Pai, ontem acordei quando você chegou e foi ao meu quarto. Ajustou o cobertor sobre mim, afagou-me calorosamente seguido de beijo demorado em minha testa. Enquanto me afagava, ouvi sua respiração ofegante, quando compreendi o quanto estava cansado, o que me fez fingir que ainda dormia. Não queria que se ocupasse de mim, pois precisava do sono reparador. Também percebi o momento em que a mamãe o advertiu sobre o horário em que chegava, vez que já era muito tarde. Como resposta apenas disse “que o serviço assim exigia”.
Tão logo adormeci, ouvi o barulho de ligeira sirene. Era um de seus amigos já o aguardando para o serviço daquela madrugada. Novamente veio ao meu quarto, beijou-me amorosamente e deu para perceber quando murmurou sua oração rogando aos anjos que protegessem a nós e ao nosso lar. Ao fim, ajustou seu colete, as algemas e confirmou se a arma estava confortavelmente em sua cintura. Mamãe o acompanhou até a porta enquanto pedia para que tivesse mais zelo com a sua própria saúde e vida.
Assim vou crescendo, todos os dias vendo você saindo para infindas batalhas de uma guerra que jamais se acaba. Mesmo nos feriados, aos fins de semana e até em meu aniversário o serviço não lhe dá a devida trégua e o direito ao sono tranquilo. O telefone toca e lá se vai você. Se algo de grave acontecer, ninguém lhe pergunta como está nossa família, como se sente, se sua vida também não carece de cuidados. Apenas lhe dizem que está de sobreaviso e precisa comparecer ao local do grave crime ou se faz necessária a sua presença no cumprimento da campana, no mandado de busca ou de prisão. Quando vou para a escola ou à casa de algum amigo, vejo que os seus pais são só deles. Diferentes do meu. Tenho que dividi-lo com tanta gente. Gente que sofre, que pede socorro, que clama por justiça.
Agora que chegou o dia dos pais, quero dar um presente a você, mas que também seja meu. Quero lhe dar meu dia, e um dia de folga para que perceba sua importância em nossa família, onde moramos e em nossa cidade. E finalmente, no seu dia, não quero que seja o herói de todo mundo. Quero que seja apenas o meu herói. Só meu. Quando então haverei de segurar em suas mãos, olhar em seus olhos e dizer devagarzinho para que nenhuma palavra escape aos seus ouvidos e à sua alma:
- Pai, você é muito importante para mim. Faça seu serviço, mas não se mate de trabalhar. Não seja o super-homem, seja apenas homem. Não queira ser o super-herói, seja apenas policial. Não queira tornar-se o mártir. O mundo está cheio deles e, nem por isso, o mundo tem mudado para melhor. Só se arrisque quando nossa família não correr o risco de ficar sem sua presença. Assim terei a certeza que acompanhará minha infância, minha adolescência e maturidade, e eu a sua velhice. Se assim fizer, teremos muitos dias dos pais juntos, quando em todos eles poderei repetir:
Feliz Dia dos Pais.
Uma homenagem do blog Espaço Militar e da ASPRA/SE
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