Dudu: defendendo intervenção
O presidente da Central Única dos Trabalhadores em Sergipe (CUT/SE), Rubens Marques, o professor Dudu, assegura, nesta entrevista que concede ao Universo, que o governo Jackson Barreto não tem motivo para atrasar salário de servidor público, mas o faz e ainda continua maquiando números. Dudu lamenta que o governo permaneça usando a crise econômica como desculpa, mesmo sabendo que não convence mais ninguém. “Isso é grave. É pra ser apurado e punido. Está maquiando o relatório fiscal. Quando você deixa de lançar a receita no relatório fiscal, naturalmente, a despesa cresce. Aí você cria um álibi fácil para não ajustar salário e atrasar. Veja o imbróglio que está colocado: se o governo não paga em dia, imagine se o servidor vai fazer greve pra receber aumento?”, indaga. O presidente da CUT explica ainda o que o faz defender uma intervenção no governo Jackson. “Eu acho que deveria ter uma intervenção. A partir do falseamento das contas, que está gerando instabilidade social com greve de policial. A saúde para e isso causa morte. Isso gera um caos na sociedade. Escola caindo aos pedaços, professores sem salários. Isso cria motivos, sim, para uma intervenção. O governo precisa dizer o que está fazendo. Não dá para dizer que está preocupado, sem dormir. Quem está sem dormir somos nós.” A entrevista:
Como a CUT avalia o fato de o servidor público estar tantos dias sem receber seu salário na totalidade?
De forma bastante objetiva. O governo não tem motivo para atrasar salário de servidor. Nós já fizemos um levantamento de coisas graves. Já denunciamos que o governo está maquiando os números. Isso é grave. É pra ser apurado e punido. Está maquiando o relatório fiscal. Quando você deixa de lançar a receita no relatório fiscal, naturalmente, a despesa cresce. Aí você cria um álibi fácil para não ajustar salário e atrasar. Veja o imbróglio que está colocado: se o governo não paga em dia, imagine se o servidor vai fazer greve pra receber aumento? Esse discurso da crise está sendo muito proveitoso para o governo, mas não engana mais. A gente espera que as autoridades tomem providência. Já fizemos um encontro dos servidores do Estado da base cutista, e o DIEESE, mais uma vez, disse que o discurso da crise é falacioso. Fala isso de forma técnica. Não está mais na época do movimento sindical na base do ‘achismo’. Quando a gente senta para conversar com Jeferson Passos (secretário da Fazenda), ou com quem for, a gente senta com dados e eles não conseguem refutar. Aí foge do debate contábil e vai para o debate político dizer que a gente quer atrapalhar. O movimento sindical chegou num grau de organização para enfrentar os desafios que hoje tem condições de contestar com números e eles não têm como refutar. O Governo do Estado precisa explicar e acho que é papel das autoridades é apurar as denúncias que o Sintese fez reiteradamente e o DIEESE de que os números estavam sendo maquiados. Isso é crime.
Mas por que fazer isso com o servidor, se é possível pagar em dia?
O processo é de crise. Só que essa crise termina sendo um objeto de uso. O servidor quer o seu reajuste só que o governo prefere investir em obras e outras coisas. Isso tem um objetivo muito claro. Nenhum governo gosta de servidor público efetivo. Ele gosta de contratado, comissionado que é do grupo e pronto. O servidor público independente cobra, faz greve. Eu posso pagar, mas se eu pagar o reajuste agora no outro ano querem de novo. A inflação não é miragem, existe. No momento que eu não pago em dia e jogo tudo na crise, eu estou livre de dar reajuste salarial. Boto tudo na conta do caos.
Essa situação surpreende mais pela história de Jackson Barreto como um político de oposição?
