Conhecido como Fat Family, líder do tráfico foi resgatado durante invasão a hospital no Rio; ação matou uma pessoa
Traficante Fat Family estava internado sob custódia no Hospital Municipal Souza Aguiar no Rio
A cúpula do Comando Vermelho presa no Complexo Penitenciário de Bangu, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, fez uma festa dentro da cadeia assim que foi informada pelo aplicativo Whatsapp do resgate de Nicolas Labre Pereira de Jesus, o Fat Family, na madrugada do último domingo (19), de dentro do Hospital Municipal Souza Aguiar. A informação foi confirmada pelo juiz da Vara de Execuções Penais, Eduardo Oberg. “Foi em Bangu 3, no dia da soltura do preso. Vou requerer que a polícia apure essa festinha”, afirmou.
Há informações de que o tio de Fat Family, Edson Ferreira Firmino de Jesus, conhecido como Zaca, foi aplaudido pelos detentos. A polícia apura se ele deu o aval para o resgate. Zaca, que coordenou o tráfico no Morro Santo Amaro, no bairro da Glória, é condenado por homicídio e tráfico de drogas. Outros dez traficantes da facção serão transferidos nesta terça-feira (21) para presídios federais distintos, em outros estados.
Na ação dos traficantes no Souza Aguiar, hospital de referência olímpica, o vigilante Ronaldo de Souza foi baleado e morreu. Além dele, o policial militar Fábio Ferreira e o técnico de enfermagem Júlio Santos foram baleados. Os dois seguem internados em estado grave.
Segundo a Delegacia de Homicídios da Capital, os criminosos usaram, além de fuzis e revólveres, três simulacros de pistolas que foram deixados para trás. Imagens de câmeras de segurança da unidade mostraram que cinco criminosos com toucas renderam uma recepcionista e foram até o sexto andar, onde estava Fat Family. Outros seis ficaram na entrada do local.
Quatro policiais militares que faziam a custódia do preso se esconderam ao perceber os traficantes com fuzis. Sem resistência, os traficantes usaram um alicate para soltar a algema da maca. A perícia analisa as impressões digitais da ferramenta.
Na saída, já no pátio, o PM Fábio Ferreira reagiu à ação dos bandidos ao chegar à unidade para socorrer o amigo que faleceu. No total, 38 tiros foram disparados. A Polícia Militar fez operações em diversas comunidades do Estado para combater o tráfico e buscar o criminoso foragido.
“Não dá para ficar sem você”, diz a namorada, grávida de cinco meses
Familiares e amigos se despediram na segunda-feira (20), no cemitério Nossa Senhora do Belém, de Ronaldo Luiz Marriel da Silva, de 35 anos, vigilante morto no ataque de traficantes ao Hospital Souza Aguiar. “Não dá para ficar sem você”, escreveu no Facebook a namorada de Ronaldo, grávida de cinco meses. Segundo familiares, Ronaldo tem uma filha de 13 anos, fruto do primeiro casamento, que vivia com ele há pouco tempo.
Um primo da vítima contou que um tiro atravessou o pulmão e o coração de Ronaldo. Ele e um amigo, o PM Fábio Ferreira da Silva, procuraram atendimento no Souza Aguiar após sofrer um ferimento leve ao apartar uma briga em boate da Lapa. Quando os dois entravam no hospital encontraram o bando que resgatou Fat Family fugindo e houve troca de tiros.
“Um verdadeiro turismo com o ferido pela cidade”
O secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, destacou a importância de um atendimento digno aos presos feridos. O secretário solicitou ao governador em exercício, Francisco Dornelles, o funcionamento do Hospital no Complexo Penitenciário de Bangu. “Se não tiver condições de ele funcionar, que veja a possibilidade de colocar um hospital de campanha, para que a gente não fique fazendo um verdadeiro turismo com o ferido pela cidade”, disse.
A transferência de Fat Family do hospital foi solicitada pelos médicos. Ele controla o tráfico no Morro Santo Amaro, ocupado pela Força Nacional desde 2013. O contrato para a ocupação foi prorrogado por mais 90 dias na última quarta-feira (15). Moradores se queixam que agentes não ficam na área todos os dias.
Em Bangu, agentes falam sobre Wi-Fi e hambúrgueres
Informações trocadas entre grupos de agentes penitenciários mostram que há regalias nas galerias do Comando Vermelho no Complexo de Bangu. Entre as mordomias estão rede wi-fi de internet, distribuição de brindes eletrônicos e eletrodomésticos no Dia das Mães – que seriam roubados de uma carga no Rio e que estava sem nota fiscal –, além de munição de escopeta.
Entre outras regalias, uma chamou a atenção de um grupo de agentes. Segundo eles, um funcionário de uma cantina teria entrado na última quinta-feira (16), em Bangu 5, com dez hambúrgueres, batata frita e refrigerante para vender aos detentos. A Vara de Execuções Penais (VEP) do Tribunal de Justiça do Rio promete investigar o caso.
Médicos e enfermeiros sob ameaças
Após a repercussão do caso na segunda-feira (20), entidades de defesa dos profissionais da saúde ressaltaram que a categoria continua exercendo suas funções sob ameaças e agressões, principalmente em áreas dominadas por traficantes.
Em 2013, pelo menos dez médicos e vinte enfermeiros haviam sido assassinados por causa da profissão em duas décadas, a maioria por vingança de bandidos diante da recusa de privilégios no atendimento.
“A situação vem piorando. Outros três médicos morreram nos últimos três anos, em circunstâncias violentas, possivelmente por vingança também”, lamentou o presidente do Sindicato dos Médicos (SinMed), Jorge Darze, que ontem pediu audiências à Secretaria de Segurança e ao Ministério Público.
Pedro de Jesus, do Movimento de Apoio à Enfermagem, disse que os mais de 300 mil enfermeiros do estado correm riscos diários em boa parte dos postos de saúde e hospitais por falta de segurança. “São reféns do medo”, completou.
Fonte: O Dia
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