Número de doações ficou zerado nos meses de outubro de novembro.
A descoberta de uma doença grave e a busca pela cura é o início de uma longa jornada para quem precisa de um transplante de órgãos.
Em Sergipe, todos os anos são enterrados milhares de corpos e com eles a esperança de muitas pessoas em voltar a ter uma vida normal.
A falta de debate sobre o ‘assunto morte’ reflete diretamente nos números da Central de Transplantes do estado, que nos meses de outubro e novembro deste ano não registrou nenhuma doação, segundo informou o coordenador, Benito Fernandez.
“Atualmente temos 188 pessoas aguardando por uma córnea, e outra que espera um transplante de coração”, disse.
Embora o estado realize a captação de rins, fígado, coração e medula óssea ele não possui hospitais aptos a fazer os transplantes desses órgãos. “Somente a rede privada estaria preparada, mas desde 2012 um hospital privado que fazia esse tipo de cirurgia deixou de faze-la. O Huse tem capacidade técnica, mas em virtude na sua grande demanda a logística para as cirurgias não teriam como ser realizadas no local”, explicou.
O jornalista Glauco Vinícius do Nascimento fez um transplante de córnea há menos de um ano e aguarda para fazer um segundo transplante, agora no olho direito. "Há sete meses eu carrego o pedacinho de alguém dentro de mim. Tenho pouquíssimas informações sobre quem foi essa pessoa, mas sei que a família teve a grandeza de transformar um momento de dor em esperança para quem estava na fila do transplante de órgãos. E então uma córnea novinha substituiu a que estava me proporcionando menos de 5% da visão. Já enxergo bem melhor, graças a esse presente, mas tudo ficará ótimo mesmo quando eu fizer o transplante da outra córnea. Torço para que o tempo de espera seja menor dessa vez [foram dois anos da primeira]. A minha situação e a de mais de 30 mil brasileiros poderia ser diferente se mais pessoas se declarassem doadoras. É o legado mais bonito que alguém pode deixar", disse.
Com isso, somente os transplantes de córneas são realizados em Sergipe. Em 2018, 101 transplantes desse órgão foram feitos no estado. Este número é 27% maior do que 2016 e 20% maior do que em 2017.
Apesar disso, órgãos como rins, fígado e coração são enviados para estados como São Paulo e Ceará. Em 2018, foram 18 rins, sete fígados, dois corações e um pâncreas que saíram do estado.
Esses órgãos são disponibilizados para pessoas que estão em uma fila nacional de transplante. Seguindo critérios de compatibilidade, tempo de espera e urgência, não necessariamente sendo transplantados em sergipanos.
Benito explica que a maior urgência em relação a implantação de cirurgias de transplantes no estado está relacionada aos pacientes renais.
“Cerca de 1.300 pessoas estão fazendo algum tipo de dialise no estado, e algo entre 40 e 50% estão na fila de transplantes. O que gera algo em torno de 550 a 650 pessoas precisam do órgão”, disse.
Esses pacientes precisam sair de Sergipe para realizar as cirurgias de transplantes e, de acordo com o coordenador, precisam ficar até dois meses se sustentando com uma ajuda de custo ofertada pelo governo de cerca de R$ 24 por dia.
“É uma rotina sacrificante, principalmente para pacientes de origem mais humilde e que moram no interior do estado”, completou.
Para aumentar o número de doadores ainda é preciso combater a falta informação sobre o assunto. “Houve uma melhora nesse sentido, mas ainda é preciso mais informação. Tanto por parte das pessoas, quanto dos profissionais de saúde que precisam orientar as famílias”, finalizou Benito.
Fonte: G1SE (Joelma Gonçalves)
Nenhum comentário:
Postar um comentário