quarta-feira, 30 de março de 2016

CAPITÃO ILDOMÁRIO PRESTA HOMENAGEM AO SARGENTO VIEIRA.


Dezenas de policiais e bombeiros militares compareceram à sede da Câmara Municipal em 16 de março deste ano, para acompanharem a posse de um policial militar no cargo de Vereador de Aracaju, o nosso querido Sargento Vieira.

Fui um dos que lá compareceu e posso aqui relatar minha impressão pessoal acerca do fato. Era visível no rosto de cada companheiro ali presente o ânimo de que a luta da categoria poderia estar recomeçando rumo a dias melhores.

Os militares mais antigos me conhecem e sabem que participei ativamente das batalhas por melhorias para a classe. Por esta razão, posso aqui afirmar: o sargento Vieira foi o policial militar que deu o pontapé inicial nas conquistas e visibilidade social das dificuldades financeiras e trabalhistas de nossa categoria.

Em pleno réveillon do ano de 2008 para 2009, quando poderia estar com sua família, o sargento Vieira compareceu à Orla de Atalaia – com mais 3 ou 4 companheiros – e fincou cruzes na areia da praia para simbolizar os diversos policiais militares que tombaram trabalhando em atividade extraordinária à corporação, o famoso “bico”. O ano de 2008 talvez tenha sido o ano em que mais policiais militares faleceram neste tipo de serviço.

Além de fincar as cruzes, o sargento Vieira, incansavelmente, distribuía panfletos a todos aqueles que se deslocavam à praia. Nos panfletos buscava-se a conscientização da população sobre as dificuldades da categoria e as necessidades pelas quais passava os nossos militares, sendo uma delas a necessidade de um segundo emprego em segurança privada para poderem sustentar suas famílias.

Estas instalações audiovisuais foram levadas para outros diversos pontos da cidade, sendo adaptadas a outras realidades da corporação. Como exemplo, tivemos o bolo de 17 anos de comprimento montado na Praça Fausto Cardoso para “comemorar” o tempo médio de promoção de um soldado a cabo, o que fora amplamente divulgado na mídia à época.

Desta forma, o movimento criou corpo e eclodiu com o famoso “Tolerância Zero”. O maior movimento de militares estaduais da história desse estado.

Os frutos desse movimento foram colhidos. Do soldado mais modernos ao coronel mais antigo, todos os militares conseguiram uma melhor remuneração.

Findo o movimento, alguns militares foram denunciados pelo Ministério Público Militar. Dentre estes, obviamente, encontrava-se o sargento Vieira. Num julgamento emocionante, nosso líderes foram absolvidos por 3 votos a 2. Caso mais um juiz votasse pela condenação, a pena seria de – no mínimo - 4 anos de reclusão. Uma condenação ensejaria, além da privação da liberdade, a exclusão dos quadros da Polícia Militar.

Absolvido, meses depois o sargento Vieira foi punido com 5 dias de detenção por ter, em programa de rádio de grande audiência, cobrado a implantação da carga horária dos militares e o nível superior para ingresso. 

Talvez muitos de nós não saiba, mas foi a única prisão efetivamente cumprida por um líder de classe militar neste estado motivada por reivindicação.

Sinceramente, pensei que Vieira fosse desanimar com esta prisão. 

Um engano.

Continuou se dedicando com o mesmo afinco na defesa das demandas da categoria.

Posso aqui relatar algumas conquistas, especialmente para aqueles que tem memória curta ou que não tomaram conhecimento das ações.

1. A luta pela anistia dos policiais militares que doarem sangue no Precaju 2012 e foram processados; dos companheiros da CPTur que resistiram a uma escala de serviço mais penosa e dos bombeiros que foram punidos administrativamente no ano de 2012. A anistia foi conseguida e aproximadamente 500 militares foram beneficiados com esta ação. Dentre eles, a minha pessoa;

2. O convencimento feito perante à sociedade sobre a falta de concurso para a Polícia Militar e as perdas anuais de efetivo não repostas que culminaram, junto a outras ações de diversos atores sociais, com a realização do concurso público para o ingresso de novos soldados no ano de 2014;

3. As diversas reuniões realizadas no Ministério Público que melhoraram as condições de trabalho do Corpo de Bombeiros, a aquisição de novos equipamentos e melhoria das instalações físicas;

4. A conquista de um programa de rádio próprio para os militares. O que possibilitou à categoria um espaço próprio para os debates de seus anseios sem a necessidade de barganhar um tempo junto a alguma emissora, o que muitas vezes era negado face à conjuntura política do momento;

5. O fim do rancho e da alimentação, muitas vezes de péssima qualidade, servida a nossos militares e a implantação do ticket refeição. Obviamente, o nome de quem lutou por isso não constará de nenhum registro oficial. Porém quem acompanhou a luta, sabe de onde ela se originou;

6. Junto à Associação Nacional de Praças, a conquista da federalização do porte de armas para todos os militares estaduais do Brasil.

