Em resposta a um pedido urgente de 20 itens, como pás, enxadas, galochas e luvas, feito pela subchefia administrativa do Estado-Maior — órgão responsável pelo planejamento da corporação —, o almoxarifado-geral dos Bombeiros respondeu que não tinha nenhum dos materiais solicitados em estoque.
Com isso, foi iniciado um trâmite interno para a realização de uma aquisição emergencial, sem a assinatura de um contrato.
Apesar de ter sido assinado um termo de abertura de processo de compra na própria quinta pela diretoria de apoio logístico (documento abaixo), a assessoria de imprensa do Corpo de Bombeiros disse ao UOL que possui os materiais e que “não há processo de compra”.
“O Corpo de Bombeiros possui enxadas e pás, além de tantos outros materiais em estoque que já estão sendo empregados nas ocorrências de deslizamentos. Ou seja, não há processo de compra destes itens. Os materiais estão distribuídos logisticamente nos grupamentos operacionais da corporação para as atividades rotineiras de salvamento e estão sendo amplamente utilizados para atender à pronta resposta preconizada no Plano de Contingência do Estado para as chuvas de verão do Governo do Estado”, afirma a nota da corporação.
Até o início da noite de sexta (18), a última movimentação do processo administrativo era a inclusão de uma cópia do decreto de calamidade pública da prefeitura de Petrópolis, publicado na terça (15).
Neste tipo de compra direta, sem contrato, é feita a aquisição dos produtos e há um processo posterior de pagamento, com verificação de notas fiscais, para que seja assinado um termo de reconhecimento de dívida do estado com o vendedor. Não há necessidade de pesquisa de preços.
A lista tem ao todo 4.286 unidades de 20 itens. Foram solicitados, por exemplo, 250 pares de galochas; cem pares de luvas para recolhimento de cadáveres; 120 pás, 240 enxadas e 200 baldes.
A necessidade demonstrada no documento coincide com o relato de moradores, que têm reclamado da atuação dos bombeiros em Petrópolis.
Principalmente nos pontos mais atingidos pela chuva, como o alto do Morro da Oficina, os bombeiros não conseguiram instituir um plano de ação para o resgate de vítimas e o trabalho, em muitos momentos, fica sob responsabilidade de familiares.
Flavio Menezes, 50, se juntou a seus primos para resgatar uma tia e sobrinhos. Além de reclamar da ausência dos militares, ele relatou que durante os dias em que circulou pelo morro ajudando vizinhos flagrou bombeiros sem ferramentas adequadas — e até emprestou as próprias.
“Eu nunca vi bombeiro trabalhar sem material. Já perdi duas pás para eles, porque emprestei e nunca mais voltou”, disse, na quinta (17).
A assessoria de imprensa do Corpo de Bombeiros também negou que militares estejam pedindo apoio de moradores com material:
“A informação não procede. Todos os bombeiros empregados nas operações estão abastecidos de equipamentos de proteção individual e material operacional adequados para a correta e segura execução das atividades”, diz a assessoria.
Em entrevista nesta sexta à TV Globo, o comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Leandro Monteiro, defendeu o trabalho que vem sendo feito pela corporação. Segundo ele, a quantidade de militares (483) é a ideal e, se houver necessidade, haverá pedido de auxílio:
“Peço à população para confiar no trabalho do Corpo de Bombeiros. Nós não sairemos daqui enquanto não diminuirmos o sofrimento dessas pessoas”, afirmou.
Já em entrevista coletiva, também nesta sexta, o governador Cláudio Castro (PL) reforçou que o efetivo é adequado:
“Não adianta ter gente demais aqui. A imprensa tem cobrado que tenha muitas pessoas. Há problema de trânsito, e o terreno está instável. Não adianta querer botar 2.000, 3.000, 4.000 pessoas. Quem manda é a técnica. Não adianta cobrar isso. Esperamos que a imprensa entenda. Quem decide isso são as equipes técnicas”, disse o governador.
Fonte e imagem: UOL (Ricardo Antunes)
Nenhum comentário:
Postar um comentário