PMs agrediram suspeito que havia furtado frascos de repelente em Laguna.
Coronel da PM amassou depoimento e colocou no bolso, diz delegado.
Um delegado de Laguna, no Sul de Santa Catarina, deu voz de prisão a um coronel da Polícia Militar de Santa Catarina e a três militares da corporação após a detenção de um suspeito na manhã de terça-feira (24).
Segundo o delegado Leandro Loreto, quatros policiais chegaram na delegacia com um homem algemado e três deles teriam agredido o detido. O suspeito havia furtado dois frascos de repelente em um mercado.
"Ele estava no chão, algemado e o chutaram. Perguntei quem tinha batido e um deles me disse que se eu estava com pena, podia levar para casa", afirma Loreto.
Três policiais receberam voz de prisão por abuso de autoridade e um deles por desacato. Segundo Loreto, um dos militares chegou a prestar depoimento, mas o coronel, comandante da corporação em Laguna, foi até a delegacia buscar os policiais.
"De tarde, o coronel voltou com os quatro policiais [um deles é testemunha] e pediu uma cópia do documento. Eu não entreguei, pois somente advogado tem direito. Ele pegou o depoimento que estava sobre a mesa, amassou, fez uma bolinha de papel e botou no bolso", detalha o delegado.
O coronel recebeu voz de prisão por desacato, supressão de documento e desobediência. A soma dos três crimes é inafiançável, segundo o delegado. "Ele simplesmente virou as costas e saiu levando a tropa dele. Qualquer pessoa que não tivesse a força bélica que ele tem seria presa", afirma Loreto.
Segundo o delegado, ele não os prendeu para garantir a integridade dos policiais civis. "Eu os adverti que não usaria a força para prendê-los. Eles estavam em maior número e mais fortemente armados e eu não colocaria meus policiais em confronto", defende o delegado.
Suspeito furtou repelentes
O homem detido por furtar dois frascos de repelente foi liberado e deve responder um termo circunstanciado. De acordo com a Delegacia de Laguna, ele já tinha passagens por pequenos furtos.
Relatório ao Ministério Público
Após a atitude dos militares, o delegado Leandro Loreto fez o relatório detalhado e encaminhou a Promotoria de Laguna. "Ele usou a força estatal contra um órgão legitimado para apurar violação dos direitos humanos. É uma atitude impensável que remonta a ditadura. A atitude do coronel não condiz com o cargo de gestor que ele tem. Não é um caso isolado, é reflexo de uma postura estatal", afirma.
Loreto é responsável pela Delegacia de Forquilhinha e estava na Delegacia de Laguna até a tarde de terça (24) para a Operação Veraneio. Por esse motivo, segundo o delegado, não foi encaminhado nenhum pedido ao Ministério Público, além do relatório.
"Mandei para que a promotora tenha noção do que aconteceu e tome as providências cabíveis. O Delegado Regional também está ciente. Não sei o que, mas algo precisa ser feito", diz.
O G1 entrou em contato com o a Polícia Militar de Laguna e com a o Centro de Comunicação Social da PM, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
De acordo com a assessoria de imprensa do Ministério Público, o relatório foi entregue à promotora de Justiça que atua no controle externo da polícia. Ela deve instaurar procedimento investigatório criminal para apurar os fatos.
Fonte: G1 SE
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