A velha e histórica caserna que durante décadas testemunhou grande parte da labuta do ilustre policial militar estava em festa. Diante da recepção caloroso dos colegas de farda, a emoção tomou conta do homenageado. O brilho nos olhos de Gomes transmitia a veracidade do seu orgulho de pertencer à Corporação.
No breve e comemorado retorno ao quartel, o icônico sargento transitou pelos andares administrativos da unidade, onde foi impossível não ser tocado pelos aspectos do passado. Certamente o fôlego já não era o mesmo das corridinhas matinais dos bons tempos de CFAP, mas não seria durante um momento tão especial que o cansaço físico adquirido pelas incontáveis horas dedicadas a proteger a sociedade sergipana iria derrotar o nosso bravo guerreiro.
Enquanto subia a série de escadas que interligam os corredores do prédio centenário da Popó – como é chamada carinhosamente a nossa Polícia Militar – , Gomes desdenhava dos momentos difíceis que vivenciou na ultrapassada escala da ‘Pedra’ e na sofrida escala das ‘Cabines’. Naquele instante, porém, o experiente policial militar preferia gozar da maturidade de quem testemunhou a transição para tempos melhores na Corporação.
No desenrolar de uma conversa e outra, Gomes superou mais de cinquenta degraus e quatro passadiços. Ainda que a boa memória trouxesse à tona cada detalhe do local, ele fez questão de deixar-se guiar pela placa de identificação anexada na coluna central da parede, na qual estava escrito Gabinete do Subcomando.
Assim que o eterno soldado abriu a porta de vidro da sala, oficiais e praças o receberam com alegria e entusiasmo. Se os mais experientes, entre eles o subcomandante da Corporação, coronel Rolemberg, externavam grande admiração pelo experiente combatente, os recrutas começavam a entender que estavam diante de um importante capítulo da história da Polícia Militar de Sergipe.
Entre abraços e apertos de mãos, Gomes conversava com amigos de várias gerações e recordava dos momentos inesquecíveis que vivenciou na segurança pública do Estado de Sergipe. Era como se um filme baseado nos mais de 30 anos de serviços prestados à sociedade sergipana passasse na cabeça do lendário militar. Diante de um momento mágico, Gomes lembrou orgulhoso de sua trajetória como soldado, cabo e atualmente sargento da PMSE. Em clima de nostalgia, ele viajou pelas estradas da saudade e retornou para o período em que ingressou na Polícia Militar. “Naquela época, eu não tinha muito interesse em ser policial militar, eu queria mesmo era jogar futebol”, comentou com sinceridade.
Mas o destino tinha outros planos para ele e, felizmente, um oficial da Polícia Militar, que não está mais entre nós, mas na época fazia parte do ciclo de amizade de Gomes, não hesitou em convidá-lo a fazer parte da Corporação. “Vamos para lá, você vai contribuir muito com a Polícia Militar. É uma boa profissão”, incentivou o saudoso tenente Freitas.
Com a motivação do amigo, Gomes prestou concurso público e ingressou na Polícia Militar em outubro de 1981, com apenas 22 anos de idade. Desde então, o militar construiu uma longa e importante trajetória profissional, marcada por sua dedicação e pelo seu carisma incomparável. “A Polícia Militar sempre foi e continuará sendo a minha vida. Foi por meio dela que realizei diversas conquistas. Aqui é o meu passado, presente e futuro”, afirmou entusiasmado o militar.
Gomes atuou na extinta Companhia de Policiamento Escolar e na Companhia de Policiamento Rodoviário. Contudo, foi na Companhia de Policiamento de Trânsito (CPTran) onde ele dedicou quase toda a sua carreira e ficou bastante conhecido pela sua maneira carismática de orientar o trânsito de Aracaju. Passado um longo período, Gomes ainda ostenta em sua farda o distintivo da CPTran, marcado pela presença da águia azul e de asas onipotentes. Daquela época, o sargento Gomes também herdou o codinome que o faria conhecido por grande parte da sociedade sergipana. Até hoje, condutores de veículos que vivenciaram as décadas de 1980 e 1990 preferem chamar o sargento Gomes pelo seu famoso apelido de GUARDA PELÉ.
