terça-feira, 20 de janeiro de 2015

ES: SOLDADO FEU FOI MORTO POR COLEGA DE FARDA, CONCLUI A POLÍCIA CIVIL.


O dedo que puxou o gatilho da arma que tirou a vida do soldado do Batalhão de Missões Especiais (BME) Dayclon Nascimento Feu, durante uma troca de tiros no dia 7 setembro do ano passado, em Padre Gabriel, Cariacica, já não é mais um mistério para a polícia. O disparo foi efetuado pelo companheiro de farda Adriano da Rocha Esteves, que o acompanhava no patrulhamento, quando a viatura foi alvo de tiros. Ele foi indiciado pela Polícia Civil por homicídio culposo, quando não há intenção de matar.

Soldado Feu estava em uma radiopatrulha acompanhado de Adriano, no banco traseiro, e outros dois policiais. No momento em que faziam ronda na principal rua do bairro, eles foram surpreendidos por tiros efetuados por dois jovens. Durante o confronto, Feu foi atingido por um tiro na cabeça e morreu. Na época, Iaclisson Cajazeira de Almeida e um adolescente foram presos e confessaram terem realizado os disparos.

Provas

Depois de quatro meses de investigações, a Delegacia de Crimes Contra a Vida de Cariacica reuniu diversos laudos, provas e depoimentos que comprovam que Feu morreu em meio a uma série de erros da equipe do BME da qual fazia parte.

“Não foi comprovado tecnicamente que o disparo veio da arma de Adriano, pois o projétil que atingiu o soldado Feu não foi encontrado. Porém, uma série de indícios nos levam a acreditar que o próprio soldado atirou, uma vez que o tiro partiu do lado oposto de onde estavam os criminosos e a menos de cinco centímetros de distância da vítima”, declarou o delegado titular da DCCV Cariacica, João Paulo Pinto.

Outras evidências que levaram a polícia a indiciar o soldado Adriano foram as declarações contraditórias do policial, a presença de sangue de Feu em várias partes da arma do militar e a crise psicológica que o levou a internação.

“O disparo foi efetuado diante de um erro, uma imprudência. Adriano quis atingir os criminosos, mas realizou uma ação fora do procedimento padrão e atingiu o companheiro que estava ao seu lado”, destacou o delegado.

O caso

Troca de tiros 

Na madrugada de 7 de setembro, viatura com quatro policiais do Batalhão de Missões Especiais (BME) foi surpreendida por atiradores, durante patrulhamento na Avenida Principal de Padre Gabriel, Cariacica.

Viatura

O soldado Feu foi atingido por um tiro na cabeça, dentro da viatura. Ele foi socorrido, mas não resistiu. Um dos suspeitos, identificado como Iaclisson Cajazeira, também foi baleado e preso pelo crime.

Adolescente sem arma 

No dia seguinte, um adolescente de 17 anos foi apreendido e confessou que teria atirado contra os policiais.

Reconstituição

No dia 25 de setembro, os três colegas de farda que acompanhavam o soldado Feu no dia do tiroteio participaram da primeira reconstituição, que durou seis horas.

Tiro amigo

Após as reconstituições e entrega dos laudos à Polícia Civil, as autoridades cogitaram a hipótese do tiro ter partido da arma de um colega de farda de Feu.

Homicídio culposo

Após a investigação, que durou pouco mais de quatro meses, o delegado João Paulo Pinto, da Delegacia de Crimes Contra a Vida de Cariacica, concluiu que o soldado Adriano da Rocha Esteves atirou acidentalmente na cabeça do soldado Feu, dentro da viatura. Ele foi indiciado por homicídio culposo.

Contradições levaram polícia a questionar ação

As contradições do soldado Adriano, que está há menos de seis meses na PM, levaram a polícia a questionar as atitudes dele durante a ação que culminou na morte do companheiro de farda. Em um primeiro momento, o militar disse que não efetuou disparos durante o confronto.

Durante a primeira reconstituição do crime, 18 dias após a morte do soldado Feu, Adriano mudou sua versão da ação. Ele confessou ter atirado, porém, disse que efetuou os disparos de fora da viatura, o que a Polícia Civil concluiu que não era verdade com base no depoimento dos outros policiais.

Mesmo depois dos laudos da perícia, que comprovaram que o tiro foi dado do lado onde Adriano estava e que a arma utilizada no crime foi a dele, o militar não confessou os disparos.

Com o indiciamento do militar, a situação dos dois detidos que confessaram ter atirado contra a viatura será modificada. Agora, eles responderão por quatro tentativas de homicídio triplamente qualificadas.

Os erros na ação

O delegado João Paulo Pinto apontou os erros na ação policial, da qual participavam quatro militares. Soldado Feu estava sentado no banco traseiro atrás do motorista da viatura. Adriano estava ao seu lado direito, atrás do cabo, responsável pela equipe. Além deles, havia um outro policial, que guiava a viatura. Os militares tiveram atitudes fora do procedimento padrão, aponta João Paulo.

1 - Cabo da Polícia
O cabo, que estava a frente da equipe, saiu da viatura em direção a parte traseira do veículo, contrariando a determinação de dirigir-se a parte dianteira da viatura.

2- Condutor da viatura
O militar que dirigia a viatura adotou um procedimento errado ao sair pelo lado direito do veículo, mesma direção dos criminosos. Ele deveria ter se movimentado por dentro do veículo e saído pelo lado esquerdo.

3 - Soldado Adriano
O policial não deveria ter atirado da parte de dentro da viatura, já que Feu estava entre ele e os bandidos. O correto seria sair da viatura. Ao disparar, o tiro acertou a cabeça de Feu pelo lado direito.

Farda de soldado morto queimada em Batalhão

As investigações foram dificultadas pela ausência de provas materiais que não foram preservados durante a ocorrência.

“Após o confronto, as armas utilizadas pelos policiais não foram apreendidas, o que deve ser feito em qualquer ocorrência envolvendo vítimas. Alguns projéteis também foram perdidos, entre eles o que matou o soldado Feu”, declarou o delegado João Paulo Pinto.

Entre os erros cometidos, apontados pelo delegado, estão a falta de preservação da viatura da Polícia Militar, onde Feu estava no momento em que foi baleado.
A Polícia Civil aponta como outro grave erro cometido pela equipe a retirada da farda do soldado, que posteriormente foi queimada no Batalhão sem passar por perícia.

O Batalhão de Missões Especiais foi procurado pela reportagem mas informou que não vai se pronunciar.

Fonte:  A Gazeta

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