Garoto de 10 anos foi morto durante perseguição policial na Zona Sul de SP.
Polícia faz reconstituição de caso de menino morto pela PM neste domingo.
Moradores da Vila Andrade fazem protesto em defesa de PMs envolvidos na morte de menino de 10 anos (Foto: Will Soares/G1)
Um grupo de moradores da Vila Andrade, onde um menino de 10 anos foi morto pela PM durante uma perseguição policial no começo de junho, realiza um protesto próximo ao local em que será feita a reconstituição do caso, na noite deste domingo (19).
De acordo com o comando da PM no local, cerca de 80 pessoas participam do ato em apoio à ação dos policias envolvidos no caso. A manifestação acontece na Rua José Ramon Urtiza que está isolado pela PM enquanto é aguardada a chegada da equipe do DHPP para o início da reconstituição.
Moradores trouxeram microfone e caixa de som. Há bastante policiamento na região nesta noite e, a cada vez que um carro ou moto da PM passa pelas proximidades, eles são aplaudidos pelos moradores.
A psicóloga Angélica Lima é uma das moradoras da região que compareceu ao protesto a favor da polícia. "Infelizmente acabou com a morte desse menor, mas na verdade o policial só tava fazendo o trabalho dele. A gente tá aqui pra apoiar o trabalho da polícia e dizer que estamos a favor da ação deste policial. Não porque mataram o menino, mas porque acreditamos que foi só um desfecho infeliz. Ele tava fazendo o trabalho dele. A polícia tá aqui pra defender a gente". Segundo ela, os moradores do bairro têm um grupo no Facebook e a manifestação foi marcada pela rede social.
Reconstituição
A Polícia Civil faz, na noite deste domingo (19), a reconstituição da morte do menino de dez anos durante perseguição policial na Zona Sul de São Paulo. Ele foi morto com um tiro na cabeça, disparado por um policial militar no último dia 2. Os seis agentes envolvidos no caso alegam que revidaram tiros dados pelo garoto, que estava em um carro furtado com um amigo de 11 anos.
A reconstituição foi marcada no mesmo horário em que tudo ocorreu há cerca de duas semanas: às 19h. Ela foi requisitada ao Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) pela Ouvidoria da Polícia com base na informação das diversas versões apresentadas pelos agentes e pelo menino sobrevivente durante a fase de investigação.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), a reconstituição começou pelo prédio em que o carro foi supostamente furtado. Os seis policiais envolvidos estão presentes já que, segundo o DHPP, a reconstituição só aconteceria com a participação de todos eles.
Um grupo de moradores da Vila Andrade, realiza um protesto próximo ao local em que é feita a reconstituição do caso. De acordo com o comando da Polícia Militar (PM) no local, cerca de 80 pessoas participam do ato em apoio à ação dos policias envolvidos no caso. A manifestação acontece na Rua José Ramon Urtiza que está isolada para a reconstituição.
O DHPP investiga na esfera criminal se os policiais agiram em legítima defesa ou se cometeram uma execução. A Corregedoria da Polícia Militar (PM) apura no âmbito administrativo se os agentes cometeram irregularidades na abordagem. Os PMs investigados deverão comparecer à Vila Andrade para dar a versão do grupo na reprodução simulada dos fatos. Ela será conduzida por peritos da Superintendência da Polícia Técnico-Científica.
Como o menino de 11 anos deixou São Paulo com a família, na semana passada, por ter sido incluído no Programa de Proteção à Criança e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM), ele não deverá participar da reconstituição. Existe a possibilidade de que o garoto participe da reprodução em outro data.
Os PMs deram duas versões diferentes para a morte do menino de 10 anos. Já o garoto de 11 anos deu três versões distintas. Ainda não há confirmação se a polícia irá reproduzir cada uma das cinco versões ou parte delas.
Duas versões dos PMs
Nas versões dos policiais militares investigados, eles sustentam que começaram a perseguir o carro sem saber que ele havia sido furtado e sem ter ideia de que dentro do veículo estavam duas crianças.
Os PMs disseram ainda que o menino atirou três vezes contra eles, que revidaram duas vezes. Para isso, os policiais usaram a expressão "jogou pra cima", como mostra o áuido gravado pelo Centro de Operações da PM (Copom). A queixa do furto do carro foi feita ao Copom depois da perseguição pela proprietária.
Laudo de balística feito pela perícia confirmou que o tiro que matou o menino partiu da arma de um dos policiais que estavam em duas motos usadas na perseguição. O outro tiro foi de um dos quatro PMs que estavam em duas viaturas.
A Corregedoria da PM e o DHPP ainda analisam um vídeo que teria sido gravado pelos policiais com uma confissão do menino de 11 anos. As imagens mostram o garoto confirmando que ele e o garoto de 10 anos invadiram um prédio no Morumbi, onde furtaram um automóvel.
A diferença de versões dos PMs ocorre nos depoimentos que narram como o menino morreu. No boletim de ocorrência do caso, registrado no DHPP, os policiais haviam dito que o tiro que matou o menino foi dado após o carro bater e serem recebidos com um tiro.
Depois, no mesmo departamento e na Corregedoria, contaram que o disparo fatal ocorreu durante a perseguição quando atiraram neles. Nessa versão, eles não fizeram menção de que o carro estava parado. O que falta esclarecer é se o tiro ocorreu antes ou após o veículo bater em um ônibus e num caminhão. Quando o carro parou, o menino já estava baleado, segundo os agentes.
Os disparos foram feitos por outros dois agentes, que estavam numa moto e em outra viatura. O tiro que matou o garoto partiu da arma do PM da motocicleta. Ele disse em depoimento ao DHPP que atirou após ter visto um "clarão" e escutado um "estampido".
Segundo o advogado dos 6 PMs, Marcos Manteiga, todos seus clientes estão afastados das ruas, fazendo trabalhos administrativos em seus batalhões. "Os policiais vão participar da reconstituição para esclarecer o que realmente aconteceu", disse Manteiga. "Quanto ao garoto, soube que ele não irá participar, mas deverá fazer a reconstituição com a versão dele em outro momento".
Um perito deverá interpretar o garoto neste domingo durante a reprodução simulada.
Três versões do menino
Na primeira versão que o menino de 11 anos deu, no boletim de ocorrência do DHPP, ele manteve o que os policiais haviam dito inicialmente (que o amigo atirou contra os agentes, que revidaram e o mataram).
Na segunda, também ao DHPP, alegou que os agentes executaram seu amigo (que teria atirado contra os PMs, mas parou assim que o carro bateu. Só que no entanto os agentes dispararam mesmo assim. Falou ainda que foi agredido e ameaçado de morte pelos policiais).
E na terceira, à Corregedoria da PM, contou que ele e o amigo não estavam armados e o outro menor foi assassinado (os PMs "plantaram" uma arma para justificar a morte do colega). No dia 10, o garoto disse a membros da Ouvidoria e do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe) que quem "plantou" a arma foi o policial da moto que matou seu amigo.
"Entendo que a reconstituição deva contemplar todos os lados e versões, inclusive a do garoto, mesmo que ele não vá", disse o advogado Ariel de Castro.
Menino de 10 anos, morto pela polícia, dirigia o carro. Ele estava acompanhado pelo amigo, de 11 (Foto: Reprodução/TV Globo)
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