Poderia aqui relacionar várias e várias lutas, mas vou me limitar a estas acima.

No ano de 2012, ao fim do Precaju, o sargento Vieira foi submetido a Conselho de Disciplina. O resultado, para os de fraca memória, foi sua reforma a bem da disciplina. Para resumir, Vieira seria aposentado com vencimentos proporcionais ao seu tempo de contribuição à previdência.

Para os que não conhecem a família deste bravo militar, o cidadão tem 3 filhos para criar!

Meus amigos, apontar os dedos para criticar qualquer ser humano é fácil. Difícil é se por no lugar do outro. 

Qual de nós faria tamanho sacrifício? Tirar da boca da própria família o seu sustento em nome da causa de uma categoria? Quem se prestaria a lutar contra a mais rígida das legislações brasileiras?

Pararam para pensar?

Continuo...

No mesmo ano de 2012, após ser aviltado em sua liberdade e com o risco eminente de ser reformado, Vieira tentou uma vaga como vereador de Aracaju. Buscava a imunidade em seus discursos em prol da categoria na Câmara de Vereadores e na imprensa. Além disso, ser liberto da legislação militar para melhor lutar pela categoria.

Vieira ficou primeiro suplente de sua coligação. Apesar de alcançar mais votos que seis outros vereadores, ficou fora da Câmara. Não eleito e correndo risco eminente de ser reformado, ingressou em um quadro clínico de profunda depressão. Muitos disseram que ele não retornaria mais à luta, face o momento difícil que estava vivendo.

Muitos de vocês, provavelmente, não tiveram conhecimento deste fato. Devem ter ouvido, em alguns quartéis, comentários depreciativos dizendo que o nosso velho companheiro havia se afastado da luta por não ter vencido a eleição. 

Novamente faço o convite para que os militares reflitam e se ponham no lugar do outro. E se fosse qualquer um de nós, o que faríamos? Agiríamos de qual forma, sabendo que a qualquer momento o Conselho de Disciplina poderia ser executado?

Contrariando as previsões reinantes, Vieira retornou à luta!

De uma forma  mais comedida e se equilibrando nas possibilidades que a legislação militar nos impõe, ainda conseguiu algum espaço nas conquistas da categoria. Reassumiu a presidência da Amese e voltou a trabalhar em prol da tropa.

Os que acompanham as movimentações políticas recentes tomaram conhecimento do recente afastamento do vereador Agnaldo Feitosa por ter assumido a Secretaria de Saúde. Surgiu, então, a oportunidade de Vieira assumir a cadeira de Vereador. 

Fui honesto com ele. 

Alertei-o dos riscos inerentes ao fato de assumir este precário mandato. Dentre eles, a ida para a reserva remunerada com apenas 60% de seu salário.

O velho Vieira, com brilho nos olhos, disse-me “Capitão, agora estou livre para trabalhar em prol dos militares!”

Admirei a dignidade da postura! 

Para ser sincero, não faria o que ele fez. Sacrificar minha carreira e o pão de minha família para um mandato de no máximo 9 meses e que poderia ser retirado a qualquer momento? Quem o faria? Sinceramente, você faria?

Registro que esta é mais uma das limitações da legislação militar: a reserva remunerada para os que ocupam cargos eletivos.

Avante.

Tomada a posse, o sargento Vieira adotou um ritmo frenético de trabalho. Duvido que algum outro vereador ou político tenha se empenhado tanto em resolução de problemas de categoria como fez nosso companheiro em tão curto tempo.

Visitou os comandantes gerais da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros, o secretário adjunto de Segurança Pública, diversas unidades operacionais e diversos policiais militares e bombeiros, especificamente os mais necessitados: o cara realmente se sacrifica em prol da tropa, seu telefone não para de tocar.

Porém, como diria o velho ditado, a “alegria do pobre durou pouco”: O então Secretário Municipal de Saúde, que a plenos pulmões afirmara que não retornaria mais à Câmara de Vereadores decidiu - em última hora, retornar à sua cadeira. O resultado será a saída de Vieira da posição de Vereador e o passar a viver, a partir de agora, com salário reduzido.

Meus amigos, um baita de um sacrifício!

Em reconhecimento aos seus préstimos e à sua dedicação às causas da categoria, decidi desistir de minha pre-candidatura a Prefeito de Aracaju e me empenharei para que nosso amigo de luta possa retornar, de cabeça erguida e sem depender de contextos políticos, a poder exercer o verdadeiro mandato em nome da família militar.

Espero, que os demais camaradas que leram este breve resumo, possam fazer uma reflexão do que foi exposto aqui e que venham a arregaçar as mangas na luta pela sua dignidade. A hora é de UNIDADE.

QUE DEUS NOS AJUDE!

Ildomário Gomes

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