terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

SERGIPE DESRESPEITA OS PADRÕES DA ONU E MANTÉM BAIXO EFETIVO NA PM.

Organização das Nações Unidas diz que deve existir um PM para cada 250 habitantes. Realidade aqui é bem diferente

A Polícia Militar de Sergipe possui atualmente cerca de 4,5 mil policiais. Este é uma realidade considerada alarmante para os padrões da Organização das Nações Unidas - ONU -, que afirma que o número ideal de agentes em uma população deve ser de um para cada 250 habitantes. Ou seja, a Polícia Militar deveria ter atualmente cerca de 8.272 PMs. Ainda assim, de policiais que realmente fossem para as ruas, para combater o crime e defender a população.

Afinal de contas, o policial militar fez concurso para ser combatente, ir para a rua e não para proteger prédios e nem servir de cão de guarda para autoridades. Os dados da escassez de gente na PM fazem parte das contas das Associações Militares e condizem bem com a realidade do que é visto nas ruas de Sergipe. Em 2005, já existia uma previsão legal para que a PM local tivesse 7.174 Militares. É bom ressaltar que a PM de Sergipe nunca chegou a esse número.

Curiosamente, de lá para cá, ou seja, após sete anos, a previsão continua a mesma: 7.174. Dos 4,5 mil Policiais Militares existentes hoje, retiram-se daí mil homens que estão desviados de função nos mais diversos órgãos. O Comando da PM reconhece apenas 600, mas existem Militares na Assembleia, com autoridades, na Câmara de Aracaju, no Tribunal de Contas, no Ministério Público, na Prefeitura de Aracaju, inúmeras prefeituras pelo Interior do Estado e pasmem, existe Policial Militar até na Polícia Civil. Dizer que são só 600 é um número baixo, e estranho. Estranho da mesma forma que o Comando da PM diz ter 5,2 mil homens.

A aberração de tirar Policiais da PM e jogar na Civil pode ser comprovada em e-mail que chegou à redação do Cinform, em que a Superintendente Katarina Feitosa solicita que os Militares à disposição da Civil se apresentem ao Comando da PM para o trabalho no Pré-Caju, sob a pena, pasmem, de retornar às funções na Polícia Militar. Dos 3,5 mil Militares na PM que restam, cerca de 700 por mês que, por direito, entram em férias, licença especial, maternidade, paternidade, luto, prisões, entre outras inúmeras atividades que os afastam da prática.

Em toda essa matemática, restam apenas 2,8 mil Policiais Militares para cumprir escala. Ou seja, para colocar o coturno, empunhar o 38 e bater de frente com a bandidagem na defesa da população. Logo, diariamente cerca de 800 homens e mulheres estão nas ruas de Sergipe para lutar contra o crime. Dá para entender a crueza dos números? "Aí está o motivo de desgaste da tropa com a sociedade: como fazer policiamento ostensivo com um número tão reduzido de homens?", indaga o Sargento Edgard Menezes, Vice-Presidente da Associação dos Militares de Sergipe - Amese.

ESCRAVIDÃO

Na previsão de cobertura da Polícia Militar de Sergipe, existem 5 mil festas programadas para este ano, sendo 52 só para o mês de fevereiro. Até o final do ano, já existe a previsão de aposentadoria de mais 600 homens. "É ou não é complicado para o policial militar já cumprir escala e no momento de folga ainda ter de trabalhar? O policial também não merece descanso e lazer?", questiona o Presidente da Amese, o Sargento Jorge Vieira.

E quem é o maior prejudicado com isso? Certamente, o povo. Para o Professor Douglas Menezes de Araújo, morador do bairro Pereira Lobo, o policiamento ostensivo de Aracaju deixa a desejar. Para ele, os antigos boxes e módulos policiais deveriam ser reativados. "Deveria ter um box ou módulo policial aqui no bairro. Assim os Policiais poderiam fazer ronda a pé. A polícia precisa se fazer presente", afirmou. Ele está certo.

Douglas Menezes disse ainda que o modelo de Polícia Comunitária deveria ser melhor repensado. "A PM deveria trabalhar em parceria com a comunidade", cobra. Quando apresentado ao número de policiais, Douglas Menezes afirma que o Governo teria obrigação de ver melhor o "material humano". "O Governo deveria investir mais em nossos policiais, promovendo cursos, além de dispor melhor estrutura, como também propiciar à polícia um trabalho mais favorável", disse.

JOGO DE INTRIGAS

O Jornalista Octávio Ferreira, morador do bairro Luzia, acredita que o policiamento da sua região melhorou, mas depois de inúmeros assaltos acontecerem. "Enfrentamos um sério problema com os jovens consumindo drogas em nossas praças. Por isso precisamos cada vez mais de Policiais realizando rondas", disse. Sobre o pouco efetivo, o rapaz diz que a solução imediata seria o concurso público.

"Acredito que um concurso para ingresso na Polícia Militar já deveria ter sido feito. Uma vez que existe uma crescente necessidade, em especial para atividades de campo, a fim de inibir crimes como o crescente tráfico de drogas", afirmou Octávio Ferreira.

Para a estudante de Direito Géssica Mell, moradora da Farolândia, a questão do desvio de função na polícia é antiga e nunca será resolvida. "As pessoas não aceitam mais apenas pão e circo, ou salário e circo. O que precisa ser resolvido é o problema da questão de desvio de função. É antigo e, para ser sincera, não acredito que vá acabar. Eles fomentam o lobby político entre outras relações "típicas" da politicagem", explicou.

Géssica Mell não acredita que seja um simples jogo do Governo ao se criar um certo impasse sobre bons salários, pouco efetivo e pouco policiamento. Já que o Governo diz que paga bem, a polícia diz que é mal estruturada e sem efetivo e o povo diz que não vê a polícia na rua.

Fonte: Cinform (Fábio Viana)

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