segunda-feira, 23 de maio de 2016

UM POLICIAL É ASSASSINADO NO RIO A CADA 4 DIAS.


A cada quatro dias um policial foi morto no Rio neste ano. Foram pelo menos 36 policiais militares e 3 civis, até 13 de maio. Do total de PMs, 10 estavam trabalhando e 26, de folga. No ano passado.de janeiro a novembro, 85 policiais morreram; 20 PMs em serviço. O crescente número de policiais assassinados levou à abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) pela Assembleia Legislativa para investigaras causas das mortes.

A Secretaria de Segurança e a Policia Militar anunciaram medidas para enfrentar o problema. Os dados de mortes em 2015 foram contabilizados pelo blog Pauta do Dia,que faz levantamento independente sobre violência contra policiais desde 2009. com base em boletins médicos e informações repassadas pelos próprios policiais, e é uma das fontes da CPI.

Só nos primeiros oito dias de maio. seis policiais morreram em confrontos e assaltos. O Rio de Janeiro foi o Estado em que mais policiais foram mortos, apontou o Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2015,0 recrudescimento da violência contra policiais acontece a despeito da Lei Federal 13.142. sancionada no ano passado, que tomou crime hediondo e qualificado o assassinato de policiais no exercício da função ou cm decorrência dela.

"É uma tragédia. O que está por trás é o modelo de segurança pública com base no confronto. A visão não é de controle da criminalidade, mas de eliminação do inimigo. As autoridades não se convencem de que esse modelo faliu. A policia mata. morre e não tem o reconhecimento da população", afirmou o deputado Paulo Ramos (PSOL). coronel reformado da PM fluminense e presidente da CPI. Ele se referia a comentário recente do secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, sobre mortes de policiais. Beltrame alertou: "As pessoas que atirarem cm policiais vão levar tiros também."

UPP social

Para o antropólogo Paulo Storani, ex-oficial do Batalhão dc Operações Especiais (Bope) e pesquisador da Universidade Cândido Mendes, o modelo de policiamento das Unidades de Policia Pacificadora (UPPs) não cumpriu o que prometeu porque "a polícia ficou sozinha no processo". "Era para haver também a UPP social. Isso não aconteceu e houve o retorno do criminoso para suas áreas. Mas de uma forma mais violenta. E ele encontra nessas regiões o policial preparado para a policia de proximidade, para mediar conflito. É um policial menos preparado para o confronto." 

A coordenadora das UPPs, major Pricilla Azevedo, nega que esteja ocorrendo "retomo dos criminosos". "Infelizmente, há um problema social e áreas com maior incidência de confronto." Em audiência na Assembleia, o chefe de gabinete do comandante-geral da PM. coronel Victor Yunes. atribuiu as dificuldades enfrentadas pela corporação ã crise financeira que atinge o Estado. "Temos dificuldades porque não estamos recebendo os repasses necessários. Precisamos que os recursos sejam tornados disponíveis para melhorar o serviço." 

Para aumentar a segurança dos policiais. Beltrame anunciou que vai transferir para áreas de UPP cabines blindadas, que permitirão o monitoramento sem a exposição do PM. E os fuzis serão trocados por carabinas em áreas dc grande aglomeração, para reduzir o número de balas perdidas. 

Bandidos matam PM sem farda e ameaçam família 

O cabo Luiz Carlos Dentino Barbosa Júnior, de 33 anos, estava na frente de um borracheiro, perto de casa, no bairro de Guadalupe, na zona norte, quando um "bonde" passou. Os criminosos pararam e anunciaram o assalto. Mas o cabo, criado no bairro, foi reconhecido como policial militar. Morreu no local, com um tiro na cabeça.

No mesmo dia, os criminosos invadiram a casa dele, levaram objetos de valor e deixaram um recado para a viúva com os vizinhos: que a família não voltasse. "Minha casa era própria. Agora está alugada. Tenho medo de ir lá até para cobrar o aluguel A polícia nunca fez nada", conta Yasmin Ceres Saldanha, hoje com 29 anos, que na ocasião se mudou com os filhos pequenos, com 2 e 3 anos, para a casa da mãe. 

Ela e Barbosa Júnior moravam juntos havia cinco anos. Mas nunca oficializaram a relação. Por causada burocracia, ela não consegue receber como pensionista. "Meus filhos recebem, mas o beneficio vai acabar quando eles tiverem 18 anos. Tenho de entrar na Justiça para ser reconhecida como viúva." 

Viúva denuncia falta de preparo e uso de arma velha 

Fabiana diz que revólver de seu marido, o soldado Thiago Machado Costa, falhou durante troca de tiros com assaltantes.

Na madrugada de 6 de abril, o soldado Thiago Machado Costa, de 31 anos, patrulhava o Morro Boa Vista, em Niterói, no Grande Rio, quando foi avisado que bandidos em um Corolla preto cometiam assaltos. Dois carros do 12." Batalhão foram ao local. Houve troca de tiros. Costa fez quatro disparos e a arma dele falhou, afirma a viúva, a publicitária Fabiana da Cunha Almeida, de 43 anos. "Os colegas contaram que as quatro armas dos policiais falharam. Nenhum tinha fuzil", disse Fabiana. Campeão estadual de kickboxing. Costa foi baleado na cabeça. 

Morreu seis dias depois. Se sobrevivesse, o PM ficaria com sequelas irreversíveis, mas Fabiana fala que tinha esperanças. Segundo ela, o marido foi tratado "como lixo" no hospital. "O bocal do respirador nunca foi trocado, o que abriu caminho para uma pneumonia. Ele perdeu muito sangue e precisava de transfusão. Mais de 400 pessoas apareceram para doar sangue, mas ele não recebeu nenhuma bolsa. Simplesmente não se entendiam sobre o melhor momento da transfusão", disse em depoimento à CPI da Assembleia Legislativa. 

Fabiana se queixa da falta de preparo. "Thiago estava formado havia cinco anos e só recebeu treinamento quando entrou na polícia. Por duas vezes praticou tiro em estande particular. As armas estão velhas. Bandidos estão mais bem armados". 

Apuração

O Estado procurou a Secretaria de Segurança. Ela informou que "na ocasião, o diretor do Hospital da PM ficou em contanto constante com um diretor do Hospital Azevedo Lima". A PM afirmou que presta toda a assessoria à família do soldado. "Quanto ao fato de a arma ter falhado foi aberta uma apuração".

Fonte:  O Estado RJ

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