RIO - A Polícia Militar iniciou esta semana a substituir fuzis por carabinas .40, armas que não dão rajadas e cujos disparos têm menor impacto. A troca, que foi anunciada há oito anos pelo estado, tem como objetivo principal diminuir os riscos de morte por bala perdida. A Secretaria de Segurança informou que as novas armas começaram a ser entregues nos batalhões da Zona Sul e do Centro: 220 chegaram ao 2º BPM (Botafogo), 5º BPM (Praça da Harmonia), 19º BPM (Copacabana) e 23º BPM (Leblon). Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) também deverão recebê-las.
O comando da PM informou que policiais de UPPs continuarão tendo fuzis calibre 762 à disposição, já que confrontos com traficantes fortemente armados ainda são constantes em várias comunidades do estado. A carabina .40 é considerada um equipamento de porte intermediário — é mais potente que uma pistola, porém menos letal que um fuzil. Na primeira leva, a corporação entregará mil carabinas aos batalhões.
De acordo com oficiais, serão retirados 220 fuzis dos batalhões da Praça da Harmonia, de Copacabana, de Botafogo e do Leblon. Essas armas serão levadas para os batalhões de Irajá (41ª BPM), Niterói (12º BPM), Mesquita (20º BPM) e São Gonçalo (7º BPM), que vêm realizando maior número de operações em áreas controladas pelo tráfico.
O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, disse ontem que sempre se sente incomodado ao ver canos de fuzis para fora de janelas de carros da PM.
— A troca do armamento é um projeto que iniciamos em 2008. Não há necessidade de uso de fuzil em algumas áreas do Rio. Após um longo processo, estamos conseguindo proporcionar mais esse legado — afirmou Beltrame.
A demora para a realização da troca está relacionada à correção a um erro. Em 2008, o estado pagou cerca de R$ 6 milhões por mil carabinas .30. Como a arma não foi aprovado por policiais, que chegaram a relatar problemas técnicos, a Secretaria de Segurança se viu obrigada a pedir duas modificações. A solução foi adaptar as carabinas para o calibre .40. O processo de compra foi analisado pela Procuradoria-Geral do Estado devido às falhas que as armas apresentavam. A troca de calibre foi feita sem novo custo para os cofres públicos.
O antropólogo Paulo Storani, ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope), afirmou que a troca de fuzis por carabinas é benéfica para a sociedade.
— Na minha opinião, a carabina é a arma ideal para uso em nossas cidades. A sociedade sai ganhando, mas o policial vai sentir desconforto. Um desconforto psicológico, porque poderá se sentir vulnerável diante de criminosos que usam pesadas armas de guerra, como os fuzis — afirmou o antropólogo.
Storani, entretanto, destacou que o objetivo principal da medida, a redução de riscos de morte por bala perdida, deverá ser alcançado:
— Não há dúvida de que a carabina é a arma mais correta para o ambiente urbano. Sua bala para ao primeiro contato. Não atravessa uma parede de alvenaria como a de um fuzil. Ela foi projetada para ter um alcance de 800 metros, mas não ricocheteia ou se estilhaça após acerta o alvo. Já a bala de fuzil atravessar o alvo e percorre até 3,5 quilômetros.
O processo de troca dos fuzis pelas carabinas está inserido no programa da Polícia Militar que prega “o uso progressivo da força”. Nele, estão inseridos cerca de 1.300 policiais de batalhões com alto índice de mortes em confrontos. Todos passaram por cursos de reciclagem.
— O calibre .40 é para ser usado em pequenas distâncias. A utilização do fuzil 556 ou 762 é extremamente perigosa em áreas densamente povoadas. A carabina não dá rajadas; por outro lado, tem maior precisão. O policial ganha em autonomia de tiro, tem a letalidade necessária para a neutralização de um agressor e apresenta poder reduzido de penetração — afirmou Storani.
ESPECIALISTA É CONTRA PADRONIZAÇÃO
Vinícius Domingues Cavalcante, especialista em armas e esquemas de segurança para autoridades, argumentou que um eventual plano de padronização do calibre .40 para as carabinas da PM não é uma boa solução.
— Defendo que os policiais utilizem carabinas de calibre .30. Um dos motivos é o custo. Temos armas excedentes nas Forças Armadas que poderiam sem repassadas à polícia a um baixíssimo valor, quase de graça. Além disso, o uso da carabina .30 facilitaria trabalhos de perícia, a começar pelo fato de que este calibre não é usado por criminosos — afirmou Cavalcante.
Fonte: O Globo
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