Mas afinal, como José Gomes passou a ser conhecido como Pelé? Engana-se quem achou que a alcunha vem da semelhança de Gomes com o nosso Rei do Futebol. Na verdade, tudo começou quando os colegas de trabalho viajaram para a cidade de Salvador e conheceram um policial militar baiano chamado Pelé. “As pessoas achavam que eu fazia um trabalho semelhante ao dele e começaram a me chamar de guarda pelé. A minha fama foi aumentando gradativamente, e fiquei conhecido nacionalmente. Cheguei a viajar para os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Fortaleza, com o objetivo de divulgar o meu trabalho”, explicou Gomes.
A verdade é que não importa para Gomes ser chamado pelo seu verdadeiro nome de Guerra ou pelo famoso apelido de outrora. Afinal, o que realmente continua viva na lembrança da população é a maneira peculiar como ele organizava o trânsito nos cruzamentos de Aracaju. Era muito raro ver o PM orientar os motoristas com o soar do apito, item auxiliar para os agentes de trânsito. Ele compreendia que gesticular e conversar com os condutores dos veículos surtia mais efeito.
“Aprendi que quanto mais eu procurava conversar e tratar bem as pessoas era melhor para todo mundo. Não adianta somente multar e muito menos gritar com os condutores. Eu sempre achei que orientar e fazer o trânsito fluir com agilidade era mais proveitoso. As pessoas gostavam de mim e incentivavam o meu trabalho”, afirmou com a certeza de dever cumprido.
O compromisso e o amor pela profissão do policial militar foram reconhecidos por vários comandantes-gerais que passaram pela Corporação, a exemplo dos coronéis Pedro Paulo, Mendonça e o saudoso Hélio Silva. Este último, chegou a realizar uma comemoração de aniversário surpresa, em plena via pública, para homenagear o dedicado cabo Pelé. “Quando assumi o meu posto de trabalho na esquina do QCG, por volta das 7h, não imagina o que estava prestes a acontecer. Os colegas tentaram me distrair e pediram para que eu fosse até uma escola próxima e conversasse com os funcionários, enquanto eles organizavam a festa surpresa. Pouco tempo depois, eu retornei para o meu local de trabalho e lá estava a Banda de Musica da PM, um lindo bolo de aniversário e vários colegas reunidos. Foi emocionante demais”, relatou.
Após diversos relatos, Gomes retornou ao térreo do QCG e, com bastante empolgação, entrou na sala da 5ª Seção do Estado Maior. Nada mais justo e inspirador para oficiais e praças do setor de comunicação social do que contemplar a presença daquele que tanto contribuiu com a boa imagem da Corporação junto à sociedade sergipana.
Ainda que o advento das novas tecnologias da informação não tivesse alcançado a maior parte da sua carreira profissional, Gomes já era considerado um fenômeno no quesito popularidade. Mais do que as ferramentas tecnológicas que lhes faltavam na época, Gomes sabia utilizar o seu enorme carisma, educação, compromisso e orgulho de pertencer à Corporação como as principais propagandas da Polícia Militar.
Todas essas virtudes do nosso homenageado foram testemunhadas pelo atual relações públicas da PMSE, tenente-coronel J. Luiz. O oficial atuou com Gomes na CPTran, ainda como soldado, no ano de 1995, e depois no posto de tenente, em 2004.
“Ele marcou muito a minha vida profissional. Eu costumava observá-lo e pensava: Que bacana ter um policial militar admirado pela sociedade devido a sua maneira especial de orientar o trânsito. Ao longo desse tempo, Gomes vem dando o máximo de si para aproximar ainda mais a Polícia Militar da sociedade”, testemunhou o oficial.
Antes que a corneta anunciasse o fim do expediente administrativo, Gomes agradeceu a recepção e o carinho dos colegas de profissão. Renovado e certo de ter feito a melhor escolha da sua vida, prosseguiu com a sua respeitada trajetória na Polícia Militar do Estado de Sergipe.
“O mais importante para todos nós é a dedicação que devemos ter ao trabalho. Quando gostamos do que fazemos as coisas fluem positivamente. Ao sair de casa, abrace a Polícia Militar como sua profissão”, despediu-se o eterno soldado.
Somos bravos soldados de Sergipe, paz e justiça é o nosso ideal
Fonte: PMSE
Comentário do blog: O blog Espaço Militar parabeniza a PMSE pela brilhante homenagem.
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