A polícia sergipana admite a possibilitadade de que parte das armas de fogo ilegais que circulam atualmente em Sergipe tenham sido fornecidas por criminosos de outros estados, principalmente do Sudeste do país. Esta é uma das hipóteses trabalhadas pela Secretaria da Segurança Pública (SSP), que abriu várias investigações para apurar a origem das pistolas e revólveres apreendidos cotidianamente pelas polícias no Estado. Segundo dados do Centro de Estatística e Análise Criminal (Ceacrim), da SSP, 690 armas de fogo foram recolhidas entre janeiro e abril desse ano, apenas pelas polícias Civil e Militar.
O número indica uma tendência de alta, pois já representa pouco mais da metade das apreensões registradas em anos anteriores. Em 2015, o total foi de 1.353 armas, contra 1.247 em 2014. O Ceacrim não especificou os números relativos aos tipos das armas de fogo, mas, segundo a polícia, o mais comum é o revólver calibre 38 de seis munições, conhecido como 'oitão', 'ferro' ou 'canela seca'. Entre as armas longas, como espingardas e escopetas, as mais frequentes são as de calibre 12, cuja munição é considerada de forte poder destrutivo.
A indicação de que a polícia quer saber a origem das armas que circulam diariamente foi dada em uma entrevista recente do secretário João Batista Santos Júnior, que citou a existência de "traficantes de armas que abastecem o mercado do crime no estado". Provocada pelo JORNAL DO DIA, a assessoria da SSP confirmou que há mesmo uma determinação do secretário para que as equipes policiais identifiquem qual a origem de armas de fogo em Sergipe. "João Batista pediu atenção do Complexo de Operações Policiais Especiais (Cope) da Polícia Civil para identificar qual a origem nos casos de investigações que envolvam organizações criminosas e outros grupos mais articulados. A ideia é que, identificando a origem dessas armas, a Secretaria da Segurança Pública defina ações para prender os responsáveis pela distribuição, porte e posse dessas armas de fogo", diz a repartição, em nota.
O delegado-geral da Polícia Civil, Alessandro Vieira, confirmou as investigações específicas em andamento sobre o suposto tráfico de armas. Ele preferiu não dar detalhes, pois o trabalho corre em sigilo. Entretanto, ele acredita ser provável que parte das armas de fogo ilegais tenha sido trazida de fora. "Sergipe não tem nenhuma fábrica de armas, nem mesmo os estados próximos. Logo, se deduz que essas armas estejam sendo trazidas do Sudeste ou do Sul. Precisamos descobrir quem traz estas armas e como elas chegam ao criminoso", diz Alessandro. A hipótese mais provável, segundo fontes policiais, é de que as armas de outros estados sejam trazidas de forma avulsa, ou seja, em pequenas quantidades ou mesmo individualmente pelos criminosos que passam pelo Estado.
Nas trocas - No entanto, outro fator é considerado pelo delegado-geral: as armas legais já existentes em Sergipe, principalmente revólveres e pistolas, que muitas vezes acabam caindo nas mãos de criminosos. "Boa parte destas armas apreendidas são, geralmente, furtadas ou roubadas de vigilantes, de integrantes das forças de segurança ou de cidadãos que tem direito ao porte de arma. Uma vez furtadas, elas passam a circular e a ser usadas entre os criminosos", ressalta Vieira. Neste caso, uma alegação comum dos criminosos é de que a arma foi "comprada na Feira das Trocas", ou seja, em feiras clandestinas que comercializam todo tipo de produto, e nos quais as armas são trocadas por drogas, joias e bens roubados e tudo a preços muito abaixo do valor de mercado.
Foi o que se descobriu em 8 de abril deste ano, quando uma equipe do Cope prendeu um suspeito de vender armas e munições em Itabaiana (Agreste), cidade que vem registrando um grande número de homicídios. O acusado, Antônio Carlos Silva Oliveira, foi flagrado com cerca de R$ 1.400 em dinheiro, dois revólveres de calibre 38 e dezenas de munições do mesmo calibre. Segundo a polícia, Antônio admitiu que costumava comprar e vender armas de fogo e munições em feiras clandestinas, chegando a trocá-las por ciclomotores.
No que se refere a armas pesadas, como fuzis e metralhadoras, existem raras apreensões delas em Sergipe, sendo que alguns dos fuzis são de fabricação muito antiga. O que chama a atenção da polícia é o uso de armas caseiras, ou seja, improvisadas com ferragens, cabos de madeira e até peças retiradas de motos, como escapamentos, que são transformados em espingardas e garruchas (uma espécie antiga do revólver), adaptados para atirar com qualquer tipo de calibre, principalmente 38 e, no caso das armas longas, 12.
O Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826/2003) prevê, em seu artigo 17, que toda e qualquer forma de comércio, tráfico e fabricação não autorizada de armas de fogo, seja ela nacional ou internacional, é crime, sem direito à fiança e com pena entre quatro e oito anos de prisão. A punição pode ser aumentada se o tipo da arma ou munição for de uso restrito da polícia e das Forças Armadas, a exemplo das pistolas ponto 40. A SSP garante que o combate à circulação de armas ilegais vai continuar mais forte, dentro da estratégia de reduzir os índices criminalidades. "É bem claro que quanto menos armas circulando, você tem menos crimes e mais vidas salvas", resumiu o delegado Alessandro Vieira.
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