Negociadores estão preparados para que as ocorrências terminem com a preservação das vidas
Era manhã da quarta-feira (8) quando servidores da Prefeitura de Laranjeiras foram surpreendidos por um homem que invadiu o local e manteve uma mulher refém. Nesse momento, foi necessário acionar um negociador da segurança pública para que a ocorrência tivesse o desfecho em que a vítima foi libertada e o autor da invasão fosse preso, ambos com a integridade física preservada. Para situações como essas, a Polícia Militar de Sergipe possui cerca de vinte militares especialistas em negociação. O grupo é treinado para tentar solucionar – sem o uso da força – ocorrências inesperadas, que podem acontecer em qualquer local e a qualquer momento.
O argumento é a arma utilizada para solução dos conflitos, que vão desde os familiares às ações criminosas, que resultam em ocorrências com reféns, sequestros, cárcere privado, rebelião de presídio, manifestações sociais, reintegrações de posse, tentativas de suicídio e outras. A rotina não faz parte desse grupo especial da Polícia Militar. Esses policiais nunca sabem quando terão de entrar em ação e nem quando poderão voltar para casa, pois, a depender da ocorrência, a negociação pode se estender por dias. A função do negociador é criar uma ponte de confiança com o agente causador da crise para que tudo ocorra da melhor maneira possível, ou seja, sem vítimas.
Marcos Carvalho, tenente coronel da Polícia Militar, é o negociador oficial da Secretaria de Segurança Pública (SSP/SE). Com mais de vinte anos de experiência, ele calcula que houve cerca de 420 ocorrências em que suas habilidades de negociador foram colocadas em prática. O tenente coronel também é instrutor de cursos para efetivos federais, estaduais e municipais.
O militar revelou que, para a atuação nessas missões de negociação com o objetivo de preservação da integridade física dos envolvidos, é necessário capacitação apropriada para a condução dessas situações. “Nós temos um treinamento bem intenso e que nunca termina, sempre estamos nos especializando e estudando bastante. Basicamente, o que se vê no curso é neurolinguística, comunicação avançada e o entendimento de como funciona o objeto dessas operações para que consigamos estar preparados para essas ocorrências”, evidenciou.
Conforme o tenente-coronel, não há uma ação rotineira e o acionamento é feito sempre que a situação demande uma condução ainda mais especializada da segurança pública. “Não temos uma rotina específica pois os eventos não dizem quando vão acontecer. Normalmente, somos acionados pelo comandante-geral e pelos comandantes da capital e do interior e há o deslocamento e preparação de todo o efetivo. É um leque de tipos de ocorrências que atuamos”, revelou.
Além da invasão à Prefeitura de Laranjeiras, o militar relembrou outros casos em que foi necessária a intervenção do mecanismo de negociação. “Tivemos alguns casos que foram bem palpitantes e saíram em mídia nacional e internacional, como por exemplo a situação em que o marido manteve refém a sua esposa em 31 horas e rebeliões em presídio como o Complexo Penitenciário Antônio Jacinto Filho (Compajaf), com muitos reféns. Há um leque de ocorrências em que atuamos nos últimos 22 anos”, rememorou.
Na condução dessas situações, assim como ressaltou o tenente-coronel Marcos Carvalho, é preciso que não haja o contato de outras pessoas com o autor da ocorrência para que não haja reviravoltas negativas na solução do caso. “Nós hoje temos um grande problema com a pujança das redes sociais e o que observamos é que a pessoa que precisamos manter o contato direto está sempre disperso pois está nessas ferramentas. Orientamos para que as pessoas não respondam a esses chamados”, alertou.
O Capitão Weniston Queiroz, também negociador da Polícia Militar e subcomandante do Comando de Operações Especiais (COE), já esteve em inúmeras ocorrências negociando com causadores das crises. O militar destacou que os negociadores estão preparados para intervir nessas ocorrências, que também são chamadas de crises. “É importante falar sobre uma crise ou evento crítico. A doutrina brasileira é comparada à doutrina do FBI, nos Estados Unidos. A crise é um evento que foge da normalidade. Como foge da normalidade, precisa de uma resposta especial, a fim de assegurar uma solução aceitável e, para isso, precisamos de um treinamento específico, e nisso entra o papel do negociador”, reiterou.
Conforme o capitão Weniston Queiroz revelou, quando há a situação de crise, um servidor mais antigo, capacitado para essas ocasiões, é definido o gerente da crise, que vai tomar as decisões para o desfecho do caso. “Para tomar uma decisão, precisa-se de alternativas. Uma das principais é a negociação policial, que é uma alternativa tática. Começa a negociação e a conversação no intuito de preservar a vida. Mas, ele precisa ter outras alternativas, como uma tecnologia menos letal e instrumentos de menor potencial ofensivo, que visam não matar, mas preservar a vida com o menor dano possível”, detalhou.
Nesse campo das alternativas necessárias à solução de uma crise, há diversas ferramentas. “Também temos o time tático para intervir em casos em que a negociação não consiga fluir. Há também o sniper, que é o atirador de precisão. Essas ferramentas são importantes para trazer a solução aceitável que precisamos nesse tipo de ocorrência, com base nos objetivos de preservar a vida e aplicar a lei”, acrescentou o capitão Weniston Queiroz.
O militar do COE mencionou que as situações mais comuns são as de fuga frustrada após uma investida criminosa. “No nosso dia a dia, aqui no nosso estado, a ocorrência mais comum é em relação ao crime frustrado. O indivíduo vai cometer o crime. A intenção é cometer o delito e fugir, ai é surpreendido pela força policial. Nesse momento, ele faz um refém. Ao ter um refém, a ocorrência foge da normalidade e aí é gerada uma crise”, especificou.
Além desse tipo de situação, o capitão Weniston Queiroz revelou que há ocorrências em que existem pessoas em estado de surto. “Outra ocorrência também são as pessoas que estão com distúrbios psicológicos, que acabam querendo se agredir, se matar ou praticar algo contra um familiar. Tem também um trabalho todo especifico para isso, pois a dificuldade é bem maior. O nosso objetivo primordial é salvar essa vida. Fazemos de tudo para salvar essa vida”, concluiu.
Fonte e fotos: PMSE
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