Tem mais problema além desse. Tem na previdência, tem em toda ordem. Você está falando de governo que teve uma tendência na esquerda, mas acredito que o servidor não está mais nessa não. O servidor está avaliando quem tem responsabilidade e quer pagar. Quando Jackson terminar seu governo, um professor de nível médio vai estar ganhando muito mais que um professor com mestrado, com pós-graduação. Ele sabe disso, mas banca esse tipo de desgaste. O governo termina sendo um espelho. Os municípios olham muito o Estado, que é o primo rico. Quando o Estado começa a atrasar, o prefeito diz: “o Estado que tem dinheiro não paga em dias…” O discurso no interior é o mesmo. Além de o governo prejudicar os seus servidores, prejudica por tabela os dos municípios, influenciando negativamente, quando deveria dar um bom exemplo.
Como os servidores recebem a informação que o governador Jackson Barreto está preocupado com os atrasos? Dizem até que ele não dorme bem?
Quem está preocupado e sem dormir é o servidor. O governo além de pagar atrasado ainda diminui o salário do servidor. Eu ganho ‘X’. Se eu não recebo em dia vou pagar água, energia, cartão de crédito com juros. Meu salário, eu recebo atrasado e, além disso, ele diminui e o governo não repõe. A Justiça deveria cumprir seu papel. Toda vez que o governo prejudicar o servidor deveria reembolsar. Não tem nada imoral nem inconstitucional. É preciso que também se manifeste.
A crise da qual o governo tanto fala chegou ao seu pior estágio?
A crise fictícia vai se alongar muito porque interessa aos governos para não pagar. A crise real não vai muito longe não. No Brasil se utilizou muito o discurso da crise para derrubar uma presidenta, plantar em terra arrasada. Acredito que logo as coisas vão se revelar que não eram tão graves como diziam. Vão dizer que a crise passou. Não é que passou. A crise nunca foi do tamanho que eles disseram, mas os governos vão alimentar. É do interesse deles. Você percebe que ninguém fala mais em reajuste, o pessoal fala em receber em dia. Imagine aonde nós chegamos… Precisamos receber em dia e o reajuste, que é direito. No governo Jackson, o servidor não sabe o que é aumento e se continuar do jeito que está vai continuar sem. Eu não sou daqueles que defendem extinção de secretaria. Nunca fui ao Estado mínimo. Quanto menor o Estado, menos política pública, mas sou a favor que o governo tenha responsabilidade. Coloque para trabalhar só o que for necessário. Acho que o governo tem um número excessivo de cargos comissionados como está preocupado e a Casa Civil está abarrotada de cargos comissionados? Não dá para o servidor acreditar. Eu acho que o princípio de tudo é que o governo tem que parar de enganar, de maquiar os números do relatório fiscal. Isso é um assunto tão grave que levamos ao Tribunal de Contas do Estado e convencemos lá, só que lá não é um órgão punitivo. Ele orienta. Os técnicos entenderam o que o Sintese apresentou e a CUT, porque a gente acompanha a discussão e o Sintese é filiado a CUT. Não é negócio de panfletário, debate político. É com número na mão. A gente faz com os documentos já lançados e apresentados no tribunal. Relatório fiscal de despesa realizada. A gente prova que há manipulação, e é crime.
O TCE se ofereceu para fazer uma auditoria no Estado, mas o governador não se manifestou…
O governador não quer porque sabe que, se a proposta de Clóvis Barbosa (presidente do TCE) for aceita vai desmascarar o governo. Jeferson Passos vai ficar numa situação complicada. Nós do movimento sindical não acreditamos em nadado que Jeferson Passos apresenta. Toda reunião que vai com ele o discurso é o mesmo de terra arrasada. O DIEESE fez um levantamento e prova que a receita desses anos todos de crise cresceu. Pode não ter crescido na medida que eles esperavam, mas arrecadação é perspectiva mesmo. Não tem como precisar, mas eu posso provar que a receita cresceu em todos esses anos. Ela pode ter crescido menos do que no pico do governo Lula. O governo tem feito e os jornais estampam, não sei se de má fé para agradar o governo ou por incompetência, mas estampam que de janeiro para fevereiro caiu tanto. Mas quem foi que disse que se faz análise de receita assim? Qualquer amador em economia sabe que você compara o quadrimestre de um ano com o do outro ano. Você não pode comparar dentro do exercício um mês com o outro porque cada mês tem sua natureza econômica. No mês que o Governo Federal restitui Imposto de Renda a receita cai, mas isso é natural. Todo ano é assim. Restitui ao invés de receber no mês seguinte você sabe que tem mais dinheiro na praça. Quando o servidor e o trabalhador recebem o 13º é mês que injeta dinheiro na praça, aumenta ICMS, aumenta IPI porque a indústria aquece. Fica querendo enganar e bota na capa do jornal que de mês tal a mês tal caiu. A gente fez levantamento no DIEESE quadrimestre a quadrimestre e desafio Jeferson, qualquer técnico do Estado para dizer que a receita diminuiu.
