Com muita tristeza fechei ontem meu primeiro ano de polícia. Não tem sido fácil a caminhada.
Foram dias de muito aprendizado, de esforço ao máximo, de dedicação.
No curso nos tratam como lixo, com a justificativa que seria importante para nós aqui fora resistirmos à frustração.
Hoje sei de que nada adianta aquele tratamento, mas que a frustração vai sempre existir aqui fora. Mas não tenho que aprender a conviver com ela, tenho que vencê-la.
Não é fácil voltar pra casa feliz mesmo quando prendemos um criminoso, porque sabemos que ele não ficará muito tempo e quando sair vai continuar sua empreitada criminosa.
Não é fácil voltar pra casa depois de bater boca com a população que escolhe ficar do lado do criminoso.
Não é fácil ter como cobertura um sistema falho e que tem como maior objetivo punir o policial e não ajudá -lo a seguir.
Não é fácil voltar pra casa sem o respeito da população, porque isso nem mesmo é ensinado mais em casa.
Não é fácil trabalhar sem a estrutura mínima e ainda lograr êxito.
Não é fácil olhar nos olhos da família ao se despedir com a certeza que a volta pra casa é uma incerteza.
Não é fácil prender e ver a justiça soltar.
Não é fácil ver o criminoso tomar sua bebida na esquina sorrindo pra você enquanto ontem você corria atrás dele arriscando sua vida por nada.
Não é fácil ver o antigo aposentar frustrado dizendo “Essa polícia nunca vai mudar!”.
Eu queria dizer pra ele que vai, mas não posso.
Não é fácil ter de se defender pra um juiz ou promotor como se bandidos fosse, por ter cumprido sua missão, as vezes com exageros e erros sim, mas só quem sabe como é nas ruas, só quem já sentiu frio, fome e medo, só quem foi desrespeitado, só quem viu roubar, matar, só quem viu tanta crueldade sabe como é dura sua reação quando tem de ser.
Não é fácil voltar pra casa querendo ter feito mais.
Não é fácil voltar pra casa sem seu parceiro, sem seu maior exemplo, sem seu amigo morto pelo inimigo sem qualquer defesa.
Não é fácil ser incompreendido.
Não é fácil sentir está dor e continuar a lutar, às vezes, por tão pouco.
Ninguém nos disse que seria fácil, é verdade. Fomos preparados para a guerra, mas queremos viver nela. Morremos e vivemos pela paz, pelo amor e respeito à vida. E que nossas vidas não sejam retiradas em vão.
Respeitem a minha dor, porque ontem perdi um amigo* na guerra das ruas do Distrito Federal.
Ele era um bom homem, um dos melhores e seu assassino já tinha matado três e estava livre.
A liberdade dele agora é no inferno e do nosso amigo e anjo é no céu. Porque cada um tem seu lado, de que lado vocês estão?
Por Alane Moraes
Fonte: Mundo Policial Militar
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