Paulo Márcio acha que “a política atual requer uma ética, dinâmica e traquejo incompatíveis com a minha visão de mundo”. O desabafo foi feito ao jornalista Eugênio Nascimento pelo delegado, que já no final da campanha eleitoral rompeu com o presidente do Democracia Cristã, que tentou retirar sua candidatura. Paulo permaneceu candidato por decisão da Direção Nacional.
O delegado, que obteve 634 votos, divulgou uma nota pública. Ele disse ainda que há “muita coisa (insuperável), desde a forma de comunicação até o pragmatismo que atropela a ética, passando por uma relação com um eleitorado que é ao mesmo tempo vítima e cúmplice das práticas mais abjetas da política”.
Leia a íntegra da nota do ex-candidato:
Outros caminhos, novos desafios
Espero, em primeiro lugar, que essa mensagem não sirva de desestímulo aos idealistas de todas as idades, mas, ao contrário, ajude-os a refletir sobre como cada um de nós pode efetivamente colaborar na construção de uma sociedade mais justa, ética e tolerante.
Como é cediço, este ano concorri ao cargo de prefeito de Aracaju. Vi com meus próprios olhos parte das coisas boas e ruins que ocorrem nos bastidores de uma disputa eleitoral. E podem acreditar: ainda existe muita nobreza, retidão de caráter e altruísmo entre aqueles que se dispõem a ocupar um espaço na vida pública.
Mas o exercício da atividade política, consoante as regras vigentes, cobra um preço que poucos conseguem pagar sem perder a sanidade ou abdicar dos princípios que constituem a viga mestra do próprio caráter. Afastando-nos cada vez mais dos nossos referenciais, pouco a pouco nos vemos reproduzindo ou na iminência de reproduzir práticas e condutas vedadas por nosso juízo.
O culto à personalidade, a racionalização diária para tornar a mentira em algo crível e, portanto, aceitável, o embotamento da consciência sob camadas e mais camadas de inverdades erigidas em ideologia, são manifestos sinais de uma horrenda doença que nos acomete de forma impiedosa.
Sim, tenho os meus valores e os defenderei da maneira mais aguerrida possível, dentro dos limites do debate democrático e civilizado, como, aliás, tem sido até agora. Mas uma nova disputa eleitoral é algo que está completamente fora dos meus planos.
Em janeiro me desfiliarei do meu partido político e trilharei outros caminhos longe da política, convencido de não possuir os atributos e apetrechos necessários para sobreviver em um meio saturado de valores tanto mais tóxicos quanto mais incompreensíveis.
Aos amigos que em mim confiam e, por generosidade, desejavam caminhar ao meu lado nas próximas eleições, peço não só que me compreendam como examinem atentamente a realidade que nos circunda. O cenário é aterrador e, por mais que fantasiemos, não somos um grupo de heróis invencíveis, mas simples e limitados humanos, demasiadamente humanos.
Paulo Márcio Ramos Cruz”
Fonte: Faxaju
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