Dois anos após a morte do recruta Paulo Aparecido Santos de Lima, que sofreu um mau súbito durante um treinamento no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (Cfap) em novembro de 2013, a Polícia Militar do Rio concluiu, anteontem, um Inquérito Policial Militar (IPM) sobre o caso. A investigação apontou, conforme consta no boletim reservado da corporação, “a existência de crime e de transgressão da disciplina” por parte dos capitães Renato Martins Leal da Silva e Sérgio Batista Viana Filho, e dos tenentes Slan Guimarães Procópio e Gerson Ribeiro Castelo Branco. Não consta no documento, porém, nenhuma punição para os quatro oficiais.
Segundo o texto, os indiciados forçaram os alunos “à prática extenuante de exercícios, dando insuficientes oportunidades para reidratação”. O fato, aponta também a conclusão do IPM, ocorreu no dia mais quente daquele ano, “quando os termômetros marcaram 41,8° C e a sensação térmica foi de 50° C”.
Ainda de acordo com o teor do boletim, a rotina imposta pelos então instrutores do Cfap ocasionou problemas de saúde em pelo menos 26 recrutas, incluindo insolação, lesões bolhosas e queimaduras de segundo grau. Já Paulo Aparecido sofreu uma intermação — mau causado por exposição excessiva ao calor — e chegou a ser levado para o Hospital da Polícia Militar, onde morreu dez dias depois.
Procurada, a PM afirmou que trata-se de um segundo IPM sobre o caso, instaurado este ano para apurações complementares. O primeiro, encaminhado à Auditoria de Justiça Militar em agosto de 2014, já havia apontado indícios de cometimento de crime e transgressão disciplinar por parte dos policiais envolvidos. A corporação não informou, contudo, se algum dos oficiais já foi efetivamente punido.
Em depoimento a promotores da Auditoria Militar, alunos que participaram da instrução relataram uma rotina de exercícios puxados, abusos e até pegadinhas por parte dos oficiais. Um recruta chegou a contar que, “enquanto os alunos queimavam as nádegas no chão quente, o capitão Leal encheu um copo de refrigerante e fez passar na mão de todos, sem que pudessem beber”. O aluno afirma que, nesse momento, o capitão estava numa viatura com o ar condicionado ligado. A sensação térmica chegou a 50 graus em Sulacap, bairro do CFAP, naquele dia.
No dia do treinamento, Paulo Aparecido foi removido da instrução “desmaiado, sendo colocado na maca, sem responder aos estímulos. Foi feita massagem cardíaca, (...) voltando à frequência do coração”. Após ter sido reanimado, Paulo ainda foi levado à Unidade de Pronto Atendimento de Marechal Hermes (UPA) antes de ser levado ao Hospital Central da PM, onde teve morte cerebral diagnosticada dez dias depois.
Fonte: SOS PMERJ
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