que ingressam no mercado de trabalho, da ausência do poder público na correção dos desníveis sociais e, acima de tudo, a certeza de que apenas agindo pela própria iniciativa as comunidades discriminadas conseguirão alterar o sistema que as discrimina.
Ninguém se iluda: estamos vivendo tempos inusitados, dificilmente capazes de retroagir. O velho Antônio Carlos Ribeiro de Andrada aconselhava as elites a fazerem a revolução antes que o povo a fizesse. Até o PT elitizado tentou. Pois agora o povo está fazendo a revolução. A copa do mundo está sendo apenas um pretexto, uma cortina de fumaça.
Fonte: Tribuna da Imprensa (Carlos Chagas)/Blog Tenente Poliglota
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