A falta de vagas no sistema penitenciá-rio sergipano está criando mais problemas nas delegacias da Polícia Civil, cujas carceragens permanecem superlotadas. Na noite deste sábado, policiais do Grupo Especial de Repressão e Buscas (Gerb) descobriram uma tentativa de fuga que estava sendo planejada na 2ª Delegacia Metropolitana (2ª DM), no Getúlio Vargas (zona oeste). Uma equipe da unidade fazia uma revista no local quando descobriu um buraco que estava sendo escavado há pelo menos uma semana. Segundo a polícia, esta abertura era feita na parede de uma cela e daria para um terreno baldio que fica nos fundos da unidade. Pelo menos 13 dos 67 presos ali detidos poderiam fugir a qualquer momento.
A informação foi confirmada pelo delegado-geral da Polícia Civil, Everton Santos, que atribuiu o problema à interdição do Complexo Penitenciário Manoel Carvalho Neto (Copemcan), decretada há mais de duas semanas pela Justiça e que, desde então, vem impedindo boa parte da transferência de presos provisórios das delegacias para o sistema prisional. "Desde que eu assumi a Delegacia-Geral, nós tínhamos uma demanda de 400 presos nas delegacias. Por semana, são presos de 70 a 100 indivíduos pelos órgãos de segurança e em operações, só que esses presos eram encaminhados semanalmente para os presídios, principalmente o Copemcan. A interdição dele nos dá um prejuízo muito grande, porque ficamos sem alternativas, não temos para onde encaminhar mais. Desses presos que eram transferidos por semana, cerca de 50 a 60 estão sendo represados", disse Everton.
Estima-se que, atualmente, existam quase 600 presos detidos em delegacias da Polícia Civil, sendo 450 só em Aracaju e região metropolitana. A crise obrigou a Polícia Civil a redistribuir estes presos detidos semanalmente pelas carceragens das delegacias onde há vagas. E para impedir que haja fugas ou rebeliões, revistas periódicas, em espaços de poucos dias, passaram a ser feitas pelo Gerb em todas as delegacias da capital, já que poucos policiais costumam ficar de plantão durante a noite e a madrugada. No caso da 2ª DM, uma das carceragens mais superlotadas da capital, apenas dois policiais estavam de plantão quando o buraco foi descoberto. A segurança foi reforçada e nenhuma arma ou objeto foi encontrado.
De acordo com o delegado, os presos faziam a escavação em horários de muito ruído e escondiam a terra do reboco em sacolas, para que ninguém desconfiasse. "Eles fazem esse buraco com chaves, com pedaço de vergalhão, com cabo de madeira... tiram os vasos sanitários, alguns pisos de alguns xadrezes não têm brita e são feitos com cimento e areia... essa situação vai ser corriqueira enquanto houver esses presos represados nas delegacias", diz Everton, informando ainda que os presos da cela onde o buraco foi escavado tiveram que ficar no pátio da carceragem, aguardando a secagem do reforço de cimento e brita que foi colocado na parede da delegacia.
A 2ª DM é a mesma onde, na semana passada, durante a paralisação de 48 horas dos policiais civis, familiares de presos causaram um princípio de tumulto ao saber que as visitas seriam suspensas por questões de segurança. Na ocasião, tanto os parentes quanto os próprios detentos reclamaram das péssimas condições vividas na prisão. Cada uma das quatro celas da 2ª DM possui hoje entre 12 e 15 presos, o que os obriga a se revezarem para dormir no chão da cela, e por apenas meia hora. Eles reclamam ainda da falta de água para o banho, do risco de transmissão de doenças e da alimentação precária. "Olhe, o cachorro da minha mãe tá sendo mais bem tratado que nós aqui", dispara um dos presos.
A Secretaria Estadual de Justiça (Sejuc) promete abrir mais 600 vagas até o final do ano, com a conclusão da reforma da Penitenciária de Areia Branca (Agreste) e a construção de duas unidades: a Cadeia Pública de Estância (Sul) e um anexo no Presídio Regional Senador Leite Neto, em Nossa Senhora da Glória (Sertão). Também assegura que já foram adquiridas 500 tornozeleiras eletrônicas que serão implantadas para monitorar os presos do regime semiaberto, o que pode abrir mais vagas no sistema prisional.
Fonte: Jornal do Dia (Gabriel Damásio)
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