Verdade seja dita, o Governo vinha de fato ganhando de goleada, mesmo jogando sem o esperado fair play e contando, sempre que necessário, com uma ajudinha da arbitragem.
Foi assim na campanha de 2018, quando se comprometeu com os projetos apresentados pela Adepol e Sinpol e, mais adiante, já eleito e empossado, jogou uma entidade contra a outra, enterrando ambas as propostas sob a justificativa de que não havia consenso entre as categorias.
Deu-se o mesmo em 2020, quando acenou positivamente para o Projeto de Adicional de Periculosidade, desta feita apresentado conjuntamente pelas duas entidades, para depois das eleições lhe dar igual destino, não obstante o consenso e a plena sintonia reinantes entre os dirigentes sindicais.
Acostumado a passar por cima das categorias policiais sem ter que enfrentar o mínimo constrangimento, o galeguinho não mexeu uma fibra quando viu agigantar-se o Movimento Polícia Unida. Muito pelo contrário, recusou-se a receber suas lideranças ou apresentar uma contraproposta ao pleito comum.
Observadores mais experientes diziam que Belivaldo, como das outras vezes, estava pagando para ver. Mas poucos imaginavam que ele dobraria a aposta ao encerrar, de forma tanto mais desrespeitosa quanto mais abrupta, o processo de negociação intermediado pelo Secretário de Estado da Segurança Pública.
O anúncio do cancelamento unilateral das negociações, feito na noite da segunda-feira, 07, pegou de surpresa as categorias e suas lideranças, que se preparavam para uma reunião decisiva na tarde do dia 08, conforme ficara definido na rodada ocorrida no dia 24 de fevereiro, na sede da SSP.
O golpe foi tão violento e inesperado que, decorridas mais de 24 horas do seu anúncio, ainda era possível ver um certo estupor no semblante das pessoas que aguardavam o avanço das negociações em um ambiente de democracia e transparência.
É vida que segue, dizem alguns resignados diante da nova tragédia. Outros, no entanto, mesmo apunhalados pelas costas, não são tão conformistas a ponto de depor as armas diante de qualquer obstáculo. Para estes, a luta está apenas começando.
Com efeito, nos diversos atos realizados pelo Movimento Polícia Unida, o que mais se ouvia eram as seguintes palavras de ordem: "se não negociar, a polícia vai parar". Eu quero crer que ninguém em sã consciência leva à conta de negociação esse espetáculo de fanfarronices protagonizado pelo Governo.
Daí a pergunta que não quer calar: a polícia está realmente disposta a parar até ser tratada com o mínimo de respeito e dignidade pela Administração ou, como apostou Belivaldo, vai se conformar com as sobras do banquete oferecido pelo governo aos seus eleitos e protegidos?
Com a palavra, as lideranças do Movimento Polícia Unida.
Artigo escrito por Paulo Márcio, delegado da Polícia Civil
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