Uma coisa é uma polícia respeitada e detentora de legitimidade. Outra coisa é uma polícia popular.
Em determinada comunidade é possível que uma minoria viva oprimida e tenha direitos desrespeitados por uma maioria que aplaude e estimula a omissão da polícia local. Nesse caso, a polícia pode ser popular, mas não está agindo com profissionalismo, excelência e ética.
Da mesma forma, é possível que a polícia aja de forma brutal em determinada circunstância e seja aplaudida por uma maioria que não se reconhece nas vítimas da brutalidade policial, e então a polícia é elevada à popularidade sem estar exercendo seu dever, como reza a lei.
Esse tema é mais um que se soma à complexidade do ofício policial: por lidar com Direitos, é arriscadíssimo à polícia jogar para a platéia, que quase nunca tem o senso de legalidade e justiça apurados, pois enxergam as ações policiais sempre sob a perspectiva de interesses particulares – mesmo que contraditórios com sua própria realidade de vida.
Em época de mídias sociais, onde a propagação do ódio está popularizado e a defesa da violência é posicionamento político(?) comum, o canto da sereia para seduzir os policiais (que, como membros da sociedade, também se inserem nesse coral) é ainda mais forte. A jornalista Eliane Brum escreveu um artigo brilhante sobre essa intensa apologia da violação do outro através da internet:
“Nas postagens e comentários das redes sociais, seus autores deixam claro o orgulho do seu ódio e muitas vezes também da sua ignorância. Com frequência reivindicam uma condição de “cidadãos de bem” como justificativa para cometer todo o tipo de maldade, assim como para exercer com desenvoltura seu racismo, sua coleção de preconceitos e sua abissal intolerância com qualquer diferença.”
Na ânsia por popularidade, a polícia corre o risco de abandonar a diferença existente entre a condição profissional policial e a do cidadão comum, que, em regra, não possui preparo técnico para diferenciar a ação policial legítima da ilegítima – embora possa opinar, criticar e questionar qualquer fato envolvendo policiais.
Os cidadãos policiados devem sempre ser ouvidos, mas através do filtro da legalidade e da justiça, que nem sempre é popular.
O problema é que, em muitos casos, essa tal popularidade tem sido a via de fuga de organizações policiais com baixa autoestima profissional, onde policiais são (ou foram) submetidos a infâmias institucionais em prol de politicagem e interesses diversos dos que posicionariam esses profissionais como referências técnicas e morais.
Assim como a jovem celebridade do show business que, mal orientada, acaba se degradando em meio a muito assédio, não são os sensacionalistas que pagarão o preço da popularidade ilegítima das polícias. São os próprios policiais.
Fonte: Abordagem Policial (Danillo Ferreira)
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