Os problemas da Segurança Pública brasileira estão se aprofundando. As polícias matam cada vez mais, os policiais morrem cada vez mais. A (i)lógica dos lados está cada vez mais propagada, nos levando ao entendimento de que toda a complexidade desse cenário social pode ser resumido e dividido entre “bons” e “maus”.
Me refiro aos que falam da polícia como o Bem e os circunstanciais autores de crime com o Mal. Me refiro aos que falam da polícia como o Mal e os circunstanciais autores de crime como o Bem. Se essas teses estivessem corretas insisto em dizer que teríamos um país muito mais pacífico.
(Me atribuem, muitas vezes, o título de “sonhador” e “ingênuo” como se fosse eu quem defendesse, ingenuamente, a repetição de práticas que se mostram ineficazes por décadas a fio).
Creio que é um desafio central interromper essa mentalidade e tratar as coisas de modo mais racional, e isso cabe fundamentalmente aos gestores públicos. É preciso parar, respirar e lidar com o tema com toda a complexidade que ele exige.
Na ponta, em quase todo o Brasil, os policiais trabalham com poucas informações qualificadas. Atuam desorientados esperando encontrar algum cometimento de ilícito (por isso a tendência é que só sejam pegos os “peixes pequenos”).
A relação entre as polícias é explosiva, contraproducente, impraticável.
O problema econômico e de Saúde Pública que é a comercialização e consumo de drogas vem sendo colocado no colo das polícias – aumenta o consumo no mesmo ritmo em que aumentam as apreensões.
A relação entre policiais e demais cidadãos, salvo casos específicos, é distante e eivada de preconceitos.
Equipamentos, salários e condições de trabalho nem sempre são bem cuidadas nas polícias.
O autor de crime grave (homicídio, por exemplo) dificilmente é punido. Se for punido será através de um sistema penitenciário precário onde práticas ilícitas (do Estado e das organizações criminosas) continuam sendo feitas.
O Estado não oferece aos jovens perspectivas de vida tão sedutoras como as organizações criminosas oferecem – principalmente os que vivem em ambiente familiar conturbado.
Alguns policiais, por vontade de fazer justiça, acabam praticando abusos, dando vez para aqueles que visam lucrar com o abuso da força (que se sentem confortáveis em alegar “justiça” em sua ação). O policial que usa a força legitimamente acaba sendo questionado por causa do mau histórico de alguns colegas.
A mídia, ou grande parte dela, reforça a necessidade da guerra (e dos lados). Lucra com isso. Incentiva a violência e critica a violência que incentivou.
Os pontos que acabei de levantar são apenas uma introdução superficial das dinâmicas que estamos vivendo no Brasil. Fica a pergunta: você ainda acha que o discurso simplista do “Bem” contra o “Mal” nos fará avançar?
Fonte: Abordagem Policial (Danillo Ferreira)
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