A CUT já conversou com o próprio governador?
O governador só escuta Jeferson Passos. Não tem aquele ditado que você gosta de conversar com quem diz aquilo que você quer ouvir? Ele vai querer ouvir a CUT? Ele sabe o que a CUT pensa, os dados que a CUT tem. Eu reconheço que o que aconteceu de novidade no estado, nos últimos anos, foi Clóvis Barbosa na presidência do TCE. Possa ser que ele não resolva tudo, mas ele tem mostrado ser um presidente coerente e tem encaminhado. Não escuta para dizer que escutou. Ele chama os técnicos e pede pra conferir, eles conferem e dizem que realmente é verdade. Eu levei uma denúncia do relatório fiscal de omissão de receita e o técnico comprovou. Foi de uma prefeitura do interior. Gerou um processo contra mim que estou respondendo, mas eu estou lá com o relatório na mão para provar ao juiz. O Tribunal de Contas, desde a sua instituição, está na sua melhor fase e a gente tem que aproveitar agora para avançar. Tem gente que acha que foi ousadia de Clóvis se convidar para fazer uma auditoria. Eu acho que ele se colocou como agente público preocupado com os servidores desse Estado. Se o governo tivesse boa vontade de resolver teria aceitado. Eu dei uma entrevista ao Universo Político algum tempo atrás e fiz um desafio durante uma reunião com os servidores municipais. Fizemos uma análise e percebemos que a bomba ia estourar. Marcamos uma audiência e Belivaldo Chagas estava como governador em exercício e nos recebeu. O desafio foi se o governo topava a gente fazer um seminário com a participação da CUT, de todas as centrais com servidor público, o DIEESE, Tribunal de Contas, Ministério Público e Tribunal de Justiça. Um grande seminário para discutir as finanças do Estado. Ele disse que ele topava. Nunca tivemos resposta. Imagine sentando todo mundo lá e a imprensa para acompanhar? Íamos provar para Sergipe e para o Brasil quem é que mente. Está renovado sempre o desafio.
A CUT acreditou quando o governador disse que não seria mais candidato? Isso o desmotiva enquanto chefe do Poder Executivo?
Não acredito que ele vá desistir de uma candidatura. Muita gente aposta que vai tentar o Senado. Isso pode servir de álibi para a avaliação de, como ele não é candidato, não está ligando mais. Eu não acredito que é por aí, não. Se ele for ou não pra mim não faz diferença nenhuma. O importante é que ele termine o governo dele cumprindo o que prometeu.
A CUT não pensa em organizar uma greve geral em Sergipe?
