Num espaço de três dias dois assassinatos em Aracaju provocaram uma onda de protestos contra a violência. Na essência essas reações traduziram, nitidamente, sentimentos represados de indignação e medo.
Morreram assassinados o delegado da polícia Civil Ademir da Silva Melo Junior e o cobrador de ônibus David Jonathas Barbosa.
Não passa um dia sem que ocorra um crime de morte em Sergipe. As cifras da violência entre nós são assustadoras, mas, no Brasil, não há hoje uma só unidade da Federação que possa ser considerada segura. O Rio Grande do Sul antes mostrado como exemplo, começou a descer a ladeira que o levou a ocupar um dos piores lugares nas estatísticas do crime. Porto Alegre é a capital mais violenta do país.
Com mais de 50 mil vítimas de assassinatos por ano, o Brasil quase ultrapassa a Síria em volume de sangue derramado. E a Síria está em guerra civil. Aqui estamos em paz. Em paz? Mas que paz é esta em que, este ano, só no Rio, mais de 60 policiais foram mortos e mais de 50 pessoas morreram atingidas por balas perdidas?
Se em cada morro do Rio de Janeiro controlado pelos traficantes, entre cinco a dez bandidos armados com fuzis AR-15 HK, ou metralhadoras ponto 50, começassem a disparar simultaneamente, cobrindo um raio de dois quilômetros à sua volta, mais de cinco milhões de cariocas seriam vulneráveis ao fogo, os Jogos Olímpicos teriam de ser paralisados, o aeroporto internacional Tom Jobim, ficaria interditado, o mesmo acontecendo com o Santos Dumont, o segundo com maior tráfego doméstico. O porto tornar-se-ia alvo fácil, também o serviço de barcas entre Rio e Niterói, da mesma forma, a grande ponte ligando as duas cidades.
Essa imagem aterradora poderia ser apenas o devaneio ficcional de uma mente fatalísticamente imaginosa.
Mas, de forma preocupante, é uma possibilidade avaliada e levada a sério pelo sistema de segurança, objeto de análises pela inteligência das Forças Armadas, com vistas a uma situação de risco para a segurança nacional. Essa expressão segurança nacional, foi colocada em desuso após a redemocratização, por ser interpretada com desconfiança, como se fosse pretexto para a presença dos militares no poder.
Segurança nacional é, todavia, um tema urgente a ser posto prioritariamente na agenda de todas as discussões sobre a realidade brasileira.
Não adianta ficar somente a exigir mais ações policiais, repressão ao crime, quando uma cultura de violência já se espalhou pelo país, e contamina, de forma corrosiva, os nossos hábitos, o nosso dia a dia. Um filme em horário nobre traz para o interior dos lares o lixo da violência desmedida que importamos. Um joguinho eletrônico japonês, com aparência inocente, incita à violência, tem cenas em que o jogador ganha pontos se atropelar uma velhinha trôpega que tenta atravessar a rua. A esse ¨joguinho¨ as crianças japonesas não têm acesso.
Num show qualquer, com a presença de milhares de adolescentes, se faz apologia à droga, à violência, o cantor famoso repete que vai ¨beber, beber, até cair¨. A mídia espalha tudo isso, e com tudo isso nos acostumamos, nos habituamos silenciosamente a conviver.
Cenas de crueldade desumana exibidas repetidamente na TV, no cinema, chegam a ¨glamourizar¨ a violência, e quem as assiste, principalmente se jovens, fica, na cabeça, com a imagem de um crime limpinho, asséptico, sem cheiro, com gritos artificiais que não produzem sentimentos de agonias. Assim, a violência se dissolve nos recursos tecnológicos da mídia, nas cores atraentes, mas fica, permanece, se enraíza na mente vulnerável de uma criança, de um adolescente.
É preciso constatar, então, que o combate à violência é tarefa bem maior do que a competência específica das policias.
A morte dos dois cidadãos pacíficos e dignamente dedicados às suas profissões, um, o delegado Ademir, outro, o cobrador David, causou enorme impacto. É preciso que esse impacto não desapareça, e se transforme em ações coletivas permanentes. Isso, aliás, é o que fica sugerido numa nota divulgada pela Loja Maçônica Cotinguiba, que abaixo transcrevemos.
Fonte: Jornal do Dia (Luiz Eduardo Costa)
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