O último disparo contra o capitão Oliveira foi dado pela Corregedoria de Polícia Civil de Sergipe. Na alça de mira: sua memória, seu irmão Washington da Piabeta, a liberdade de imprensa e a Constituição Federal.
Estudei com Manoel Oliveira (Capitão Oliveira) na Escola Agrotécnica Federal de São Cristóvão, entre os anos de 1991 e 1993. Findo o curso, nos reencontramos uma década depois, desta feita como profissionais da Segurança Pública.
No dia 04 de abril deste ano, um bando de criminosos covardes ceifou a vida do bravo capitão em uma emboscada. A polícia agiu com rapidez e rigor. Mandantes e executores foram identificados e mortos em confronto com as forças de segurança.
Mas os amigos e familiares de Manoel, apesar de reconhecerem os esforços da SSP, nunca se conformaram com a escassez de informações. A motivação do crime, o suposto envolvimento de autoridades civis e militares com o líder da associação criminosa, as supostas tentativas de suborno para abafar as investigações em seu nascedouro, tudo isso ainda constitui motivo de legítima e compreensível indagação.
Washinton Oliveira – mais conhecido como Washington da Piabeta -, irmão do capitão Oliveira, vem cobrando esclarecimentos da SSP e reverberando algumas denúncias feitas por populares – a maioria moradores do Alto Sertão sergipano que clamam por justiça. Também nós, os amigos de Manoel espalhados por todo o estado e além-divisas, mantemos contato com Washington sempre que um fato novo é noticiado.
Numa destas denúncias – veiculada por meio do whatsApp -, Washington chama a atenção para a suposta participação de policiais civis e militares no odioso crime, mas, cauteloso, não revela nomes nem cita as fontes, esperando que a Polícia Civil exerça sua função investigativa para apurar a veracidade das informações.
Intimado, no dia 15 de agosto Washington compareceu à Corregedoria da Polícia Civil para prestar depoimento. As autoridades lhe perguntam quem são os integrantes da SSP que mantinham amizade íntima com Jonathas dos Reis Assunção, o “Pai”, mandante da morte do oficial. Além disso, pediram-lhe que entregasse todas provas em seu poder e declinasse o nome das suas fontes.
Na condição de jornalista, Washington se negou a ceder as informações, com base no respeito ao sigilo da fonte, previsto no artigo 5º, inciso XIV, da Constituição Federal. Disse que a Polícia Federal já estava no caso e não confiava mais na cúpula da Polícia Civil.
Insatisfeitas, as autoridades o intimaram novamente a comparecer na Corregedoria, na manhã desta quarta-feira, 22. Para surpresa do jornalista e irmão da vítima, a autoridade policial exibiu o áudio de uma gravação telefônica entre ele e o signatário, seguida da pergunta: “Neste áudio, quem está conversando com você é o delegado Paulo Márcio?”
Por mais absurdo que possa soar, é isso mesmo que todos leram. A inteligência policial está sendo utilizada para monitorar familiares da vítima e, por extensão, seus amigos. Mais espantoso ainda é saber que o irmão do capitão Manoel Oliveira – um jornalista com direito ao sigilo da fonte -, é alvo de uma interceptação telefônica que claramente viola direitos e garantias constitucionais.
A par disso, entristece-me o fato de que a Polícia Civil mantém em seu poder áudios de conversas telefônicas de caráter privado em que sou um dos interlocutores, fazendo a informação chegar a mim por meio da pessoa contra quem a violência estatal está sendo praticada. O amadorismo é indicativo da falta de técnica e seriedade e deveria ser alvo de deboche, não fosse a gravidade da ação perpetrada, que será questionada no âmbito adequado.
Por ora, cumpre hipotecar minha solidariedade a Washington da Piabeta e demais familiares de Manoel, bem como a toda a imprensa sergipana, colocando-me à disposição para quaisquer esclarecimentos.
À Corregedoria da Polícia Civil, deixo o meu repúdio e votos de uma breve recuperação de toda degradação moral de que vem sendo vítima nos últimos tempos.
Paulo Márcio Ramos Cruz
Delegado de Polícia Civil
Diretor da Adepol do Brasil
Fonte: Blog do jornalista Cláudio Nunes
Fonte: Blog do jornalista Cláudio Nunes
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