Professor de Vigário Geral cria memorial que visa a valorização dos alunos.
No lugar do fuzil, um microfone. Em vez da voz de prisão, um “Papo de Responsa”. Foi dessa forma que o policial civil Beto Chaves trocou as ruas por salas de aula, onde promove, há seis anos, um diálogo descontraído com os adolescentes sobre prevenção às drogas e violência, em escolas do Rio de Janeiro.
“Cometemos um erro gigantesco quando criminalizamos a juventude. Não existe resposta rápida para um problema complexo. Se o problema é difícil, as respostas são difíceis, são complexas. Juventude não é problema, juventude é a solução. Ela é o futuro desse país, o futuro da nossa sociedade”, diz Beto.
Segundo o policial, que está há 12 anos na polícia, o momento crucial para a mudança de rumo aconteceu na sua segunda operação na rua, onde três meninos morreram. Depois de ver jovens de 16, 18 e 19 anos mortos, resolveu fazer alguma coisa diferente.
“No 'Papo' a gente fala sobre a vida, sobre a possibilidade de convivermos de uma maneira melhor. Trazemos nossos exemplos e, no final, não queremos convencê-los, queremos fazê-los pensar. Somos ferramenta para eles tomarem essa decisão. Quando eu fiquei intranquilo lá naquela operação e visualizei a possibilidade do 'Papo', eu estava com essa intranquilidade e pensando o que dava para fazer diferente daquilo”, lembra o policial.
Para Beto, introduzir a ideia de que não é apenas com arma que se resolve a questão da violência foi difícil.
“Nossa instituição é uma das mais antigas. É uma lógica de repetição pela rotina tão dura que você vive todo dia, que você nem pensa mais, passa para o automático, é como andar ou respirar. Mas, naquele momento, resolvemos abaixar as armas e aumentar a voz. Enquanto as armas falarem mais alto do que todos nós, nós vamos perder e não vamos resolver o problema. Se fosse isso, já teria resolvido o problema no mundo. As armas fazem parte, mas estão longe de ser a solução. É impossível estabelecer justiça verdadeira, sem justiça social”, garante o policial, que dá palestras em escolas públicas e privadas em todo o Estado do Rio.
Sede do Papo de Responsa fica na Cidade da Polícia, na Zona Norte do Rio (Foto: Janaína Carvalho / G1)
Apesar de várias escolas ficarem em áreas consideradas “de risco”, os policiais que fazem parte do projeto dão as palestras usando roupa da Polícia Civil. Só no ano de 2014, 26.359 estudantes debateram com policiais civis questões importantes e de situação de risco no seu dia a dia. No total geral, 29.223 pessoas foram atingidas pelo Programa Papo de Responsa, incluindo professores e educadores, que têm papel fundamental no processo, já que fazem parte da rotina dos jovens.
Horta ajuda escola a reduzir violência entre alunos
Através da auto-valorização, um professor da Escola Municipal Hebert Moses, criou o memorial “Qual é a Graça”, que esclarece e combate o racismo, o preconceito e a discriminação com os negros ou outras formas de intolerância contra qualquer pessoa. Com esses fundamentos, o professor de ciências Luiz Henrique de Melo Rosa fez um jardim temático com a participação dos alunos, onde eles aprendem mais sobre a própria cultura.
Quando surgiu a ideia do projeto, o professor identificou, de imediato, os apelidos pejorativos com os quais os jovens se chamavam. “Eu ouvia ‘macaco’, ‘preto de macumba’, ‘carvãozinho’, ‘neguinho da marola’. Então, resolvi listar e colhi cerca de 300 apelidos relacionados à questão racial negra entre os alunos de 6° e 9° ano”, contou o professor.
O projeto, que existe há cinco anos, se sustenta através de doações de professores e quermesses realizadas na escola.
“Isso é um trabalho de formiguinha, que todo ano se renova. Como o colégio é do 6° ao 9° ano, todo ano entra aluno novo e a gente precisa renovar. Hoje, praticamente, não temos registros policiais como existia antigamente. Se é possível aprender a odiar, é possível aprender a amar. Não precisamos de detector de metal aqui na entrada. A mensagem passada de outra forma é mais eficaz”, garante o professor.
Fonte: G1 RJ
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