A gente tem dificuldade de fazer greve geral. A CUT chamou um encontro de servidores da base estadual, não só cutista. Só quer aparecer sindicato filiado a CUT. Então é difícil. No começo o Sindifisco estava vindo, mas depois deu uma afastada. Se a gente conseguir dialogar com as centrais, e deixarem a vaidade de lado, a gente consegue fazer uma greve geral, que é a saída. Agora enquanto uma central estica pra lá e outra pra cá é bom para o governo. Nesse sentido, o que está faltando é maturidade às centrais. Se você botar um carro de som, o cara quer saber qual a bandeira maior que está na frente. Tem que pensar na luta, nos trabalhadores. É uma classe, não importa em que central esteja filiado. A gente tem feito um esforço pra trazer muita gente. Vamos fazer outra rodada e de novo convocar todas as centrais. Se a gente não pressionar o governo a gente não vai avançar. O governo está gostando do discurso da crise e quanto mais puder alimentar ele vai alimentar. É bom fazer isso agora para mandar o recado para os candidatos a prefeito também.
O deputado estadual Robson Viana sugere ao governador uma reforma no secretariado. Diz que sem isso a coisa não anda, pois tem secretário que não veste a camisa do governo. Como o senhor avalia isso?
Do ponto de vista da característica de cada secretário, o que faz ou não, eu não tenho muito elemento pra dizer. Mas que o Estado vai mal, vai. Não dialoga. A aparência do Estado em si é ruim. Eu sou usuário SUS. Eu posso falar da saúde. Eu tenho irmão que tem problema de saúde e tenho levado ele com frequência a hospital público. Eu posso falar do caos. É uma coisa absurda. Você chega ao hospital e se sente mal. Quando você chega lá e encontra o campo de guerra é duro. A educação está largada mesmo. Rasgou o estatuto, plano de carreira, professor nível médio ganha mais do que o professor de nível superior. Falta tudo. Educação, Saúde e Segurança são as áreas que o povo percebe mais rápido. Não que as outras não sejam importantes. Mas o povo foca nessas áreas. Saúde, Segurança e Educação estão numa situação deplorável. Diga-me uma coisa boa que aconteceu nessas áreas? O número de assaltos se multiplica, os órgãos públicos cheios de policiais que deveriam estar nas ruas, policiais não são convocados. A Polícia Militar não pode fazer greve, mas está aí se movimentando.
O tratamento que o governador Jackson Barreto dispensa ao Sintese espelha uma incoerência com a sua história política, antes de chegar ao poder?
O governador enfrenta para arrebentar o sindicato. Chapa de oposição ao Sintese tem espaço aberto em tudo que é lugar para detonar o sindicato, que, na maioria das vezes, não tem espaço para responder as calúnias. Acredito que o governador aposta no fim do Sintese, mas pode acontecer o contrário. A maior prova do Sintese não foi nem enfrentar Jackson. Foi passar por um governo que os seus dirigentes foram às ruas ajudar a eleger: Marcelo Déda. A maioria dos dirigentes empenhou o nome e o sangue na rua para eleger – e quando Déda pisou na bola o sindicato foi pra cima. Sobreviveu a Déda. E eu digo sobreviveu porque é mais difícil enfrentar quem você ajudou a eleger, porque o povo cria uma esquizofrenia na cabeça. “Mas não ajudou a eleger? E agora já está contra?” O Sintese sobreviveu. E olhe que Déda disse que o momento agudo de crise com Sintese ou o Sintese quebraria as pernas dele ou ele quebraria as pernas do Sintese, e foi pra cima. Uma frase histórica de Marcelo Déda: “ou eu quebro as pernas do Sintese ou o Sintese quebra as minhas”. O governo Jackson vai na mesma linha. A diferença é que Déda foi advogado da CUT e Jackson nunca teve essa relação. Sempre teve sua história de esquerda, ninguém nega. Mas essa relação próxima no movimento sindical nunca teve.
A CUT defende uma intervenção em Sergipe?
Eu acho que deveria ter uma intervenção a partir do falseamento das contas, que está gerando instabilidade social com greve de policial. A saúde para e isso causa morte. Isso gera um caos na sociedade. Escola caindo aos pedaços, professores sem salários. Isso cria motivos sim para uma intervenção. O governo precisa dizer o que está fazendo. Não dá para dizer que está preocupado, sem dormir. Quem está sem dormir somos nós.
Fonte: Universo Político (Joedson Telles)
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